Cine Universo

Hoje em dia totalmente esquecidos e preteridos pelas salas dentro de shopping centers, os cinemas de rua eram até o final da década de 1970 a melhor maneira de se assistir a um filme. Seja do distante bairro de Guaianases ao centro da cidade não faltavam salas de exibição próximas das pessoas. Entre os bairros mais dotados de cinemas na primeira metade do século 20, o populoso e agitado Brás era o mais bem mais servido da cidade.

E foi no finalzinho da década de 1930 que o mesmo Brás recebeu aquele que por muitos anos ostentou o título de maior cinema da América do Sul: o Cine Universo.

Correio Paulistano – Edição de 7/4/1939

Projetado pelo renomado arquiteto paulistano Rino Levi o Cine Universo era inicialmente de propriedade da Companhia Paulista de Cinemas, donos de diversas salas em São Paulo, e era administrado pela Empresa Serrador, do empresário hispano-brasileiro Francisco Serrador Carbonell. Seu grupo gerenciava diversos cinemas na cidade na época de inauguração do Universo, entre eles Odeon, Bandeirantes, Broadway e o Alhambra.

A fachada do Cine Universo em 1939, poucos dias após a sua inauguração (clique para ampliar)

Inaugurado em 8 de abril de 1939 o Cine Universo foi imediatamente um grande sucesso. Chamava a atenção do público não apenas pelo seu tamanho e por seu sistema de ventilaçãoã, como especialmente por seu teto móvel, que permitia que uma parte do público (de um total de 4500 lugares) pudesse contemplar o céu enquanto assistia a um filme.

Marlene do Nascimento, 76 anos, a mãe de quem escreve este artigo, conta que já bem pequena ia com frequência ao Universo levada por seus pais e irmãos mais velhos para assistir a filmes do Tarzan. Segundo ela a abertura do teto era uma atração à partem especialmente nas sessões noturnas.

O teto móvel do Cine Universo aberto (clique para ampliar)

Logo na entrada do cinema, voltado para a avenida, existia tabacaria com doceira e café, sala de espera e dois outros pontos que eram disponíveis para locação. De acordo com uma matéria publicada em jornal da época, em 1946, os espaços eram bastante concorridos e raramente ficavam vazios.

A planta do Cine Universo foi projetada de maneira bastante versátil, com a sala de exibição projetada da metade para frente do lote o que permitiu décadas mais tarde uma grande reforma, de arquitetura controversa, que incluiu a construção de um edifício residencial e a transformação da parte dianteira do saguão em uma galeria comercial, que à sua maneira se mantém até os dias atuais.

Nesta fotografia exclusiva, de 1981, o espaço já bastante descaracterizado e um tanto deteriorado (clique para ampliar)

A decadência dos cinemas de rua também atingiu ao Universo, tal qual a totalidade das diversas salas concorrentes próximas, que igualmente perderam público e começaram a ficar desatualizados, velhos e com exibição atrasada de lançamento, excesso de reprisas e em alguns casos, a mudança para filmes eróticos ou pornográficos. O Cine Universo encerraria suas atividades de vez no início da década de 1980.

Posteriormente o cinema trilhou o mesmo caminho que inúmeras outras salas de cinema de rua espalhadas por São Paulo e Brasil afora, virando igreja evangélica. Atualmente o espaço é ocupado pela Igreja da Plenitude do Trono de Deus. Quanto ao teto móvel há muito tempo foi fechado, enquanto a bela estrutura onde ficava o luminoso escrito “Universo” (veja a foto na galeria) fora demolida. Lamentável.

A seguir você confere um comparativo entre a fotografia de satélite de 1958, do site Geoportal, e a imagem atual feita pelo Google Earth. Reparem que na primeira é bem visível o teto móvel enquanto na segunda ele já está fechado de vez. Na primeira imagem ainda não existia o Condomínio Cine Universo.

clique para ampliar

GALERIA DE FOTOS – CINE UNIVERSO:

SHOW DE ROBERTO CARLOS:

Nota sobre o show de Roberto Carlos no Cine Universo no jornal Folha de S.Paulo (edição de 17/4/1966)

A relevância e o charme do Cine Universo no cenário dos cinemas de São Paulo pode ser medida por um show de única apresentação realizado pelo cantor Roberto Carlos. O cinema foi o escolhido para receber o show de aniversário do Rei, realizado na tarde de 17 de abril de 1966, dois dias antes do aniversário do músico.

Minha mãe também esteve presente neste espetáculo, tinha 19 anos, e conta que o Brás parou para receber Roberto Carlos. Conta também que nesta época o teto já não abria mais. Do Cine Universo o Rei partiu direto para o aeroporto de Viracopos de ontem embarcou para Portugal onde realizaria alguns shows.

PLANTAS E PROJETO:

Dados do Cine Universo:

Inauguração: 8 de abril de 1939
Arquiteto: Rino Levi
Capacidade: 4500 pessoas
Endereço: Avenida Celso Garcia, 380 – Brás
Ocupação atual: Igreja evangélica

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Palacete Andrioli

O Palacete Andrioli é uma das mas belas construções antigas do Brás. O imóvel foi erguido no início do século 20 por Gabriel Andrioli.

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Respostas de 4

  1. Se por um lado é lamentável a descaracterização do edifício do Cine Universo, por outro lado seria difícil vê-los em atividade hoje em dia, sendo que se assim estivessem estariam decrépitos e decadentes como já estava na época do fechamento, sendo apenas uma caricatura e uma pálida sombra do que foram um dia.

  2. Dos bairros centrais de São Paulo, o Brás é um dos mais castigados com o descaso e a ignorância.

    1. Creio que o centro expandido como um todo está abandonado, e o centrão então nem se fala.

  3. Eu sou cinéfilo, desde criança, e se já me dói ver a destruição de imóveis antigos, é ainda pior ver que os grandes cinemas foram entrando em decadência, e muitos virando salões de igrejas evangélicas (sendo que muitos de seus donos não priorizam a fé em Deus, mas tão somente o lucro obtido através de dízimos).
    Ir ver filmes nos anos 1970 era um evento de finais de semana, para passear com a família, ou então, para ir nas férias, nos dias úteis, e pegar salas mais vazias.
    Em tempos mais atuais, nos shoppings, presenciei turmas de adolescentes fazendo bagunça dentro da sala, obrigando uma espectadora a chamar o gerente, e outros absurdos, como pessoas atendendo o celular durante a sessão. Deixei assim, para ver filmes em casa, a tela é menor, mas o conforto é maior.

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