Guarulhos, a segunda maior cidade do Estado de São Paulo é uma espécie de “túmulo do patrimônio histórico“. O fato de ser um município enorme, ter várias empresas pagando tributos e uma considerável geração de divisas com o Aeroporto Internacional, em Cumbica, não reflete na cultura para o seu cidadão.
A administração municipal tem no currículo um vasto número de casos desastrosos de falta de preservação de seu patrimônio.
A construção mais significativa da cidade, o Casarão Sarraceni, foi demolido na calada da noite após a emissão de um relatório, no mínimo, controverso e algumas das construções remanescentes estão em estado de penúria, como a casa do ex-prefeito Maurício de Oliveira e as ruínas da Estação de Vila Galvão:
Inaugurada em 24 de outubro de 1915, a Estação de Vila Galvão era a primeira parada do famoso Tramway da Cantareira em Guarulhos. Dali o trem seguia pelo município até a Estação Guarulhos e, posteriormente, até a base área localizada na cidade, construída algum tempo depois.
A Estação e o bairro levam o nome de Vila Galvão em homenagem ao industrial Francisco Galvão Vasconcelos, que adquiriu a Fazenda Cabuçu em 1910 e ali construiu uma fábrica, a Cerâmica Paulista, para produzir tijolos.
Para ligar o lado paulistano ao Guarulhense, separados pelo rio Cabuçu, foi construída uma ponte de ferro sobre este rio, permitindo interligar as duas cidades através da ferrovia.
A chegada da trem não só foi importante para a Cerâmica Paulista, como também facilitou o acesso de paulistanos a então distante cidade vizinha, cujo bairro de Vila Galvão era considerado um agradável local para piqueniques e viagens de finais de semana, já que a proximidade com a Serra da Cantareira proporcionava um ambiente bastante agradável aos visitantes.

Na fotografia, mulheres paulistanas visitam a Vila Galvão em 1919
Aos poucos todo o município de Guarulhos seria beneficiado pela existência da estação e outros bairros próximos as paradas observariam grande prosperidade, como Gopouva, Vila Augusta e a própria região central da cidade.
Contudo, ao mesmo tempo que o progresso chegava à região, o Trem da Cantareira, sem renovação e investimentos, apresentava-se cada vez mais ultrapassado, problemático e deficitário.
Com a abertura da Rodovia Presidente Dutra na década de 50 e sua eminente duplicação nos anos 60, o uso do lento Trem da Cantareira foi cada vez mais deixado de lado pelos moradores não só de Guarulhos, mas de bairros paulistanos como Jaçanã, Tucuruvi e Vila Mazzei, que optavam cada vez mais pelos ônibus. Assim, o declínio do tramway se acelerou até ser completamente desativado em 1965.
Hoje, quase 5 décadas depois do fim Trem da Cantareira, poucas estações resistiram. Em Guarulhos, Vila Augusta (desfigurada), Guarulhos (que virou praça) e a Base Área são as estações sobreviventes.
Já a mais antiga delas, Vila Galvão, foi completamente ignorada pelas diversas administrações municipais que se sucederam desde 1965 e hoje resta apenas uma pequena lembrança do que um dia foi uma parada de trens:
Explicar para um adolescente guarulhense que sua cidade um dia já teve linha férrea já é difícil. E dizer para este mesmo adolescente que na suja e mal cuidada Praça Santos Dumont um dia funcionou uma estação ferroviária é tarefa mais complicada ainda.
Da velha estação, resta apenas uma pedaço do pontilhão, feito de tijolos, que possivelmente só não foi arrancada dali por ser uma estrutura bastante sólida. Fora isso, nada mais resta.
A Secretaria de Cultura de Guarulhos parece inclinada a ignorar a história do próprio município. Não faz muito tempo, do outro lado da rua as ruínas da parede pertencentes a Cerâmica Paulista foram demolidas por completo (veja foto abaixo) e, no caso dos restos da Estação Vila Galvão, a prefeitura sequer instalou uma placa identificando o local para seus munícipes.
Pelo visto, parece não haver verba municipal para uma placa de identificação e uma limpeza na praça, que vive imunda. Mas, olha só, para show do cantor Belo em 2012, por exemplo, alguns milhares de reais de cachê não foi nenhum problema… é assim que Guarulhos prioriza sua cultura, lamentável.
Veja mais fotos das ruínas da estação (clique na foto para ampliar):
Link recomendado: Estações Ferroviárias – Estação Vila Galvão.
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