Conforme o tempo passa pensamentos e percepções vão mudando bastante, alterando a forma com que encaramos o mundo e o cotidiano nos mais diversos prismas da vida. E algo que mudou bastante de um século para cá foi a noção de preservação e proteção ao patrimônio histórico.
Até ao menos a metade do século 20 era muito baixa – para não dizer nula – a consciência de autoridades e intelectuais paulistanos com a preservação. Foi desta forma que a São Paulo antiga colonial praticamente desapareceu por completo, restando raros exemplares na cidade como o atual Museu de Arte Sacra cuja construção foi concluída em 1822.
Até mesmo o símbolo máximo da história da Cidade de São Paulo, o colégio e seu pátio que foram palco da primeira missa celebrada por aqui em 1554 não existe mais. O atual é uma réplica construída entre 1954 e 1979, época onde a noção de patrimônio já era uma realidade e a dor na consciência de alguns de nossos políticos pesou.
O curioso é que neste mesmo local o Palácio do Governo foi erguido e demolido em menos de 100 anos e, se hoje estivesse por lá, também seria um patrimônio histórico, por ser obra do arquiteto Ramos de Azevedo.
O texto abaixo, publicado no jornal A Gazeta em 1929 mostra muito esta ausência de consideração ao patrimônio histórico. Ao olhos de quem lê o artigo hoje o texto ultrapassa a crítica à simplicidade do imóvel e chega a ser ofensivo aos donos e ignorante sob o ponto de vista da memória.
O artigo do extinto jornal apresentado expressa bem como era a visão elitista de parte da intelectualidade paulistana da época, onde o simples deveria desaparecer. Este pensamento foi um desastre para São Paulo pois realmente quase todas as lembranças da São Paulo colonial, imperial e mesmo da primeira fase da nossa república foi abaixo.
Hoje conta-se nos dedos as construções da cidade que foram erguidas antes de 1900. Se removermos da lista as edificações públicas ai nem precisamos dos dedos dos pés, bastam os das mãos… e sobrarão dedos.
Como exemplo cito este relevante sobrado de 1896 que era localizado no bairro da Mooca até alguns anos atrás na Rua Wandenkolk. Sem jamais ter sido tombado foi demolido para dar lugar a uma construção mais moderna. Um crime contra a história da cidade.

O sobrado de 1896 da Rua Wandenkolk – Demolido e esquecido
Mesmo tendo passado tanto tempo desde o artigo apócrifo da Gazeta, parece que muitos paulistanos ainda não aprenderam o valor histórico de suas construções. Estes que dão as costas a memória arquitetônica de sua cidade são os mesmos que viajam à Europa e fotografam maravilhados imóveis históricos que poderiam ser vistos aqui mesmo, junto de suas vidas.
São Paulo, e o Brasil também, precisa urgentemente pensar na formação de profissionais dedicados à preservação do patrimônio histórico, na ampliação do quadro de técnicos de órgãos como o Condephaat, e na capacitação de cidadãos interessados em preservar sua história, antes que o seu legado seja lembrado apenas através de fotografias.
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