Muito lembrada atualmente por ser o endereço do famoso restaurante paulistano Ita, a rua do Boticário já foi bastante conhecida – entre o final do século 19 e início do século 20 – por ser uma espécie de “endereço marginal(*)“ de São Paulo, ou uma espécie de “Boca do Lixo” de outrora.
Entretanto, a história desta pequena rua é mais antiga do que parece ser. Aberta nos derradeiros anos do século 18, ela chamava-se inicialmente rua do Meio, esse nome era devido ao fato de estar “no meio”, entre as ruas de São João (atual Avenida São João) e a rua dos Bambus (depois alameda dos Bambus e atualmente Avenida Rio Branco).
Esta rua do Meio era bastante utilizada pelos paulistanos para chegar até o extinto Tanque do Zuniga, uma lagoa que existia onde hoje é o Largo do Paiçandu. O mapa abaixo, de 1847, dá uma visão daquela época:
Em novembro de 1865 a Câmara Municipal de São Paulo, através do vereador Malaquias Rogério de Salles Guerra, propôs a alteração do nome para rua Amador Bueno, em homenagem Amador Bueno da Ribeira, conhecido na história paulista por ter sido aclamado, em 1641, como Rei de São Paulo.
Este nome permaneceu até 1978, quando uma revisão dos nomes de rua da cidade encontrou outra rua esta mesma denominação no bairro de Santo Amaro. Assim, para não ter dois logradouros com o mesmo nome foi proposta e aceita a mudança para rua do Boticário, e assim ela permanece até os dias atuais.
Fomos até o local e traçamos um comparativo com 108 anos de espaço entre as duas fotografias. A primeira foi tirada no já distante ano de 1908 e a segunda em 2016. Vamos a elas:
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Até hoje a rua serve basicamente a mesma função estabelecida no século 18. Se antes as pessoas iam até o referido Tanque do Zuniga, hoje vão até o largo que está em seu lugar.
Do que existia em 1908, pouca coisa restou. Ao fundo da foto antiga é possível ver a então recém inaugurada igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos e alguns imóveis do lado esquerdo. O curioso é que dois deles resistem.
O mais antigo deles, fica de esquina com o Largo do Paiçandu, e embora tenha sido bastante alterado com o passar de longos anos, permanece de pé. O que foi uma residência, hoje é um salão de cabeleireiros.
Já mais a direita na foto o velho casarão resiste a duras penas até os dias atuais. O sobrado foi conhecido no início do século 20 por ter sido um famoso e concorrido bordel de luxo. Hoje está abandonado.
Do lado direito tudo foi demolido e deu lugar a grandes edifícios. São cenas de uma pauliceia que hoje não existe mais.
(*) Curiosidade: O termo “rua marginal” usado no início deste texto refere-se ao fato de a então rua Amador Bueno ser bastante conhecida dos paulistanos daquela época como um famoso ponto de prostituição e de consumo de entorpecentes, especialmente o ópio e a morfina. Também não era raro ocorrerem assassinatos por ali.
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