A avenida Paulista, centro financeiro do Brasil, está no coração de todos os paulistanos. Nesta avenida encontramos também muita cultura disponível para a população em locais consagrados como o MASP, Casa das Rosas, Itaú Cultural e até o Conjunto Nacional. Destes a Casa das Rosas nos remete para a arquitetura paulistana do início do século XX que ainda sobrevive. Eram grandes palacetes onde famílias tradicionais residiam com o todo esplendor que esta avenida proporcionava.
A partir da década de 1960, a avenida Paulista se transformou. Casarões e palacetes começaram a dar lugar a grandes empreendimentos e assim, a selva de pedra paulistana se fortaleceu cada vez mais. A especulação imobiliária da avenida fez crescer uma tendência arquitetônica que estava prontamente presente na cidade: o brutalismo.
Palacetes virando prédios, árvores dando lugar ao concreto. A paisagem singular da avenida Paulista começou a dar espaço a novas edificações e, definitivamente, a mais paulistana das avenidas morreu e renasceu como outra mais moderna, com novas tendências arquitetônicas que favoreciam a especulação imobiliária. Daquela época, poucos exemplares sobreviveram como a já citada Casa das Rosas, último projeto arquitetônico assinado por Ramos de Azevedo e destinado para ser a moradia de uma das suas filhas, alem do Palacete de Joaquim Franco de Mello. Em 2,8 km de avenida, a Paulista possui apenas 5 imóveis tombados.
A realidade poderia ser diferente. A Paulista comportava alguns imóveis antigos até a década de 90 como a casa de René Thiollier. Conhecida como Vila Fortunata, foi palco de grandes acontecimentos históricos. Nesta Vila nasceu o famoso paisagista Burle Marx e também era muito freqüentada por vários modernistas. A trajetória de René Thiollier nesta avenida foi totalmente apagada já que a casa foi demolida e em seu terreno foi implantado recentemente o Parque Mário Covas. O respeito à memória de Thiollier passou longe aos olhos da população.
Outro grande exemplo é o da Família Matarazzo que residiu na Paulista da década de 1920 até os anos 1970. A trajetória desta família está ligada ao desenvolvimento econômico do Estado de São Paulo remetendo a cidade de Sorocaba, a primeira residência de Francisco Matarazzo. Lá ele iniciou sua grande trajetória e chegou a ser o maior empresário do nosso país. A decadência das Indústrias Reunidas Fábricas Matarazzo (IRFM) começou a ocorrer na década de 1970. Vários patrimônios industriais estão abandonados até hoje.
Na década de 1990 a mansão da família Matarazzo estava fechada. A prefeita da época, Luiza Erundina decidiu criar o Museu do Trabalhador, pois o local era adequado, as salas eram espaçosas e o local de fácil acesso. Uma singela homenagem para aquele que foi o pioneiro industrial de São Paulo.
Contudo, em 1996, mais um ataque brutal ao patrimônio histórico ocorreu aos olhos das autoridades que nada puderam fazer. A célebre mansão da família Matarazzo foi dinamitada e sua demolição tornou-se inevitável, já que a estrutura ficou abalada. O pedido de tombamento que tinha mais de 20 anos foi oficialmente cancelado este mês pelo CONPRESP (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico).
O terreno foi transformado em um amplo estacionamento que estão com os dias contados. Seu local abrigará uma torre comercial com shopping center e estacionamento. Entretenimento, comércio, cinemas darão continuidade ao progresso da cidade que não dorme. Sem contar o caos que ficará na região.
No terreno ainda resiste o jardim de inverno e uma sauna abandonada. Bancos que serviram de descanso para a família Matarazzo ainda persistem nadando contra o fluxo do progresso. As árvores certamente estão com os dias contados.
Existem dois tipos de tombamento. O tombamento total do imóvel e o parcial que destina a preservação de algumas partes do imóvel. Observe o que ainda resta da mansão do Matarazzo e responda: Será que existe a potencialidade de tombamento parcial? Secretaria Municipal de Cultura afirma que “não haveria mais nada a ser preservado naquela área”. Será mesmo?
Atualização 24/05/2011:
O pouco que ainda restava da belíssima mansão foi abaixo, infelizmente a cidade perdeu um pouco mais de suas referências históricas para dar lugar a mais um empreendimento imobilário, que faz sangrar ainda mais a memória paulista.
No link abaixo, as fotos derradeiras do que ainda restava da mansão:
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