Antes & Depois – Rua Roberto Simonsen: 1934 e 2024

A luta contra o extremismo de direita e contra o fascismo em terras brasileiras não é algo recente e por diversas ocasiões conflitos e tumultos tomaram nossas ruas, inclusive em São Paulo. O Antes & Depois que apresento aqui completará 90 anos em 2024. Trata-se da “Batalha da Praça da Sé” ocorrida em 7 de outubro de 1934, um domingo.

Manchete do jornal “Correio Paulistano” sobre a batalha da Praça da Sé

A tensão polarizada que vemos no século 21 também ocorria em passos largos no início da década de 1930. O conflito entre antifascistas e integralistas (os representantes do extremismo de direita do Brasil à época) já acontecia com alguma frequência desde o ano de 1933, com provocações dos dois lados tendo uma violência mais incisiva por parte dos seguidores do Integralismo.

Os “camisas verdes” doa AIB (à direita na foto) ladeado por outros simpatizantes fascistas, nas proximidades do Largo de São Francisco (clique na foto para ampliar)

Os fascistas mantiveram a tensão durante todo o decorrer de 1934 até que em outubro deste mesmo ano a Ação Integralista Brasileira (AIB), cujo líder era Plínio Salgado, decidiu convocar um comício para celebrar os dois anos da publicação do Manifesto Integralista. O local escolhido ? A Praça da Sé.

Tão logo a intenção de realizar o comício fora divulgada pelos integralistas ocorreu uma grande coalizão de repelir o ato pelos movimentos antifascistas da capital paulista, que se prepararam e se armaram para evitar a concentração dos fanáticos de direita. O domingo prometia confusão.

As fotografias abaixo mostram a movimentação da Força Pública (atual Polícia Militar) para proteger os arredores da Praça da Sé. Na foto 1 soldados instalam metralhadora em uma rua, enquanto na foto 2 caminhão estaciona trazendo mais soldados ao prédio da Delegacia Central, na rua Roberto Simonsen.

E a confusão veio em larga escala à medida que integralistas começavam a rumar para a Praça da Sé vindo dos mais variados pontos da cidade, seja desembarcando de trem na então Estação do Norte (atual Brás), descendo a avenida Brigadeiro Luís Antônio ou ainda vindo pelo Viaduto do Chá. Os antifascistas aguardavam diante do Palacete Santa Helena a chegada dos extremistas.

Mesmo com a forte presença policial para conter o que parecia ser uma pancadaria anunciada, as provocações logo começariam entre eles e o conflito tomaria início, com muita pancadaria e tiroteio. Ao final do conflito os números surgiram: 30 feridos e 7 mortos, sendo dos que pereceram 2 eram policiais, 1 era guarda civil, um antifascista e três eram integralistas.

O jornal carioca “Jornal do Povo” e a cena pós batalha da Praça da Sé (clique na foto para ampliar)

O ato de repulsa aos extremistas teve uma repercussão bastante positiva junto ao movimento antifascista brasileiro, gerando uma ampla frente progressista no Brasil que iria culminar mais adiante com a criação da Aliança Nacional Libertadora (ANL). Apesar do saldo vitorioso vários militantes de esquerda presentes na chamada “Batalha da Praça da Sé” foram detidos. Já AIB, de Plínio Salgado, apesar do grande revés, permaneceria na legalidade no cotidiano político brasileiro até o novembro de 1938, quando foi colocada na ilegalidade.

O ANTES & DEPOIS

Uma cena editada por um extinto jornal paulistano em 9 de outubro de 1934 é o alvo do nosso antes e depois. O Correio Paulistano não circulava às segundas, dia seguinte do conflito da Praça da Sé, e as notícias e imagens só chegaram aos leitores na edição de terça.

A fotografia que você vê abaixo mostra as forças policiais se reunindo na lateral do Palácio do Governo, hoje novamente Pátio do Colégio, na rua Roberto Simonsen, para dali se dirigirem à Praça da Sé, palco do comício integralista e do conflito.

Rua Roberto Simonsen em 1934 (clique na foto para ampliar)

Entre os prédios que estão visíveis na fotografia apenas o que aparece na bem na pontinha esquerda da fotografia não existe mais. Era parte do complexo governamental que fazia parte também o Palácio do Governo do Estado, que foi demolido para a reconstrução do Pátio do Colégio na metade do século 20.

Já com a fotografia abaixo, de janeiro de 2024, é possível ver que as demais edificações da rua Roberto Simonsen foram todas preservadas, bem como o recorte do arruamento que tem um recuo onde estão as construções mais novas da rua. O sobrado onde encontra-se um homem na sacada, observando a movimentação, é a atual Casa da Imagem e a sobrado seguinte o Solar da Marquesa de Santos. Por fim a mudança mais visível é a substituição dos paralelepípedos por asfalto.

A Rua Roberto Simonsen em janeiro de 2024 (clique na foto para ampliar)
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