Um assunto recorrente aqui no São Paulo Antiga são as passarelas ferroviárias. Construídas ao longo das principais linhas férreas da capital e também das vizinhas atendidas pelos trens, são todas em um único estilo e construídas com apenas dois materiais, o ferro e a madeira.
Infelizmente a grande maioria destas passarelas estão deterioradas. Curiosamente, uma das mais preservadas está fechada para os pedestres.
Construída há cerca de um século, a passarela ferroviária da foto acima ligava a Lapa de baixo, a partir da rua Antônio Fidélis, até uma área do bairro que costumo chamar de “Lapa do meio”. Esta parte intermediária da Lapa, entre as duas “outras Lapas” e à direita da Vila Anastácio, desde que foi construída pela São Paulo Railway só era acessível para os trabalhadores da ferrovia (atual CPTM).
Os mapas abaixo, respectivamente de 1924 e 1951, mostram como era a região em outras épocas:
Isso se devia ao fato de que ali ficavam as antigas oficinas da São Paulo Railway e permitia que os funcionários que estavam na parte baixa da Lapa atravessassem as linhas férreas e chegassem até o local de trabalho.
Já os funcionários que vinham da parte alta da Lapa ou de outras regiões, acessavam as oficinas através de outra entrada, que era acessível pela antiga Avenida Speers (leia a nota*1), passando hoje pelo pequeno túnel que dá acesso a região da Vila Anastácio a partir da rua Gago Coutinho.
Nota*1 – A Avenida Speers foi alguns anos mais tarde renomeada para Estrada de Campinas e posteriormente renomeada novamente, desta vez para Avenida Raimundo Pereira de Magalhães nome que é mantido até os dias atuais.
Com o fim da São Paulo Railway, as oficinais passaram a atender a Fepasa e posteriormente a atual CPTM. Também nestas oficinas hoje estão de um lado a fábrica de trens da Alstom e do outro uma área da Mendes Júnior (foto acima). Outra curiosidade é que no passado, quando tudo era levado e trazido por trens, armamentos eram enviados até esta região, com destino o 21º Depósito de suprimentos do Exército, até hoje instalado na Vila Anastácio.
O fechamento da passarela se deve possivelmente pela área ter sido dividida entre CPTM, Alstom e Mendes Júnior. Desta maneira as empresas conseguem manter a privacidade e o acesso restrito em suas áreas, o que é até compreensível. Na foto abaixo, da rua William Speers, observe a parte do muro que é mais nova, feita de blocos e destoante da arquitetura do restante do muro. Era neste ponto a entrada da passarela.
Infelizmente, desde que a passarela foi desativada, o local só veio a degradar. Não é raro pessoas descartarem lixo ou entulho por ai a esquina com isso raramente está limpa. Nem mesmo a Mendes Júnior que opera por trás destas paredes faz uma boa limpeza na área externa de sua propriedade.
Até pouco tempo atrás a rua era pouco agradável visualmente, com a existência do enorme muro da ferrovia. Há alguns anos a CPTM iniciou um bom trabalho de remoção dos muros em boa parte de sua linha férrea, como nas regiões de São Miguel, Cangaíba e na própria Lapa de baixo.
Essa remoção dos muros e sua substituição por grades trouxe muito mais harmonia e luminosidade para a rua William Speers, que é a continuação da rua Antônio Fidélis, já que agora ela pode “conversar” com a ferrovia.
Estas passarelas ferroviárias são parte integrante do nosso rico passado ferroviário e felizmente estão ai até hoje. Mas é uma pena que as que são acessíveis ao público estão sempre mal conservadas, em parte por parte dos próprios usuários que fazem muitas vezes suas necessidades nestes locais. Na passarela da rua Visconde de Parnaíba, no Brás, parte da estrutura foi completamente corroída pela urina.
E você utiliza ou já utilizou alguma dessas passarelas ? Qual ? Deixe um comentário.
Conheça as demais passarelas já catalogadas:
- Passarela da rua Visconde de Parnaíba (Brás)
- Passarela da rua da Mooca (Mooca)
- Passarela e Estação de Cubatão
- Passarela e Estação de Campo Grande (Paranapicaba/Santo André)
Veja mais uma foto:
Respostas de 12
Arquitetura em ferro abandona…lugares degradados ….um descaso !!!
A passarela do Brás eu já usei uma vez e horrível o cheiro de urina fora o medo de ser assaltado
Trabalho na anhembi morumbi no bras, na rua dr almeida lima, onde tem uma passarela que sai perto do museu da imigração, lá é aterrorizante de passar, há muitas fezes, urina e mendigo. Porém, é muito interessante ver e imaginar como era tudo aquilo antes de tanta depredação.
