Reza uma antiga lenda paulistana que uma das atribuições da Guarda Civil Metropolitana é zelar pelo patrimônio público da cidade. O termo lenda é mais apropriado do que usar a palavra dever, pois basta um giro rápido por alguns de nossos locais turísticos e pelos monumentos para constatar que boa parte deles estão abandonados pela nossa prefeitura.
E, tão difícil como encontrar por ai o Saci-pererê ou a mula sem cabeça, é difícil encontrar um guarda municipal protegendo um monumento de nossa cidade. O resultado disso é que muitos de nossos grandes monumentos e pontos turísticos tornaram-se uma espécie de terra de ninguém, com obras de arte danificadas, roubadas e até mesmo pichadas.
Alvo de reportagens do São Paulo Antiga desde 2009, a Fonte Monumental é um dos mais belos monumentos paulistanos e também um dos mais vandalizados. A escultura está aos poucos sendo destruída. E o pior, o poder público nada faz para protegê-la. Pelo contrário, toma atitudes que pioram ainda mais a situação dos monumentos, especialmente os localizados na região central da cidade.
No caso do centro, a prefeitura fechou os banheiros públicos. Com isso, moradores de rua acabam fazendo suas necessidades nas ruas e até dentro de monumentos, como é o caso da própria Fonte Monumental, que tornou-se uma espécie de banheiro improvisado. O antigo banheiro público do Anhangabaú, por exemplo, foi fechado sem muito alarde tendo sido totalmente emparedado, como atesta a fotografia abaixo.
O patrimônio é o testemunho dos antigos modos da sociedade. Testemunho que está se perdendo a cada dia que passa com a Fonte Monumental. Vizinhos do monumento, pedestres e a equipe do São Paulo Antiga vem testemunhando a sua morte vagarosamente. Situada na Praça Júlio Mesquita, era para ser uma área de lazer, mas virou um templo da degradação humana e social, onde viciados costumam se encostar para consumir drogas e moradores de rua adentram na fonte para fazer necessidades fisiológicas.
Concebida em mármore de carrara a linda fonte, instalada em 1926, está perdendo a luta para o vandalismo que está mutilando o monumento, e para as pichações que tornaram-se constantes. Será que a Prefeitura de São Paulo não está observando esses atos de vandalismo? Será assim tão dificil manter o local limpo e bem cuidado ? As lagostas que adornavam a fonte há muito tempo se foram. A mão de uma das sereias foi decepada e há rachaduras e buracos por toda a obra cujos danos, à medida que o tempo passam, vão se tornando irreversíveis.
Vale ressaltar que a Fonte Monumental é de autoria de Nicolina Vaz de Assis Pinto do Couto, uma das primeiras mulheres escultoras do Brasil e responsável pela primeira manifestação de art nouveau de São Paulo, segundo o escritor e historiador Clarival do Prado Valladares.
Com todo esse dano à nossa memória e ao nosso patrimônio o poder público, e também nós cidadãos, precisamos ter em mente que quem sai perdendo é a história transcorrida pelo passado que não está sendo preservado, muito menos valorizado. O prejuízo para a nossa história de São Paulo e do Brasil é incalculável.
E todo esse vandalismo e descaso à nossa história poderia ser facilmente combatido se um guarda civil metropolitano ficasse ali de prontidão. Mas, será mais fácil encontrar o Saci-pererê ou qualquer outra figura lendária pela Praça Júlio Mesquita do que ver um oficial municipal guardando nosso monumento.
Colaboração no texto: Douglas Nascimento
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