A famosa Avenida Paulista já foi num passado distante o endereço residencial dos ricaços paulistanos. Era uma época em que esta via não tinha o trânsito congestionado dos dias atuais e que no lugar de grandes edifícios abrigava boa parte das mais elegantes residências da cidade.
Das dezenas de residências luxuosas e elegantes que haviam nesta avenida, apenas algumas poucas resistem bravamente ao tempo e a especulação financeira, como a Casa das Rosas e o tão abandonado Palacete Franco de Mello.
Localizado no número 1919 da Avenida Paulista, o palacete também é conhecido como “Residência Franco de Mello” e hoje é o último exemplar ainda em pé da primeira fase residencial da avenida, período compreendido entre 1891 e 1937.
Construída em 1905, a residência é obra do construtor português Antônio Fernandes Pinto e encontra-se em um belo terreno ajardinado de 4720m². Sua fachada é de arquitetura eclética e possui influências francesas do período de Luís XV nos enfeites do frontão e no caixilho das janelas, além de uma mansarda renascentista. Em seu interior há um total de 35 cômodos.
Joaquim Franco de Mello, que dá nome ao casarão, foi coronel e rico agricultor que entre outras atividades fundou uma cidade no interior paulista, dando a ela o nome de sua esposa, Lavínia. No imóvel, Franco de Mello residiu com sua mulher e seus três filhos, Raphael Franco de Mello, Rubens Franco de Mello e Raul Franco de Mello.
Apesar da bonita história envolvendo o imóvel, hoje a situação da velha mansão não tem nada de bela. Tombado pela esfera estadual (Condephaat) em 1992 o imóvel passou a ser palco de uma disputa entre seu proprietário, Rubens Franco de Mello, e o governo paulista.
No início de 2000, ele entrou com uma ação contra o Estado pedindo uma indenização pelos prejuízos causados a ele pelo tombamento. Em agosto do mesmo ano o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) aceitou a solicitação de Franco de Mello e condenou o Estado de São Paulo a pagar ao herdeiro do palacete uma indenização de 55 milhões de reais, por conta dos prejuízos sofridos por ele em decorrência do tombamento do imóvel. No entanto, o governo paulista foi ao Supremo Tribunal Federal (STF) e recorreu da ação.
Desde então, o imóvel sofre duramente como consequência da disputa judicial entre os dois lados, sendo que aparentemente o dono do palacete parece ser perseguido pelo poder público. Qualquer coisa que os proprietários tentam empreender no local logo é suspensa. Foi assim com um estacionamento na área em volta do imóvel, com a boate que operou no palacete, com o Mundo Mix e até mesmo com uma feira de animais.
E enquanto isso, o Palacete Franco de Mello vai se deteriorando cada vez mais. Há anos não recebe pintura, uma vegetação já aparece nas paredes do imóvel, fruto de inúmeras infiltrações e há diversos vidros quebrados.
Somos defensores da preservação e do patrimônio histórico, mas temos que ser conscientes de que é preciso haver uma política mais séria e consistente em torno dos bens tombados na capital paulista.
É inegável que este imóvel é um bem histórico da Cidade de São Paulo e precisa ser tombado e preservado. Mas não é possível que seus proprietários sejam reféns de seus imóveis e de uma política de preservação arcaica e arbitrária. Tão logo qualquer imóvel seja tombado o poder público precisa dar uma rápida destinação ao mesmo e caso a família não possa arcar, que seja indenizada com valores justos.
Da forma em que está, não é nem para o governo e nem para os herdeiros. E ainda menos para a municipalidade, pois o bem vai se deteriorando e pode até vir a ruir, com prejuízos inestimáveis e irrecuperáveis à cultura e a memória da nossa cidade.
Confira mais fotos do palacete (clique na miniatura para ampliar):
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