Monumento a José Bonifácio

Algumas praças paulistanas tem peculiaridades que podem, em certos casos, até virar motivo de piadas. Uma delas é o fato curioso de que na Praça Princesa Isabel, no centro, a personalidade homenageada é o Duque de Caxias.

Uma outra, a Praça da República, tem homenagem a professores, pensadores, paulistas ilustres, fundador de escotismo, mas nenhuma homenagem, fora o nome, a algum herói da Proclamação da República.

Uma praça que também por muito tempo não fez juz ao nome que levava é a Praça do Patriarca:

Praça do Patriarca aproximadamente em 1930 (clique para ampliar)
Praça do Patriarca aproximadamente em 1930 (clique para ampliar)

A Praça do Patriarca tornou-se especialmente importante para a cidade de São Paulo na primeira metade dos anos 1910, quando esta região do centro começou a evoluir rapidamente, com o Viaduto do Chá e principalmente com a demolição dos velhos casarões que ficavam ali anteriormente.

Nomeada em 1922 como Praça Patriarca José Bonifácio, teve seu nome simplificado em 1953 para Praça do Patriarca, pois era assim que população e imprensa chamavam o local.

Ponto movimentado e frenético da capital, foi um bom tempo endereço da mais famosa loja de departamentos de São Paulo, o Mappin, e de um dos hotéis mais elegantes que a cidade já teve, o Othon Palace. Porém sempre faltou algo muito importante ali: uma estátua que fizesse homenagem ao nosso Patriarca da Independência.

Monumento ao Patriarca da Independência do Brasil (clique na foto para ampliar)
Monumento ao Patriarca da Independência do Brasil (clique na foto para ampliar)

A homenagem a José Bonifácio de Andrada e Silva só surgiria em 1972. A ideia de doar uma estátua do grande artífice de nossa independência partiu da comunidade libanesa de São Paulo, em comissão formada por figuras como então ex-prefeito Paulo Maluf (1969-1971) e o engenheiro Miguel Badra.

A homenagem era uma forma de retribuir ao Brasil a acolhida do país aos libaneses, dando-lhes oportunidade de contribuir com o desenvolvimento brasileiro. Para executar o trabalho foi escolhido o nome do escultor Alfredo Cheschiatti.

Crédito: Douglas Nascimento / São Paulo Antiga

Ao projetar a escultura, Cheschiatti deu ao monumento uma postura clássica ao homenageado. Feita em bronze, a estátua tem cerca de 3,50 metros de altura e pesa cerca de três toneladas.

A base que sustenta a escultura é de feita de raro granito verde, originário de Ubatuba, e tem quase dois metros de altura. Em volta da base havia um calçadão de granito cinza, que foi removido por ocasião do remodelamento da praça, anos atrás.

Com o custo de 300 mil cruzeiros à época, todo o dinheiro foi arrecado entre membros da comunidade libanesa em São Paulo.

INAUGURAÇÃO OFUSCADA:

A inauguração do Monumento em homenagem a José Bonifácio apesar de fazer parte das comemorações dos 150 Anos da Independência do Brasil, em 1972, teve sua inauguração bastante ofuscada.

Marcada para a véspera sesquicentenário, no dia 6 de setembro, para não coincidir com as inúmeras atividades programadas para o grande dia 7, sua inauguração passou quase despercebida da mídia devido a um triste fato ocorrido na véspera e que chocou o mundo:

Crédito: O Estado de S.Paulo

No dia 5 de setembro daquele ano, onze integrantes da equipe olímpica de Israel foram tomados de reféns e assassinados pelo grupo terrorista palestino denominado Setembro Negro, durante os jogos olímpicos de Munique.

Apesar disso, José Bonifácio teve sua estátua inaugurada e desde então o monumento está instalado na praça que o homenageia, olhando para a rua Direita, sempre lembrando dos paulistanos do grande dia para a nação brasileira que foi o 7 de setembro de 1822.

CURIOSIDADES :

clique na foto para ampliar
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1 – O monumento na Praça do Patriarca não é a única homenagem a José Bonifácio na capital paulista. Quem visita o Parque da Independência, no Ipiranga, pode conferir bem diante do Museu Paulista um busto de bronze em sua homenagem (foto anterior). Feita em 1965, a obra é do escultor Luiz Morrone.

2 – Muitas pessoas que visitam o Cemitério da Consolação se deparam com um túmulo onde está escrito “José Bonifácio de Andrada e Silva” e pensam que o patriarca está sepultado ali. Na verdade ele está em Santos no Panteão dos Andradas. Quem está ali, é outro José Bonifácio e nós contamos sua história, aqui.

3 – Quem visita a cidade de Nova York também se depara com uma grande estátua de José Bonifácio, no Bryant Park. Ficou curioso ? Nós também contamos sua história aqui.

Algum outro monumento paulistano chama sua atenção e você gostaria de saber mais ? Diga qual é para nós ai nos comentários.

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24 respostas

  1. Um monumento espetacular é aquele em homenagem à Carlos Gomes,na Praça Ramos de Azevedo.Como quase todos em Sampa,ele é muito bonito,mas tem um aspecto de abandono,assim como a própria praça.
    Na avenida Nove de Julho,junto aos túneis,os chafarizes,que outrora funcionavam,estão sempre desligados,e não é dizer que é por causa da falta d’água não.Há tempos não funcionam.

