“Toda história tem uma Estrela dentro do coração”
Quem hoje é adulto não tem como se esquecer de uma marca de brinquedos que deixou muitas de nossas melhores recordações da infância: A Manufatura de Brinquedos Estrela.
Esta fábrica fez parte da vida de várias gerações que cresceram brincando com a boneca Amiguinha, Menina Flor, as Chuquinhas, Aquaplay, além dos bonecos do Comandos em Ação, o famoso Genius, entre outros.
Claro que não podemos esquecer os jogos de tabuleiro que fazem sucesso até hoje como o Jogo da Vida, Banco Imobiliário e Detetive. E ainda os clássicos, Ferrorama e Autorama esse último assinado por pilotos como Emerson Fittipaldi, Ayrton Senna e Nelson Piquet.

Manequinho e Ar-Tur, dois clássicos da Estrela
A Estrela foi fundada em 1937, no bairro do Belenzinho em uma modesta fábrica onde produzia-se bonecas de pano e carrinhos de madeira. Ao longo do tempo, a empresa cresceu e virou sinônimo de qualidade.
A empresa acompanhou o desenvolvimento do Brasil e cresceu junto com o país. Devido a sua expansão, a fábrica mudou para uma grande área no Parque Novo Mundo, bem na divisa de São Paulo com Guarulhos.

Tomada aérea da Estrela e meados dos anos 90
Este grandioso parque industrial chegou a ter mais de 1000 funcionários e contribuiu para que a Estrela fosse a primeira empresa no ramo de brinquedos a conseguir o certificado ISO 9001. Também foi uma das primeiras indústrias automatizadas e a primeira a introduzir o corte a laser no Brasil.

Até a tampa de bueiro era personalizada para a Estrela
Tudo ia bem, a empresa funcionava a pleno vapor com várias filiais em São Paulo incluindo uma em Manaus, mas o que era um sonho de empreendedorismo brasileiro acabou ficando em uma situação delicada.
Na década de 90, o então Presidente da República Fernando Collor de Mello autorizou a entrada de produtos importados no Brasil. Vários países ingressaram no mercado nacional, principalmente os chineses, com preços bem mais em conta do que os praticados no mercado brasileiro.
Este acontecimento caiu como uma bomba para várias empresas e a Estrela foi uma delas, era difícil competir com os produtos estrangeiros com a nossa injusta carga tributária.
As demissões viraram uma tortuosa realidade e a lenta decadência da empresa começou a ocorrer. Em 2003, em apenas uma semana, 200 funcionários foram demitidos e a partir dai este número só cresceu.
A sede da empresa no Parque Novo Mundo fechou e hoje não pertence mais a empresa, que não tem mais nenhuma relação com a edificação. Entretanto, a história da Estrela passa, inevitavelmente, pelo bairro. Hoje a “maternidade” de nossos brinquedos de infância encontra-se abandonada.

A lembrança da fábrica está apenas na marca deixada pelo símbolo da Estrela em uma parede
Descrever que o antigo complexo industrial está parecendo um cenário de guerra é a mais pura realidade. Um dos pilares de sustentação desabou, existe sujeira por todo os lados e o mato impera nas imediações da antiga fábrica.
Os galpões estão completamente abandonados e parcialmente destelhados. Infiltrações e goteiras fazem parte do cotidiano em meio ao local insalubre. O lodo que se formou no chão torna-se um perigo para quem arrisca-se andar pelos galpões.

Um dos antigos galpões da fábrica
Ainda sobrevive uma área de entretenimento para os funcionários, onde há uma quadra poliesportiva coberta, porém a estrutura está toda enferrujada e corre risco de desabar.
A empresa também possuía um campo de futebol que acabou sumindo em meio a tanto mato e lama. Apenas a arquibancada, que está com a pintura nas cores da empresa um tanto desbotada, conseguiu sobreviver ao descaso do patrimônio.
Fotos – Área de lazer dos funcionários (clique para ampliar):
Importante salientar que a Estrela não encerrou suas atividades, entretanto a fábrica foi transferida para diversas unidades menores. Ela continua tendo grande importância para a economia brasileira e, principalmente, no coração de várias gerações que jamais a esquecerá.
O abandono desta fábrica mostra também como a região do Parque Novo Mundo e arredores sofreu uma grande fuga de indústrias. Em um raio 3 quilômetros, além da Estrela existiam também a Biscoitos Duchen, a Phillips do Brasil e a fábrica da Rayovac.
Veja mais fotografias da antiga Estrela (clique na foto para ampliar):
ATUALIZAÇÃO 1 – 26/02/2015:
O galpão principal da antiga fábrica Estrela já não existe mais, foi demolido na semana do carnaval de 2015.
O famoso complexo industrial possuía vários galpões. Todos já estavam destelhados e algumas paredes possuíam várias rachaduras. Nos dias em que visitamos a demolição, parecia que estávamos dentro de um filme de guerra, em um cenário de total destruição.

Na foto o alvará de execução
O conceito de patrimônio (ou arqueologia) industrial é algo relativamente novo no Brasil. Ainda pouco estudado, a história do patrimônio industrial está unida diretamente ao processo produtivo de uma época.
No caso da antiga fábrica da Estrela, está ligada com as décadas de 1980 e 1990, onde os brinquedos a pilha tornaram-se populares e versáteis no país.
Enquanto o patrimônio industrial ainda está sendo pouco apreciado, teremos que conviver cada vez mais com demolições sem qualquer justificativa simbólica e histórica.
Galeria de fotos com cenas da demolição (clique na foto para ampliar):
NOTA DO EDITOR – 19/03/2014:
Fomos procurados pela assessoria de imprensa da Brinquedos Estrela que nos pediu para esclarecer alguns pontos da reportagem, deixando claro que a empresa não tem mais qualquer relação com a fábrica do Parque Novo Mundo.
Esclarecendo, em nenhum momento o São Paulo Antiga culpou ou criticou a empresa, o que não é nossa missão ou objetivo, tanto que o título da matéria chama-se “A antiga fábrica da Estrela”, o que já dá a entender que não faz mais parte da companhia. Exercendo nossa liberdade de expressão, contamos uma parte da história de uma empresa que foi importante para o bairro e até hoje segue importante para o país . Temos profunda admiração e respeito pela marca, bem com as dezenas de leitores que deixaram comentário em nossa página.
Assim sendo, reproduzimos abaixo o depoimento do Diretor de Marketing da Estrela, Aires Fernandes, sobre a reportagem:
A Brinquedos Estrela inaugurou as unidades fabris de Itapira (SP) e Três Pontas (MG) em 2003. Por uma questão estratégica, optamos por sair da cidade de São Paulo e dividir nossa produção em unidades menores. O prédio e o terreno no Parque Novo Mundo, citados na matéria de 18 de março de 2014, não são de propriedade da Estrela há mais de uma década, portanto, a associação feita pela reportagem não procede. Não aceitamos associar os problemas atuais da região à nossa marca, sendo que não temos mais qualquer tipo de responsabilidade com o que foi feito do terreno. Enquanto esteve no Parque Novo Mundo, a Estrela foi implacável com a manutenção das instalações e muito cordial no relacionamento com a vizinhança do bairro. Desejamos muita prosperidade à região, mas infelizmente não temos como intervir no que diz respeito a um terreno que há muitos anos já não é mais de nossa propriedade. Aires Fernandes, Diretor de Marketing da Brinquedos Estrela
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