Palacete Franco de Mello

A badalada e agitada avenida Paulista foi num passado já distante o endereço residencial dos ricaços paulistanos. Era uma época em que esta via não tinha o trânsito congestionado dos dias atuais e que no lugar de grandes edifícios abrigava boa parte das mais elegantes residências da cidade.

Das dezenas de residências luxuosas e elegantes que haviam nesta avenida, apenas algumas poucas resistem bravamente ao tempo e a especulação financeira, como a Casa das Rosas e o tão abandonado Palacete Franco de Mello.

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Localizado no número 1919 da Avenida Paulista, o palacete também é conhecido como “Residência Franco de Mello” e hoje é o último exemplar ainda em pé da primeira fase residencial da avenida, período compreendido entre 1891 e 1934.

Construída em 1905, a residência é obra do construtor português Antônio Fernandes Pinto e encontra-se em um belo terreno ajardinado de 4720m². Sua fachada é de arquitetura eclética e possui influências francesas do período de Luís XV nos enfeites do frontão e no caixilho das janelas, além de uma mansarda renascentista. Em seu interior há um total de 35 cômodos.

Joaquim Franco de Mello, que dá nome ao casarão, foi coronel e rico agricultor que entre outras atividades fundou uma cidade no interior paulista, dando a ela o nome de sua esposa, Lavínia. No imóvel, Franco de Mello residiu com sua mulher e seus três filhos, Raphael Franco de Mello, Rubens Franco de Mello e Raul Franco de Mello.

Apesar da bonita história envolvendo o imóvel, hoje a situação da velha mansão não tem nada de bela. Tombado como patrimônio histórico paulistano desde 1992, o imóvel passou a ser palco de uma disputa entre seu proprietário, Rubens Franco de Mello, e o governo estadual.

No início de 2000 ele entrou com uma ação contra o Estado pedindo uma indenização pelos prejuízos causados a ele pelo tombamento. Em agosto do mesmo ano o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) aceitou a solicitação de Franco de Mello e condenou o Estado de São Paulo a pagar ao herdeiro do palacete uma indenização de R$ 55 milhões, por conta dos prejuízos sofridos por ele em decorrência do tombamento do imóvel. No entanto, o governo paulista foi ao Supremo Tribunal Federal (STF) e recorreu da ação.

Apesar de deteriorado, o casarão de 1905 ainda chama a atenção pela beleza (clique para ampliar)

Desde então, o imóvel sofre duramente como consequência da disputa judicial entre os dois lados, sendo que aparentemente o dono do palacete parece ser perseguido pelo poder público. Qualquer coisa que os proprietários tentam empreender no local logo é suspensa. Foi assim com um estacionamento na área em volta do imóvel, com a boate que operou no palacete, com o Mundo Mix e até mesmo com uma feira de animais.

E enquanto isso, o Palacete Franco de Mello vai se deteriorando cada vez mais. Há anos não recebe pintura, uma vegetação já aparece nas paredes do imóvel, fruto de inúmeras infiltrações e há diversos vidros quebrados.

Somos defensores da preservação e do patrimônio histórico, mas temos que ser conscientes de que é preciso haver uma política mais séria e consistente em torno dos bens tombados na capital paulista.

Vista parcial interna do palacete (clique para ampliar)

É inegável que este imóvel é um bem histórico da cidade de São Paulo e precisa ser tombado e preservado. Mas não é possível que seus proprietários sejam reféns de seus imóveis e de uma política de preservação arcaica e arbitrária. Tão logo qualquer imóvel seja tombado o poder público precisa dar uma rápida destinação ao mesmo e caso a família não possa arcar, que seja indenizada com valores justos.

Da forma em que está, não é nem para o governo e nem para os herdeiros. E ainda menos para a municipalidade, pois o bem vai se deteriorando e pode até vir a ruir, com prejuízos inestimáveis e irrecuperáveis à cultura e a memória da nossa cidade.

ATUALIZAÇÃO 18/3/2023:

Resolvida a questão da posse do palacete, o novo governo estadual decidiu por dar prosseguimento a um projeto que já existia para o local desde a gestão anterior, transformando-o em centro de cultura LGBTQIAP+ . O projeto para ser colocando em execução estima um custo de aproximadamente R$ 60 milhões. Até o momento nada mais além da intenção de retomar o projeto foi divulgado, e traremos mais novidades à medida que forem surgindo.

Confira mais fotos externas do palacete (clique na miniatura para ampliar):

Confira fotos internas do palacete (clique na miniatura para ampliar):

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15 respostas

  1. Ou muito me engano mas achou que não é o último casarão da avenida paulista / tem a casa das rosas / ou ela não conta?
    Terei resposta?