  2. Na Praça da República o busto não é de um escoteiro americano, mas de Lord Baden Powell, inglês, fundador do Movimento Escoteiro.

  3. Errata, meu caro Douglas, o Mappinn ficava na Praça Ramos de Azevedo e não na Patriarca

    1. Maurício informe-se melhor antes de colocar um comentário.
      O Mappin inicialmente era na rua 15 de novembro, depois mudou-se para a Praça do Patriarca. Só depois de construído o prédio da Praça Ramos na segunda metade da década de 30, é que eles mudaram-se para lá.
      Abraços

  4. É semnpre bom conversarmos com quem sabe das coisas; peço desculpas, eu só conheço o Mappinn
    da epoca da Praça Ramos, não sabia que era tão antigo assim.
    Aproveito para perguntar sobre as estatuas que estão localizadas na Galeria Prestes Maia.
    Fale-nos um pouco sobre elas.
    Obrigado, abçs.

    1. Júlia, posso estar enganado, mas parece que o relógio da Estação da Luz é inspirado no Big Bang londrino, aliás a EFSJ foi construída pelos ingleses e durante muito tempo era carinhosamente conhecida como “A Ingleza”, assim mesmo, com z. Vários prédios e casas no entorno da Estação da Luz e no Bom Retiro possuem arquitetura inglesa.

  5. Duas curiosidades: há duas homenagens próximas uma à outra no centro a José Bonifácio, que são a referida Praça do Patriarca e a Rua José Bonifácio, assim as Avenidas Doutor Arnaldo e Vieira de Carvalho homenageiam o médico Arnaldo Vieira de Carvalho, que foi diretor da Santa Casa de São Paulo (onde há um prédio que leva o seu nome) e foi também o primeiro diretor da Faculdade de Medicina da USP, entidade que um bando de arruaceiros travestidos de estudantes teimam em emporcalhar – sendo estas duas avenidas razoavelmente distantes uma da outra.

    1. Rua José Bonifácio, onde viveu José Bonifácio Sobrinho, não o Patriarca da Independência.
      Avenida Vieira de Carvalho, advogado e juiz do Império.
      Doutor Arnaldo, médico, diretor da Santa Casa e da então recém inaugurada Faculdade de Medicina.
      Fonte: Dicionário de Ruas da Prefeitura de São Paulo.

  6. Outra tristeza sobre a Praça do Patriarca é que, na ocasião da reforma, viraram o monumento para a Rua Direita, provavelmente porque o patriarca não poderia enxergar o Municipal devido à trave de mal gosto, ali implantada, ao longo do governo Marta, pelo custo irrisório de quatrocentos mil reais. Kassab tentou eliminar a tranqueira, mas os petistas pressionaram e o jabá do Paulo Mendes da Rocha continua ali. Hoje ambos fazem companhia às invasões propiciadas pelo descaso da prefeitura.

  7. Silvia, até que enfim encontro alguém que compartilha da mesma opinião. Aquela “trave”, cobertura moderna ou marquise, depois da reforma da Praça do Patriarca, tirou toda a visão da praça dos prédios históricos, inclusive da Igreja de Santo Antônio, no lado direito de quem vem do Viaduto do Chá. Achei um exagero e desnecessária. Tudo bem que retiraram as linhas de ônibus, o que melhorou a circulação. Mas deveriam ter construído uma cobertura mais discreta para a passagem da Galeria Prestes Maia.

    1. Não apenas nós dois, Rafael Lins. Na época, quando a Marta conseguiu beneficiar o arquiteto correligionário do PT, Paulo Mendes da Rocha, com essa intervenção medonha foi um fuá (é bom lembrar que ele também estragou a Pinacoteca com apoio dos tucanos), e ele também destruiu o Mercado Municipal. Pergunte a opinião de um funcionário e ele dirá a frase generalizada: “mataram o mercadão”. Os vitrais do Mercado não foram feitos para serem vistos em cima de um andaime e sim de baixo para cima, mas hoje em dia quem trabalha no chão perdeu esse direito.
      A tal cobertura ganhou status de escultura e é tratada claramente como intervenção. Eles não apenas não se envergonham de prejudicar a visão do conjunto arquitetônico como o fazem por motivação ideológica. A estética, o aspecto contemplativo da paisagem urbana, pra governinho que marca território, é o que menos importa.
      O Kassab bem que tentou nos livrar do lixo publicitário, mas esbarrou num Ministério Público que alegou mais gastos desnecessários com a remoção do elefante branco. Note que esse bagulhão quando é pichado, logo é refeita a pintura, diferente do que acontece com o verdadeiro patrimônio público, pois essa coisa esdrúxula é patrimônio só do PT. Podemos inferir que o MP enxergou o treco como uma cobertura mesmo, e não como imposição de ideologia barata. Estamos pagando por esse, entre tantos erros

  8. Douglas, lembro-me perfeitamente quando em 1972 inauguraram a estátua de José Bonifácio na Praça do Patriarca. Na época eu trabalhava de office-Boy na Barão de Itapetininga e lembro-me perfeitamente, também, que os jornais da época noticiaram que abaixo da base do monumento seria colocado uma urna com os jornais e revistas e também vários objetos da época, e que a urna só seria aberta em 2022, por ocasião dos festejos dos 200 anos da Proclamação da Independência, porém já vasculhei de cabo a rabo na internet e não achei nenhum texto que fale sobre isso. Você saberia me informar sobre isso?

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