Inicio da madrugada do dia 5 de novembro de 2010. O que para algumas pessoas era apenas o fim de mais uma sessão de cinema no Internacional Shopping Guarulhos para outras era o fim de um dos patrimônios mais importantes de Guarulhos, o Casarão Saraceni.
Localizado dentro de um dos pátios de estacionamento do shopping, na calada da noite a única casa que preservava características em art nouveau da cidade de Guarulhos virou um amontoado de entulho, atropelando a história.
TRAJETÓRIA:
Em 1919 Giuseppe Saraceni e família chegaram a Guarulhos e se instalaram no bairro de Itapegica, próximo a Avenida Guarulhos, caminho para o bairro da Penha.
No porão deste casarão funcionou a primeira indústria de sapatos e artefatos de couro de Guarulhos, que fornecia entre outros clientes para o Segundo Batalhão de Guardas de São Paulo localizado no centro da capital paulista. Por sua atividade pioneira, os Saracenis eram considerados por muitos historiadores, como os percussores da industrialização na cidade.

Na foto a família Saraceni reunida diante do casarão no natal de 1951
Figura respeitável da comunidade guarulhense e paulista, o patriarca Giuseppe Saraceni foi prefeito da cidade no ano de 1936 e curiosamente o portador da primeira carteira de motorista de Guarulhos. Anos antes, em 1932, cedeu espaço em seu casarão para que servisse de refúgio durante a Revolução Constitucionalista.
Décadas mais tarde, já em 1959, a fábrica de máquinas de escrever Olivetti adquiriu o imóvel em conjunto com um grande terreno ao lado. Construída a empresa, o casarão passou a ser a administração deste novo empreendimento.
Na década de 1990, esta unidade da empresa Olivetti encerrou suas atividades e alguns anos depois foi comprada pelo empresário e educador guarulhense Antônio Veronezi, que posteriormente transformou a área da fábrica no Internacional Shopping, sem interferir ou destruir a antiga residência.

Croqui da fachada feito para a construção do imóvel no início do século XX
O Casarão Saraceni que ficava em meio às árvores frutíferas acabou ilhado ao meio do estacionamento do shopping. Tombado pelo Conselho de Patrimônio Histórico de Guarulhos em 2000, o casarão que ultimamente não estava sendo utilizado, estava em boas condições de conservação e preservação.
Em 2009, o vereador guarulhense Geraldo Celestino (PSDB) entrou com um absurdo pedido de destombamento do imóvel alegando que o patrimônio não possuía nenhum vínculo histórico e arquitetônico. Colocado em votação na câmara de vereadores da cidade, teve seu destombamento aprovado.
O mais aterrorizante é que o destombamento foi aprovado pelo Conselho do Patrimônio Histórico tendo como base um parecer técnico de Carlos Augusto Mattei Faggin, professor titular da FAU–USP e conselheiro do CONDEPHAAT. Neste parecer, Faggin afirma que “nada justifica a permanência desta obra. Podemos ficar sem o Casarão que não chega a ser relevante e nada tem de interessante”.
Esta frase soou como uma sentença de morte. A casa poderia ser demolida a qualquer momento, e foi o que aconteceu. A casa veio abaixo e em menos de dois dias já não havia nem mesmo resquício de entulho no local.

A escavadeira em meio aos escombros do casarão
Estivemos no local no dia da derradeira demolição e flagramos os últimos suspiros de uma memória agonizante. Compartilhamos abaixo imagens desta triste mancha na história de Guarulhos.
GALERIA 1 – Veja abaixo fotos do imóvel antes e depois da demolição tiradas na mesma posição:
GALERIA 2 – Confira outras fotos (clique para ampliar):
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