    1. Claro que tem resposta, mas preciso interpretar texto! Vamos lá:

      Segundo parágrafo eu respondo a sua pergunta: “Das dezenas de residências luxuosas e elegantes que haviam nesta avenida, apenas algumas poucas resistem bravamente ao tempo…”
      Terceiro parágrafo eu explico: “…hoje é o último exemplar ainda em pé da primeira fase residencial da avenida, período compreendido entre 1891 e 1934.” A casa das rosas é do segundo período, em 1935.
      Ficou claro?

  2. Deveria ser destinado aos professores em arte, artesanatos especializados – aos anciãos aposentados que queiram continuar ensinado a melhor arte desde música, dança, pintura, etc também para jovens carentes e até como igualmente ocupar outros com idoneidade avançada em ginástica e alongamento. Afinal, são tantos cômodos e tantos idosos querendo ainda ser úteis e tantos outros precisando dessas coisas com poucos meios de realizar estes sonhos, desde jovens a anciãos! A localidade facilita o acesso sob as mais diversas formas de mobilidade. Movimentar idosos e ocupar jovens é prioridade em tempos atuais. Fica a dica!

  3. Duas afrontas do Estado ao patrimônio Privado, sequestrar os direitos dos proprietários e anos após afrontando usar 60 milhões do dinheiro público e transformar o Palacete em centro de cultura LGBT+ isso é atropelar e cuspir na história da cidade de São Paulo.

    1. Concordo plenamente querem destruir a verdadeira cultura e vomitar uma atrocidade, em nossas mentes… isso não é cultura é invenção

  4. Tinha ouvido que lá morava uma senhora que tinha sido uma empregada da casa, mto querida pelos donos, que não queriam desampará-la. Então isso não é verdade?

  5. Já fizeram tantos projetos para revitalizar o casarão e como sempre acontece em terras brazucas, tudo ficou no papel e perdido nos labirintos burocráticos. Espero que antes que desabe de vez, como muitos ansiosamente aguardam, consigam dar um destino decente ao casarão: um centro cultural ou algo melhor

  6. Parabéns pela matéria!!! Anos atrás tive a grata possibilidade de conhecer todo o interior deste casarão majestoso mas infelizmente, degradado.
    Foi uma experiência impactante mas fiquei chocada com o fato inaceitável e desrespeitoso da falta de preservação de um imóvel tão precioso, que conta a história de São Paulo.
    Deve mesmo ser tombado, reformado e ser utilizado como um Centro Cultural para todos nós: documentação fotográfica dos casarões divinos da Avenida Paulista, que foram literalmente destruídos para especulação imobiliária e com o aval burro de governantes e políticos.
    Nossa, é um espaço que pode ser aproveitado para aulas de musica, dança, pintura, palestras culturais, apresentação de teatro, literatura, etc…
    Enfim, um resgate e um espaço de conhecimento para todas as idades. Um espaço que promova a interação social e crescimento sadio da população. Estou ansiando que a cidade seja presenteada com um projeto realmente inteligente e digno. Será mais um desrespeito imperdoável a memória de SP se o governo não preservar e cuidar daquele imóvel em prol da população!!!!

    1. Parabéns pela matéria, Douglas! E parabéns principalmente pelas fotos, incríveis como sempre. Só estranhei uma coisa, não foi o Mambo Bazar que funcionou ali? Pergunto porque as vezes que estive nesse palacete, no final dos 90, foi como Mambo. O Mercado Mundo Mix, pelo que lembro, começou na garagem do antigo Cineclube Elétrico, na Augusta, e depois passou para o galpão na Barra Funda. Ou o MMM também passou por lá? Grande abraço!

  7. Sr. Douglas Nascimento, parabéns pela matéria e pelas fotos maravilhosas, são de encher os olhos e a alma, mas, elogios à parte, eu Não concordo com o Governador Tarcísio em transformar o Palacete em Centro “Cultural” LGBTQI+, afinal o homossexualismo é condição sexual, que tem o meu respeito, e não é Cultura, agora o Governador Tarcísio vem dizer que vai torrar R$60.000.000,00 para restaurar e transformar o Palacete em Centro “Cultural” LGBTQI+ é ser muito ridículo, deve, sim, promover o restauro e fazer um Verdadeiro Centro Cultural, por exemplo para os idosos, para Artistas (em geral), jardim botânico, museus (ferrovia, aeronáutica), afinal o Estado de São Paulo possuiu várias ferrovias, enfim, o Palacete deve ter um uso melhor aproveitado com CULTURA. Obs: volto a dizer que os homossexuais tem todo o meu respeito.

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