Tão ruim ou até pior que a demolição de imóveis antigos é a descaracterização dos mesmos. Periodicamente publicamos aqui algumas casas que sofrem alterações, muitas delas irreversíveis.
Hoje vamos apresentar um edifício que estão tão deformado em sua fachada que sequer é reconhecido por entusiastas da arquitetura, mesmo tratando-se de um edifício com assinatura de arquiteto renomado.
Localizado no número 901 da Rua Augusta, o Edifício Nicolau Schiesser é uma das várias obras do célebre arquiteto Rino Levi (*1901 +1965), autor de edifícios memoráveis na Cidade de São Paulo, como o já demolido Columbus, os Edifícios Porchat, o Guarani e a sede do IAB-SP na Vila Buarque.
Construído entre os anos de 1933 e 1934, o edifício foi construído mediante encomenda do próprio Nicolau Schiesser que dá nome ao edifício. Schiesser era engenheiro industrial e veio da Suíça para o Brasil no início do século 20 contratado pelo Conde Matarazzo para projetar e edificar as tecelagens das Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo.
Como ele acabou casando no Brasil e ganhou bastante dinheiro trabalhando para o conde, Schiesser acabou por investir na construção de edifícios como este na Rua Augusta e o Edifício Paysandú , no largo com o mesmo nome.
O Edifício Nicolau Schiesser é uma das mais belas criações de Rino Levi, que buscou uma harmonia com os vizinhos do prédio à época (todos casas e casarões) erguendo um edifício baixo e amplo, aproveitando bem o amplo terreno que possui um grande declive que vai aumentando à medida que se distancia da entrada, na Rua Augusta.

Entretanto, parece que há uma sina que persegue as obras do grande Arquiteto Rino Levi aqui em São Paulo.
Boa parte de suas obras estão ou demolidas (Edifício Columbus) ou em má conservação (como a sede do IAB e os Edifícios Porchat) e com este edifício não foi diferente, pois a partir do início dos anos 1980 o edifício passou a sofrer inúmeras modificações na sua entrada, de maneira que hoje mesmo estando um tanto quanto preservado é impossível de ser reconhecido observando-se ao nível da rua.
Observar o Edifício Nicolau Schiesser a partir do nível da rua é observar um grande desrespeito à obra do arquiteto Rino Levi.
Foram erguidos quatro pequenos salões comerciais sem qualquer respeito as arrojadas linhas arquitetônicas traçadas lá no distante ano de 1933.
Até mesmo a bela e delicada entrada principal do imóvel, que era caracterizada por um baixo portão de madeira que dava no saguão do imóvel, foi substituída por um gradeado comum e por uma porta de aço que mais parece uma porta industrial do que a entrada de um edifício residencial.
Este tipo de intervenção pode ser até mais danosa que uma demolição. Enquanto a demolição remove a obra por completo deixando apenas a saudade, a descaracterização influi diretamente na obra assinada pelo arquiteto. É como se rabiscassem um “bigodão” na Mona Lisa ou se construíssemos um “puxadinho” no Museu do Ipiranga.

Abaixo, planta baixa e corte transversal do edifício:

Veja algumas outras imagens do imóvel (clique na foto para ampliar):
Atualização – 12/03/2014:
Conforme já prevíamos o Edifício Nicolau Schiesser não sobreviveu. Graças a inércia da dupla DPH/CONPRESP, nada foi feito para salvar o prédio projetado pelo célebre arquiteto Rino Levi.

Apesar de parecer bastante depreciado por fora, devido aos “puxadinhos” que foram feitos ao nível da rua, o imóvel permanecia preservado no seu interior. Mesmo assim sucumbiu diante da ganância das construtoras e da sede por novos terrenos em regiões nobres da capital paulista.
A cidade está tendo inúmeros imóveis significativos indo ao chão e tanto o órgão como a diretoria parecem estar em um sono digno de Branca de Neve, será que acordarão a tempo de preservar o cada vez mais minguado patrimônio histórico de São Paulo ?
Veja mais fotos do local após a demolição (clique para ampliar):
Crédito: Glaucia Garcia de Carvalho
Agradecimentos: Roberto Schiesser e Romano Guerra Editora
Bibliografia e leitura recomendada:
- ANELLI, Renato; GUERRA, Abílio; KON, Nelson. “Rino Levi. Arquitetura e cidade”. São Paulo, Romano Guerra, 2001
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