Garagem da Rua Fortunato

No começo do século 20 ter um automóvel em casa era um privilégio para poucos paulistanos. Basicamente importados da Europa ou dos Estados Unidos e transportados para o Brasil em navios à vapor que não eram necessariamente rápidos, chegavam por aqui custando uma verdadeira fortuna.

Alguns veículos começaram a ser montados no país nos anos 1910, especificamente pela Ford, que trazia seus veículos prontos, porém desmontados. Eles eram finalizados em seu galpão de Santa Ifigênia e, mais tarde, na fábrica no Bom Retiro.

Exposição de veículos no Palácio das Indústrias (anos 1920)

É na década de 1920 que os automóveis se popularizam pra valer em São Paulo com cada vez mais carros à venda e junto toda uma série de comércios ligados à veículos, como lojas de peças, de pneus, postos de combustíveis e, claro, garagens.

O serviço de garagem surgiu aos montes na capital paulista principalmente pelo fato de que muitas das casas paulistanas não tinham garagem próprias para acomodar seus veículos, necessitando assim recorrer a espaço de terceiros. Além disso nas primeiras décadas do século 20 muitos carros eram montados com carrocerias conversíveis (veja foto que abre este artigo) o que deixava o interior do veículo mais vulnerável a intempéries e, obviamente, furtos.

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Inaugurada em 1927 a garagem da foto acima está localizada no número 109 da Rua Fortunato, no bairro de Santa Cecília. É uma das várias garagens que foram abertas nas primeiras décadas do século passado na região central da cidade. Muitas eram localizadas na região de Santa Ifigênia e Brás, mas Santa Cecília com grande número de residências não ficou atrás.

Nas garagens não apenas se guardavam os veículos mas também fazia-se funilaria e pintura, reparos mecânicos, lavagens e até abastecimentos, uma vez que os postos de combustíveis não eram ainda regulamentados e haviam bombas individuais instaladas em alguns pontos da cidade.

Não é possível precisar até que ano este espaço funcionou como garagem de veículos, entretanto em meados dos anos 1960 este galpão na Rua Fortunato era alugado para uma indústria chamada Fábrica Matheus Ltda. Posteriormente, em 1987, o imóvel então vazio foi alugado para uma conhecida concessionária de veículos da Chevrolet, a Itacolomy, que passou a usar o local para os serviços de funilaria e pintura.

Nota da Itacolomy em jornal de grande circulação

Posteriormente com a saída da oficina da concessionária de veículos do galpão o imóvel voltou a funcionar como garagem, porém hoje em dia acostumamos a chamar de estacionamento. Até hoje o local funciona com vagas para mensalistas e avulsos.

Sobre a propriedade do galpão ele pertenceu aos donos originais até os primeiros anos do século 21, quanto foi vendido para uma importante empresária da região de Santa Cecília, filha de um famoso cantor falecido.

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O imóvel apresenta-se em estado regular de conservação e merece uma atenção maior na fachada, uma vez que nela está um adorno que sobrevive desde sua construção, que é uma roda com pneu acrescida do ano de inauguração do galpão. Que tal uma pintura ali ? Não custa grande coisa e agrega valor à construção.

CURIOSIDADE:

Nas décadas de 1920 e 1930 o trânsito já começou a ser um grande problema na capital paulista com um grande número de carros estacionados nas ruas da região central, congestionamentos e acidentes. Uma das saídas pensadas na época foram as garagens subterrâneas.

O artigo abaixo, da década de 1920, publicando em um extinto jornal paulistano, cita a provável construção dessas novas garagens subterrâneas em locais da região central como a Praça da Sé. Evidentemente elas não saíram do papel, mas se tivessem saído teriam mudado a história da futura Estação Sé do Metrô.

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