Casa Demolida – Rua Durvalina 226

Entre todas as casas que já visitei e fotografei desde que iniciei o São Paulo Antiga, existem algumas que de certa maneira são marcantes ou simbólicas para mim. A que apresento hoje conheço desde a minha infância e vê-la desaparecer foi uma tristeza muito grande, trata-se desta preciosidade abaixo:

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Localizada no número 226 da Rua Durvalina, tratava-se de uma das mais interessantes e belas casas da Vila Matilde. Conheci-a ainda quando criança, quando frequentava a igreja Nossa Senhora do Belo Ramo para fazer a primeira comunhão.

A paróquia era prática tanto para os meus pais por ser perto do comércio deles – uma mercearia – como era muito interessante para mim, já que ia acompanhado de alguns colegas que estudavam comigo no Colégio São José.

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Foram muitas vezes que sentei na calçada desta casa aguardando coleguinhas de escola para entrar no curso de catecismo, sempre impressionado com o tamanho da casa.

Com a vida adulta, já que até os tempos atuais passo ali para visitar um grande amigo meu, passei a notá-la de uma forma diferente. Tratava-se de uma casa ampla realmente, mas de arquitetura simples e racional somada a um bom gosto da fachada e um jardim sempre cuidado de maneira impecável.

Porém em 2015 tudo isso começou a ser passado. Meu amigo que é vizinho dela me alertou que o imóvel havia sido vendido e que era bom que eu me apressasse pois iriam colocá-la abaixo.

Em meados de 2016 de fato de a demolição se tornou realidade e o belíssimo casarão foi abaixo, sem deixar rastros. Derrubado para dar lugar a isso:

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Uma residência encantadora veio abaixo para dar lugar a sete sobradinhos minúsculos e de arquitetura duvidosa que mostra claramente o quanto estamos pagando cada vez mais caro para morar cada vez pior. Da casa que existia só restaram quatro árvores, uma na calçada e três outras dentro do quintal dos imóveis, que ficavam originalmente em outra posição.

Sai o casarão de janelas amplas, jardim agradável e cômodos confortáveis para entrar em seu lugar residências que mais parecem ter saído de um cenário montado com brinquedos lego.

O que me espanta ainda mais é o preço destas casas. Em um site de imóveis os mesmos estão sendo oferecidos pela bagatela de R$750 mil reais. Inacreditável!

Ao menos a velha casa ficou na minha memória com ótimas lembranças da infância e adolescência… e registrada nas fotografias.

Veja mais fotos do casarão demolido (clique para ampliar):

Atualização – 21/08/2020:

Tivemos a grata surpresa de receber o e-mail da senhora Marlene Catharino Vieira que foi moradora desta residência. Ela nos enviou a fotografia abaixo, aparentemente do início dos anos 1980.

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16 respostas

  1. É insano o que está acontecendo com o mercado imobiliário de São Paulo. Estão derrubando casas de verdade para construir no lugar verdadeiras gaiolas a preço de ouro. Nos bairros do Tucuruvi, Parada Inglesa e Jardim São Paulo está assim, com essa moda dos “sobrados”. São pequenos, feios e caros (preço médio de R$ 600 mil). Sério que tem gente que compra?!

    1. Pior que compram… É bem complicado isso, visto que financiar imóvel novo é mais fácil (ou menos pior, eu diria) do que um imóvel usado…

      1. Isso que você disse é a pura verdade. A principal financiadora de imoveis pro “povão” é a Caixa e ela não financia imóvel usado. A não ser que seja para uma construtora/incorporadora fazer um enorme empreendimento pra vender financiado pela própria Caixa. Não sei ao certo ela hoje em dia a Caixa não está financiando imóvel usado, mas se não é muito difícil conseguir. Estava falando disso hoje com a dona de uma loja vizinha a minha.

  2. De partir o coração ver casas lindas assim virando só lembranças.

    Falando de valores, há de se pensar que apesar desses imóveis novos estarem custando muito caro, uma casa antiga e aconchegante com quintal também está muito distante do valor que a maioria(e que inclusive gosta e poderia preservar) pode pagar. Se os sobrados são vendidos a este valor, imagine quanto não pagaram na casa – na verdade o valor está hoje em seu terreno.

    Um efeito de puxa-puxa, que um fato desencadeia outro, mas que me faz pensar que estou uns 30 anos “atrasado”, da época que eu gostaria de estar de fato.

  3. Sim, estamos pagando cada vez mais caro pra morar cada vez pior, isso é fato. Quando eu e meu noivo estávamos procurando imóvel, fomos visitar alguns desses sobrados recém construídos, sendo vendidos como uma maravilha fenomenal. O quarto mal e porcamente cabia uma cama de casal. Em outro, o banheiro era tão minúsculo, que me perguntei como iríamos colocar um box ali. Pior que a tendência é bem isso mesmo: estamos praticamente condenados a morarmos em lugares cada vez mais claustrofóbicos, e pior, a preço de ouro. Um horror.

  4. Lindíssima abordagem sobre “a casa”.
    Que nostalgia! Que coisa boa de ver e…ler!
    Por falar em ler, vi recentemente um artigo que “as belas construções fazem bem para a saúde”. Pesquisem para ver.
    Parabéns pela abordagem sobre a demolição de uma deliciosa pérola arquitetônica…que fica na lembrança e, graças a você, nos registros.

  5. Morei minha infância no Brás e conheço muito bem a força destrutiva do mercado imobiliário de São Paulo. Hoje em dia moro na Vila Matilde e posso afirmar que essas aberrações geminadas proliferam pelo bairro. Uma casa vai abaixo e dois ou até três sobrados tomam seu lugar com preços EXORBITANTES!!!

  6. O que acontece é que o número de pessoas nas cidades só tem crescido e para dar espaço a todos, eles estão infelizmente demolindo essas belas casas que ocupavam um bom espaço no quarteirão, para construir no lugar várias casas no mesmo terreno, mas que são do tamanho de um ovo, ou seja, estão espremendo as pessoas nas grandes cidades para caber mais.

  7. O que acontece é que as cidades a cada ano vêm crescendo e ninguém sabe como dar conta disso, então o mercado imobiliário sabendo disso compra essas casas belas e espaçosas que ocupam boa parte de um quarteirão, mete a marreta nelas e constrói no lugar duas ou mais casas no terreno, mas que são do tamanho de um ovo e como o sonho da maioria das pessoas é ter uma casa própria eles acabam pagando caro e morando mal.

  8. Reprisando o que um leitor já falou, é insano o que está acontecendo em todas cidades do Brasil. Parece que viemos de lugar nenhum e vamos para nenhum lugar. Belos prédios e casas sendo impiedosamente demolidos para construção de pombais ou favelas de classe média. E avançando por áreas verdes quando uma gigantesca reforma urbana deveria ser feita em todo o país. Uma tristeza que é possível e inapelavelmente comum nesse pobre país, assolado pelo interesse, gana e falta de escrúpulos e respeito com tudo o que foi construído.

  9. Fui criado na Vila Matilde, também fiz primeira comunhão no Belo Ramo e esta casa realmente habita minhas memórias e fiquei triste quando soube da sua venda, tem uma outra parecida numa rua paralela a Av Joaquim Marra, tenho a curiosidade de saber se o projeto é do mesmo arquiteto ou era tendência da época.

  10. Vejam: a casa abrigava UMA família. Em seu lugar, foi erguido um conjunto de casas para que abriguem…VÁRIAS famílias. Este é o ponto de interesse. Captaram?
    A casa antiga, de certa forma, me lembra a do Ayrton Sena, na Vila Maria, já documentada aqui no São Paulo Antiga.

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