Um dos importantes templos religiosos do centro de São Paulo, a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, no Largo do Paissandú, estava há anos em uma triste situação, com focos de umidade, pedaços da fachada caindo, infiltrações e muita pichação.
Graças ao recente processo de restauração, este ciclo de abandono e descaso finalmente encerrou-se no final do ano passado, com a igreja voltando a ter por completo toda sua beleza e protagonismo histórico.
A recuperação da igreja não chegou sozinha, e veio também com uma boa remodelação e limpeza de seu entorno em todo o Largo do Paissandú, e trouxe junto a instalação de um novo mobiliário urbano com foco na permanência e frequentação de nossos espaços públicos.

Largo do Paissandú (crédito: SMDU)
Esta nova instalação pública está trazendo novos e bons ares no entorno da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. E trata-se do mesmo sistema que está sendo instalado em outras praças paulistanas como na Praça Ouvidor Pacheco e Silva, bem ao lado do Largo São Francisco.
Trata-se de uma boa iniciativa da Prefeitura de São Paulo, através da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (SMDU), que é chamada de Centro Aberto. Projeto similar ao adotado pela prefeitura de Nova York, na famosa Broadway.
Voltando a igreja da Irmandade dos Homens Pretos, é possível notar que o interior da igreja também está muito bonito com destaque para sua iluminação e limpeza. Confesso que estou impressionado com o excelente estado do templo que eu não entrava desde fevereiro de 2014.
UM POUCO DE HISTÓRIA
O culto a Nossa Senhora do Rosário é um dos mais antigos de nossa cidade e funde-se com a própria fundação de São Paulo. Esta devoção levou em 1721 a construção de uma pequena capela na região onde está a Praça João Mendes (naquela época um subúrbio da cidade), que logo constituiu-se em um ponto de encontro de escravos, que eram proibidos de frequentar as igrejas dos brancos.
Não demoraria para um novo templo ser erigido, desta vez na área da atual rua 15 de Novembro, que ocorreria em 1737 (data estimada). O local permaneceria imutável por quase 150 anos, até que em 1872 o então presidente da província, João Teodoro, decidiu demolir alguns casarios antigos, desapropriar o cemitério de escravos ali existente e criar ali o Largo do Rosário.

A antiga Igreja do Rosário, onde hoje está o edifício Martinico Prado
Esta bela igreja parecia que ficaria para sempre naquele lugar, mas não foi bem isto que aconteceu. Com o argumento de ampliação e modernização da cidade, o prefeito Antônio Prado decidiu desapropriar a área da igreja e seus vizinhos em 1903.
A área do então Largo do Rosário (atual Praça Antônio Prado) foi completamente remodelada e os negros afastados mais uma vez para um local distante. Curiosamente o terreno da antiga igreja, agora demolida, passou para a posse de Martinico Prado, nada mais nada menos do que o irmão de Antônio Prado.
Com a pequena indenização recebida a irmandade decide erguer a igreja no Largo do Paissandú, o que não ocorreria sem protestos dos moradores do entorno do local, que alegavam que o templo “acabaria com a beleza da praça”.
Mesmo assim, a igreja foi erguida e inaugurada finalmente em 22 de abril de 1908. E está ali até hoje.
Paissandú ou Paiçandu ?
Muitos locais escrevem a praça atualmente como Largo do Paiçandu. Entretanto o nome do local não é uma homenagem indígena mas sim uma referência a cidade uruguaia de Paissandú, ou mais especificamente, a épica Batalha de Paissandú ocorrida em 1865 durante a Guerra do Paraguai.
Como confusão pouca é bobagem a coisa complicou mais recentemente, já que a letra “Y” voltou ao alfabeto brasileiro e o nome correto da cidade uruguaia seria, portanto, Paysandú. Assim temos Paissandú, Paysandú e Paiçandu. Por isso, nós aqui do São Paulo Antiga manteremos o nome Paissandú até que a prefeitura defina a mudança ou não oficialmente.
Por fim, existe no Paraná a cidade de Paiçandú. Confuso não ?
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