Blue Space, Salão São Paulo Chic e outros

Quando falamos de salões de baile e de festas em São Paulo temos uma grande dificuldade em catalogá-los, especialmente quando voltamos muito no tempo. Esses espaços costumam ter duração imprevisível, com alguns permanecendo longos anos em atividade (lembram do Gallery ?) e outros desaparecendo em questão de meses ou poucos anos.

Mesmo assim estamos catalogando alguns desses estabelecimentos de modo que possamos documentar o maior número possível de salões de baile, boates e casas noturnas. Aqui mesmo no site já falamos da Kilt e da União Fraterna dois locais bem conhecidos.

E hoje falaremos de toda a história que envolve aquele que é o mais importante palco LGBTQIA+ de São Paulo da atualidade.

Localizada no número 723 da Rua Brigadeiro Galvão, na Barra Funda, este salão abriga desde 1996 a concorrida Blue Space. A boate é famosa pelos seus shows de Drag Queens e também pelo excelente padrão de qualidade de suas apresentações e atendimento. Quem observa o imóvel de fora, todo pintado de tons de azul e preto pode imaginar, ao primeiro momento, que o imóvel está em mau estado mas esta impressão se passa rapidamente ao observar mais de perto.

Excetuando-se pelas janelas que foram fechadas (mas preservado o desenho original) todos os detalhes arquitetônicos do exterior estão absolutamente preservados, inclusive com seu frontispício. Por ser uma casa de shows a iluminação externa não pode interferir no interior.

Na imagem o detalhe – nem sempre notado – do frontispício (clique para ampliar)

A HISTÓRIA PREGRESSA DESTE IMÓVEL:

Quando publicamos a foto que abre este artigo em nossas redes sociais observamos muitos comentários negativos sobre o imóvel deixado por pessoas que nem sempre leem o texto que acompanha a imagem para entender o contexto (o que é uma constante, diga-se de passagem). Muitos imaginam que trata-se de um casarão que foi transformado em boate, perdendo assim suas características originais, mais não é o caso deste imóvel.

Construído na década de 1920 o imóvel foi projetado desde seu princípio para abrigar salão de festas, reuniões e bailes, inicialmente sediando uma entidade chamada “S.S.M. Marconi” da qual não foi possível descobrir nada além de seu próprio nome.

O salão em 1977 (Foto: Dulce Soares / Divulgação)

Posteriormente as atividades do salão passaram a ser gerenciadas por outra entidade também com pouquíssimas informações, o “Clube XV“. Este clube permaneceu promovendo festas e bailes no espaço pelo menos até a primeira metade da década de 1940. Depois, na segunda metade da mesma década, surge no local o Elite Clube.

Igualmente aos dois anteriores as informações do referido clube são quase inexistentes, limitando-se a pouco detalhados anúncios em jornais paulistanos como o apresentado acima, veiculado no extinto Alvorada que era dedicado à comunidade negra de São Paulo. Já na segunda metade da década de 1950 o espaço muda um pouco de função e passa a servir de sede para uma entidade religiosa denominada “Cruzada Nacional de Evangelização“.

Durante a década de 1960 as notícias sobre o espaço desaparecem, não sendo possível afirmar que o espaço continuou com a referida entidade evangélica supracitada, se transformou-se em outro negócio ou mesmo se permaneceu um período fechado.

Vista interna do salão em 1977 (Foto: Dulce Soares / Divulgação)

É em 1970 que o espaço volta à mídia passando então a ter bastante destaque em jornais paulistanos. Neste ano passa a funcionar ali o “Salão São Paulo Chic” espaço ligado à escola de samba paulistana Camisa Verde e Branco e por isso focado em shows, bailes e eventos ligados ao samba. Deste momento para frente é a primeira vez que o já tradicional point da Barra Funda torna-se um destaque mais amplo, atraindo paulistanos de todos os cantos da cidade para seus eventos. As informações que temos é que o São Paulo Chic durou até meados da década de 1980.

Depois disso as informações rareiam novamente até que o imóvel passa a funcionar com uma balada chamada Bunker e posteriormente entre 1994 e 1995 pela boate Anjo Azul (vide recorte acima). De 1996 até os dias atuais contamos com a Blue Space.

Apesar da carência de informações acerca da grande maioria dos ocupantes do espaço, excetuando-se apenas pela Blue Space e o Salão São Paulo Chic, é possível afirmar que o local é o mais antigo salão de bailes e festas em funcionamento da capital paulista, já que o prédio da União Fraterna, na Lapa, só foi construído em 1934. Portanto, faz-se necessário que o imóvel permaneça de pé e preservado.

Bibliografia consultada:

Correio Paulistano – edição de 02/04/1943 – pp 4
Alvorada – edição de 13/05/1945 – pp 3
O Estado de S.Paulo – edição de 27/09/1939 – pp 6
O Estado de S.Paulo – edição de 05/02/1956 – pp 14
O Estado de S.Paulo – edição de 25/02/1994 – pp 54

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5 respostas

  1. Prédio de histórias e utilizações variadas, mas com o imóvel ainda preservado.

  2. A pintura em tons escuros é um festival de horrores.   Ela rouba todas as características arquitetônicas  que valorizam as prumadas expostas

    1.A riqueza em detalhes do  ornamento no vértice do frontispício, rico em detalhes, passa a ficar oculto.

    2.O friso ( cornice ) na junção das prumadas ficou completamente obliterado. É suposto haver um contraste entre o elemento de adorno e a parede a qual é adornada.

    3A moldura das janelas, frontais e laterais, foram mutiladas pela pintura quasi monocromática. Quando da construção deste prédio, o propósito de se adornar a moldura externa a volta das esquadrias de janelas e para lhe dar realce as janelas como elemento arquitetônico…..Ainda mais hoje em dia, em que prevalece o mal gosto de buracos retangulares de perímetros diminutos inseridos em fachadas, os quais dão a impressão de abrigar calabouços.  Janelas com arcos são raridades hoje em dia. 

    Isto e um assassinato a um imovel ricamente construido.

  3. Douglas, neste espaço ocorreram momentos incríveis que vou deixar registrado aqui:
    Os primeiros bailes de uma das principais equipes voltadas a musica negra, a Chic Show, detalhe que o Chic vem de um grupo de samba que se apresentavam nesta casa, o chic samba show.
    Esta equipe se tornou famosa por trazer grandes shows de artistas negros americanos para sao paulo (Earth, Wind and Fire, Johnny b. horne, entre outros…)
    Os eventos do São Paulo Chic ajudaram a expandir outro fenômeno, o movimento do samba nas periferias de são paulo, nomes como: Almir Guineto,Martinho da Vila, e um jovem chamado Zeca Pagodinho se apresentaram em eventos na casa no periodo dos anos 80.
    O sucesso dos eventos da casa, fizeram com que as radios começassem a divulgar o samba na cidade de São Paulo com auxilio dos Radialistas Evaristo de Carvalho e Moises da Rocha.

    Abraços

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