Rita Lee e as casas que passaram em sua vida

Em 8 de maio de 2023 a cantora Rita Lee nos deixou. Uma grande artista que marcou o cenário musical brasileiro com seu talento e irreverência, que sobretudo sempre deixará saudades em especial ao seus fãs paulistanos, uma vez que ela era paulistana de nascimento e de coração.

Nascida em 31 de dezembro de 1947, no apagar das luzes daquele ano, Rita Lee era filha de um casal bem peculiar: o pai, Charles Fenley Jones, era descendente de estadunidenses e a mãe, Romilda Padula, descendente de italianos. Neste artigo vou me ater apenas ao lado paterno de sua família.

Rita Lee está no centro da foto, ladeada pelos seus pais Charles e Romilda e a irmã Virgínia. Ao fundo sua irmã mais velha, Mary.

FAMÍLIA CONFEDERADA

Podemos dizer que se não fosse a derrota confederada na Guerra da Secessão possivelmente Rita Lee jamais teria nascido. Isso porque a cantora tem como ponto vital a vinda para o Brasil de um militar que foi derrotado no conflito estadunidense: o Tenente Robert Cicero Norris.

Nascido no estado do Alamaba, Norris ingressa no exército confederado em 1861 primeiro ano do conflito, sendo que no início de 1865 é detido com vários outros oficiais sulistas e aprisionado no Forte Delaware até o final da guerra.

Robert Cicero Norris

Tão logo é libertado decide deixar os Estados Unidos e rumar para o Brasil, destino de vários outros estadunidenses sulistas que viam no nosso país, ainda escravocrata, a grande oportunidade de uma nova e próspera vida. Aos 28 anos Norris chega ao porto de Santos e ruma ao interior paulista, estabelecendo moradia na região de Campinas onde hoje estão Americana e Santa Bárbara d’Oeste.

Nesta citada região paulista os imigrantes dos Estados Unidos compraram terras e prosperaram, abrindo diversos negócios e fincando de vez as raízes em São Paulo. Aqui Norris conhece outra imigrante americana, Martha Steagall, com quem se casa e juntos tem dez filhos, entre elas Martha Whitaker Norris, a futura avó de Rita Lee.

A casa dos avós de Rita Lee em Americana, no ano de 1930 (clique para ampliar)

Ainda sem se misturarem com brasileiros ou outros imigrantes da região, como os italianos, Martha se casa com outro estadunidense que mudou-se para o Brasil, Cicero Byrd Jones, originário do Alabama e que juntos vão ter 9 filhos, entre eles aquele que no futuro será pai de Rita Lee.

A VIDA NA CAPITAL PAULISTA

Os filhos Cicero e Martha já não seguem a tradição dos pais e avós de se casarem com originários dos Estados Unidos. Eles se casam com brasileiras e imigrantes de outras nacionalidades sendo que um deles, Charles Fenley Jones, casa-se com a filha de imigrantes italianos Romilda Padula. Juntos eles tem três filhas Virgínia, Mary Lee Jones e Rita Lee Jones, a terceira todos nós sabemos de quem se trata.

Casados Romilda e Charles, este um cirurgião dentista, estabelecem-se no bairro de Vila Mariana precisamente na rua Joaquim Távora onde Rita Lee vive da infância até a adolescência.

A casa onde a família Jones morava não existe mais, foi demolida algumas décadas atrás após ser vendida junto com algumas outras casas vizinhas para o Pontifício Instituto das Missões (PIME) que ergueu um edifício para suas atividades no local. Abaixo uma fotografia do velho sobrado onde Rita residiu, com a famosa pichação no muro.

A casa da família de Rita Lee na rua Joaquim Távora, Vila Mariana (clique para ampliar)

Outra casa que foi bastante importante para a vida da cantora está localizada no número 408 da rua Venâncio Aires, na Pompeia. Foi nesta casa onde nasceu em 1966 o conjunto Os Mutantes, banda na qual Rita Lee teve participação em cinco álbuns, antes de ser expulsa em 1972.

O bairro, entre outos da capital paulista, era sempre lembrado pela cantora, como na canção “Orra meu” onde ela diz “Pego na guitarra e não largo até a Pompeia gritar“.

Na foto a casa onde a banda ‘os Mutantes’ nasceu, na Pompeia (clique para ampliar)

Abaixo duas fotografias de Rita Lee em diferentes momentos de sua vida. Na primeira imagem, de meados da década de 1960 a cantora está pendurada junto ao portão da casa de seus pais, na Vila Mariana. Já na segunda imagem, de 1987, ela está junto à bandeira confederada dos Estados Unidos. Atualmente esta bandeira é vista como símbolo de opressão e escravidão, tendo sido retirada de diversos locais e repartições públicas estadunidenses.

Nota:

Ao contrário do que muitos portais de notícias e jornais reportaram no dia da morte de Rita Lee e nos dias seguintes, seu pai, Charles Fenley Jones, apesar do nome não é estadunidense. Ele é brasileiro, natural da cidade paulista de Santa Bárbara d’Oeste.

Agradecimento:

Ao querido Victor que faz um trabalho excepcional de colorização de imagens antigas e que foi o responsável em dar cores à foto da cantora Rita Lee no portão da casa dos pais. Você pode conferir o trabalho de na página Colorindo História, disponível no Instagram e no Facebook.

Curiosidade:
Se você telefonar para a casa de Rita Lee na época em que ela vivia com seus pais na rua Joaquim Távora, o número de telefone da residência era: 70-3487. Conforme consta na lista telefônica de 1963:

Artigo atualizado em 22/6/2023 – Inserida página da lista telefônica

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8 respostas

  1. Ao contrário do que diz a matéria, Rita Lee era a terceira filha, a caçula, conforme mostra a foto. A segunda, é Virgínia Lee, a última viva da família Lee.

    1. Esqueceu da Virgínia Lee.
      O texto dá a entender que os americanos vieram porque aqui ainda se praticava a escravatura. Eles vieram devido ao grande incentivo de D. Pedro II para desenvolvimento do plantio de algodão e da indústria de tecidos e nunca tiveram, nenhum deles sequer, escravos bo Brasil.

    2. Parabéns pela matéria, pouco que conheço da bela São Paulo, incrível sua juntada de arquivos.
      Bela meu.
      Abraço.

  2. Os mutantes fabricavam equipamentos musicais lá na Pompéia. Fui com meu irmão , q tinha uma banda comprar um pedal Wah Wah q eles fabricavam . Ele acabou conhecendo um pessoa q trabalhava com ele , o Bororó, um guitarrista à la Jimmy Hendrix q junto com amigo dele , baterista, Tibério tocaram juntos nos 70…

  3. Douglas, parabéns pelo trabalho! Resido na Vila Mariana, bem entre as Ruas Joaquim Távora e Pelotas, perto da igreja da França Pinto (onde ela vatizou os filhos e fez 1a comunhão) e da Escola Pasteur. Mas você tem uma foto da casa da Rita Lee em que ela morou na Rua Pelotas?

    1. Eu morei vários anos na casa da rua pelotas onde a Rita Lee morou. Fica no numero 491. A faxada é um simples portão de garagem sem interesse. Depois da garagem tem um grande jardim e uma casa antiga no meio. No subsolo tinha un estúdio e no fundo o local onde ela tinha, se não me engano, duas onças. Quand chegamos a casa estava abandonada. Ela foi reformada completamente. Depois houve outros locatários que tb realizaram reformas

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