Falamos dela aqui no site, veja o link neste mesmo artigo aqui. Lá é realmente complicado…
Já cruzei essa passarela, há três anos, em uma visita ao pátio da Lapa. Fotografei vários carros lá abandonados, mas não me passou pela cabeça fotografar a passarela… 🙁
Existe uma também na estação do Jaraguá
É no mínimo curioso que o entorno dos locais por onde os trens passam é bastante degradado, como se fosse uma terra estéril. Qualquer medida de revitalização da cidade passa obrigatoriamente por recuperar todo o entorno das linhas férreas, que mais parecem cidades fantasmas.
Às vezes eu acho que a intenção de quem detêm o poder (e não só os políticos) é acabar com os pequenos prazeres da vida do caboclo, eu nem sei se isso que eu vou dizer tem a ver com o post, mas primeiro os caras fizeram as cervejas com milho transgênico em vez de malte como era antes, depois tentaram acabar com os carros antigos através de um absurdo chamado CONTROLAR, atualmente entupiram de placas de 50 Km/h e radares (abraço “Radard”) que simplesmente fazem o caboclo andar com o carro quase parando sem nem dar uma chance para que alguém dê sequer uma esticadinha na marcha do carro para testar a performance do mesmo (não estou dizendo tirar racha nas ruas o que é ilegal, mas sim somente dar uma corridinha como tira gosto) mais recentemente teve o escândalo do futebol da CBF (que também acabou com alegria de quem curte futebol) e agora os caras estão cada vez mais e mais eliminando qualquer traço da São Paulo de antigamente para que ninguém sequer se lembre de como a cidade era menos hostil há tempos atrás, com tudo isso acontecendo, vai chegar uma hora que teremos uma legião de autômatos que não vão ter prazer nenhum na vida, simplesmente vão cumprir ordens, abaixar a cabeça e dizer amem.
Do que adianta ter carros possantes velozes e andar a 50Km por hora
Fiquei muito feliz ao ler a reportagem sobre a Lapa ,sou moradora da Lapa de Baixo a mais de 55 anos
meu avô paterno foi funcionário das Industrias Martins Ferreira e meu avô materno foi uns dos fundadores do cemitério da Lapa o mais conhecido por Goiabeira , Antonio Pereira Marques .Voltei no tempo .
Olá Douglas. Essa passarela nunca foi pública, como as passarelas anexas às outras estações de estilo britânico, ainda em operação ao longo da Santos Jundiaí. Ela foi construída para facilitar o acesso dos funcionários às oficinas da SPR e para os familiares dos funcionários que residiam nas duas vilas de casas ferroviárias existentes, tanto no pátio de descida quanto no de subida da Lapa. Todas essas casas, tem o endereço da Rua Antônio Fidélis, variando o número da casa com o complemento “pátio da Estação Lapa”. Apesar da aparência, ela não está tão abandonada e sua estrutura sofre reparos constantes. Também é utilizada frequentemente por todos os funcionários da CPTM que trabalham neste pátio (entre eles, este que vos escreve) na hora do almoço, pois a Lapa de baixo tem mais opções de restaurantes que a Lapa “de cima”, isso em função dos escritórios da Polícia Federal, e-business, Siemens e Alston, entre outras grande empresas sediadas nas imediações.
Última correção, as oficinas da Lapa nunca foram da FEPASA. Após a encampação da SPR em 1946, as linhas e suas instalações passaram para a União Federal, que criou a EFSJ que, em 1957 passou a incorporar o patrimônio da RFFSA. A FEPASA ficava ao lado, na linha junto à rua John Harrison, mais ao sul. Então, as oficinas e instalações da CPTM são originárias da SPR-EFSJ-RFFSA. A FEPASA se originou de um pool estadual de ferrovias, entre elas a EFS, sorocabana que entre outras áreas, eram donas do pátio de Presidente Altino e do Pátio Barra Funda, onde hoje está o Memorial da América Latina.
Moro há 2 anos na Lapa de Baixo, amo esse lugar, mesmo com a degradação da própria população pelo local. Mas Fiquei muito feliz de saber como foi parte de sua história. Trabalho também no E-business Park, Onde foi um dia uma fábrica também, almoço no Seringueiras, que tem diversas fotos antigas, o que me despertou curiosidade de saber o que se passava por aqui antigamente.