O noticiário paulistano é constantemente ocupado por reportagens sobre acidentes envolvendo carros e pedestres. São fatos que revelam a imprudência ao volante com carros caros e sofisticados como Porsches, Camaros e afins e muitas vezes aliados ao consumo de álcool acima do limite permitido para dirigir.
A impressão que se passa é que acidentes deste tipo são um fenômeno recente nas ruas da cidade, mas isso não é verdade. Após uma pesquisa em nosso acervo foi possível constatar que acidentes de trânsito e imprudência ao volante é um problema não só antigo como difícil de ser resolvido pelas autoridades atuais e do passado.
Voltamos 100 anos no tempo e fizemos uma pequena seleção de acidentes de trânsito com ou sem vítimas fatais que marcaram a São Paulo de outrora. Confira alguns destes casos em fotografias inéditas!
1911 – O Acidente do Conde Matarazzo:
Se hoje ter um carro é algo razoavelmente fácil para a grande maioria dos paulistanos, com financiamentos e ofertas imperdíveis, no início do século XX ter um veículo motorizado não era exatamente algo muito acessível.
Entretanto para o Conde Francisco Matarazzo isso jamais foi um problema. Difícil mesmo para ele foi o sério acidente que sofreu ao perder o controle de seu carro em 1911 em uma estrada que ligava o interior à capital. O carro regressou para São Paulo rebocado e parcialmente destruído.
1925 – A mulher que perdeu a direção:
Esta fotografia infelizmente não tem muitas informações, mas vale o registro. Em 1925 uma mulher estava dirigindo o veículo da foto quando por alguma razão perdeu o controle da direção e foi direto bater na entrada da Fábrica de Móveis Mauro Martino, na rua da Consolação.
Apesar de uma reportagem do jornal O Estado de S.Paulo à época ter ido até o local do acidente não há nenhuma informação sobre se houve alguma vítima fatal ou ferido grave.
1929 – Acidente entre dois veículos em Perdizes:
Na foto acima um violente acidente entre dois veículos na rua Itapicuru. O carro das fotografias superiores é um Chrysler de uso particular, enquanto o veículo da foto inferior, placa A 1-569, é um veículo de praça (possivelmente um Chevrolet). Imagens extraídas do jornal A Gazeta de 30 de setembro de 1929.
1930 – Um atropelamento no meio do nada:
Esta foto pericial de 1930 que obtivemos com exclusividade, mostra um raro atropelamento na São Paulo antiga.
Se hoje acidentes em ruas repletas são quase uma constante, imagine como seria difícil um atropelamento por um carro no início do século XX em uma estrada deserta.
A fotografia foi tirada pela polícia para constar no inquérito e mostra o exato local de um acidente com vítima em uma estrada que levava até a região de Pirituba.
Aparentemente após atropelar a vítima – que morreu – a mesma ainda foi arrastada alguns metros. As anotações na foto foram feitas pelas autoridades policiais.
1934 – Três acidentes diferentes:
O ano de 1934 curiosamente reporta um grande número de acidentes automobilísticos na capital paulista. Este fato curioso talvez se deva ao grande aumento no número de veículos na cidade neste período e também a modernização da motorização, quando motores 6 cilindros em linha e os famosos V8 passarem a ser mais comuns.
Abaixo mais dois acidentes ocorridos no mesmo ano, basta clicar na imagem para ela se ampliar.
1947 – Uma vítima fatal:
As fotografias abaixo são de um acidente ocorrido 13 de junho de 1947 no cruzamento das Rua Oscar Freire com a Alameda Rocha de Azevedo, entre um caminhão e um carro de passeio. De acordo com o relato pericial houve uma vítima fatal.
1958 – Rua Santa Ifigênia:
1962 – Um acidente na rua do Bosque:
Um semáforo desligado e um veículo da polícia em alta velocidade serviram de estopim para este acidente que envolveu dois veículos no bairro do Bom Retiro, no cruzamento da Rua do Bosque com a Rua Anhanguera no ano de 1962.
O jipe da polícia (placa 29-54-00) que vinha pela Rua Anhanguera colidiu com a Kombi (placa 51-64-79) que rumava para a Barra Funda pela rua do Bosque. Com a colisão, os dois carros ficaram descontrolados e foram parar somente na entrada da padaria.
1968 – Colisão de Fuscas:
Em 1968 outro acidente automobilístico no bairro do Bom Retiro. Não muito distante do local do acidente anterior, estes dois fuscas envolveram-se nesta batida tudo porque um dos motoristas seguia a rua dos Italianos na contra mão.
Observe que a perícia fez questão de identificar na fotografia uma placa de direção de trânsito e o sentido da rua dos Italianos com uma seta, para mostrar a grave imprudência de um dos condutores.
1971 – Colisão na rua José Paulino:
A afamada rua do Bom Retiro para compras de roupas também já teve seus acidentes. A foto acima mostra a colisão de dois veículos, um que seguia pela José Paulino acabou colidindo com outro, um Fusca, que aparentemente estava estacionado no lado direito da rua e tinha saído sem dar indicação com a seta para entrar na rua Silva Pinto.
Com a colisão o volkswagen rodou na pista e ficou no sentido contrário. As setas A e C mostram a trajetória dos dois carros até a colisão e as setas B e D o sentido das ruas.
1974 – Acidente grave na rua Prates:
A ausência de um semáforo pode causar grandes acidentes se os motoristas não tiverem prudência nos cruzamentos.
Em 1974 um acidente envolvendo um Opala e um Fusca no cruzamento da Rua Três Rios com rua Prates acabou resultando em um capotamento. Note que o sentido da Rua Prates à época (bairro-centro) é o oposto de hoje em dia.
Acidentes nas estradas:
Descer para o litoral paulista nos anos 1920 não era algo muito rápido e nem tranquilo. A pista era sinuosa, estreita e acidentes especialmente em trechos de serra eram bastante comuns.
Para alertar (e assustar) os motoristas que desciam para a baixada, a placa na foto acima deixava bem claro os riscos da imprudência ao volante em plena Serra do Mar na antiga rodovia São Paulo – Santos. A velocidade máxima por ali não podia ser ultrapassar 25 km/h.
Extra – Acidentes envolvendo bondes:
Acidentes envolvendo transportes coletivos também não é algo recente. A fotografia acima mostra uma foto de um acidente entre um bonde e um ônibus em 1940.
O ônibus fechou o bonde em um trecho da avenida Liberdade que não conseguiu parar a tempo e acertou a traseira do coletivo.
Abaixo, mais duas outras fotografias envolvendo acidentes com bondes. A primeira nos anos 1930 quando um deles atingiu a traseira de um caminhão e a outra sem data mas que deve ser mais ou menos da mesma época de um bonde que foi atingido em cheio na sua lateral pelo extinto trem da Cantareira e que deixou alguns feridos.
Acidentes existem desde que os carros entraram em nosso cotidiano. Precisamos de uma legislação mais eficiente com penas mais duras e eficazes.
Artigo atualizado em 16/06/2020 – inclusão de acidente de 1947
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