Lastri, um símbolo no bairro das gráficas

O Cambuci ao final dos anos 1940 se transformou num bairro com grande concentração de gráficas. Era impressionante, ao passar a pé pelas ruas do bairro ouvir o típico som das Heidelberg e outras máquinas gráficas usadas até hoje por pequenas empresas do ramo. Eram nomes conhecidos no ramo tais como Pancron, Lastri, Lanzara, Sarcinelli entre muitas outras.

Estas gráficas famosas do setor estavam instaladas naquele bairro e muitas destas empresas desapareceram ou se mudaram deixando o bairro sem esta identidade. Várias instalações foram demolidas e sequer rastro deixaram, porém um prédio ainda resiste na rua Independência.

Nos idos de 1948 Angelo Lastri instalava no número 372 a empresa que havia iniciado em 1917 como uma pequena clicheria. Os negócios foram crescendo e já em 1949 muda a razão social para Angelo Lastri & Filho e já no ano seguinte expande o prédio para o número 362. Em 1958 já absorveria outra área, desta vez no número 382 totalizando uma área de 2.350 metros quadrados.

Em janeiro de 1961, com 160 funcionários, inaugura um novo prédio com cinco andares neste número 382 quando então já era referência no ramo, atendendo agências de publicidade e outros setores que necessitavam de seus serviços nas áreas de clicheria, fotolito, estereotipia, estero plástico e “Monotype”. A Lastri tinha toda uma linha de serviços gráficos para atender seus clientes e estava sempre na vanguarda da técnica através de modernos equipamentos e pessoal especializado. Em 1962 passa a ter o nome que manteve até o final de sua existência, Lastri S/A Indústria de Artes Gráficas.

Ilustração da sede da Lastri, na rua Independência (clique na foto para ampliar)

Recordo-me da potência (ou prepotência) que era a Lastri quando eu, sub-gerente na agência do Banco Mercantil de São Paulo no Largo do Cambuci, nos idos anos 1980, não era nem recebido pelo financeiro da empresa e o recado na portaria era sempre o mesmo, “Não atendemos bancos…”. Ao final até que consegui ser atendido e me lembro dos modernos equipamentos que me foram mostrados, porém abrir uma conta, nada.

Fato interessante é que Theobaldo De Nigris, importante empresário que foi presidente da FIESP (1968-1980) iniciou sua vida profissional como tipógrafo e até foi sócio da Lastri atuando no setor gráfico por muitos anos.

Abaixo, cenas internas da Lastri publicadas no jornal O Estado de S.Paulo (clique para ampliar):

Em julho de 1990 uma matéria no jornal O Estado de S.Paulo sob o título “Lastri cresce sob novo comando”, apresentava ao mercado a terceira geração que assumia então a direção da empresa com planos de crescimento que incluíam forte atuação em guias, livros infantis e papéis de presente entre outras atividades não tão ligadas ao negócio, como uma corretora de seguros. Informaram, neste mesmo artigo, que o faturamento para 1990 seria de 40 milhões de dólares o que não era e ainda não é pouco.

Em agosto deste mesmo ano participa com destaque da GRAFEXPO, feira dedicada ao ramo gráfico e lá expôs a história dos equipamentos gráficos através de máquinas antigas para apreciação do público.

Apesar destas demonstrações de normalidade podemos imaginar que as coisas não estavam indo tão bem e já em novembro deste mesmo ano (1990) na coluna “Falências e Concordatas” do Estadão são publicados três pedidos de falência contra a Lastri Editorial Ltda.

Vista da fachada da Lastri atualmente. Vaga lembrança de seu passado (clique para ampliar)

Sem maiores notícias a partir daí, o fato é que a Lastri teve sua falência decretada em 18 de fevereiro de 1992. Infelizmente, das grandes gráficas do Cambuci, sobrou apenas o prédio da Lastri, tristemente desfigurado e atualmente ocupado por grupos de moradia.

Glossário:
– Clichê: placa em relevo que prensada na folha transfere a imagem gravada
– Fotolito: processo de decomposição da imagem em quatro cores básicas para a confecção das matrizes para impressão offset
– Esteriotipia é um processo para produção dos clichês
– “Monotype” é a marca de uma empresa desenvolvedora de tipos. O mais famoso deles é o “Times New Roman”
– Estéreo plástico era um tipo de clichê fabricado em plástico (normalmente eram de chumbo).

Bibliografia consultada:
– Revista Seleções 1961
– O Estado de S. Paulo – Edições de 1/02/1961, 09/6/1990, 13/7/1990, 08/8/1990, 09/11/1990
– Site Jusbrasil – Link visitado em 8/12/2023



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4 respostas

  1. Provavelmente não quis te receber porque o mercantil era um péssimo banco, com administração e métodos medievais!!!
    (Palavras de quem penou anos naquela pocilga)

  2. Em 1986 eu trabalhava com a produção de cartazes de outdoor impressos em offset e fiz um “estágio” de três dias na Lastri, para entender como era obtido o fotolito, pois para produzir os cartazes de outdoor nós partíamos de um fotolito de 48 x 16 cm e ampliávamos para um formato de 864 cm x 288 cm (ampliação de 18x), inicialmente divididos em 32 partes e, a partir de 1998, em 16 partes, pois adquirimos uma série de impressoras que haviam sido da Abril que imprimiam no dobro do formato. Assim na mesma área quadrada tínhamos um cartaz de 16 folhas (com o dobro do tamanho) que resultavam em menos emendas no cartaz final.

  3. Meu 1o trabalho depois da faculdade foi num escritório de comunicação visual. Fazíamos a “arte final” de marcas, logos, folhetos e outros. Para obter um texto qualquer, do rodapé de uma folha de carta ao portfolio completo de uma empresa, definíamos a tipologia e o tamanho e solicitávamos a impressão em papel fotográfico para a Lastri. Eles nos enviava a prova por motoboy, fazíamos as correções, depois mandavam a impressão que tínhamos que recortar e aplicar com precisão na arte final (o famoso past up, com cola de sapateiro) que serviria de base para fazer o fotolito. Era bem trabalhoso… hoje se resume a uma pessoa, um bom computador com os programas corretos, e uma boa impressora.

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