A absurda demolição do Palacete do Barão do Rio Pardo

Passou despercebida da maioria das pessoas a recente demolição do pouco que restava de um dos mais antigos imóveis históricos do bairro de Campos Elíseos: O palacete que pertenceu ao Barão do Rio Pardo.

Este palacete tem muita relação com a existência do próprio São Paulo Antiga. A curiosidade deste jornalista em conhecer com detalhes a história do misterioso casarão é que me levou pouco tempo depois a publicar sua história, ainda em um blog pessoal, no que mais tarde, em 2009, viria a ser a “pedra fundamental” deste site.

Palacete Barão do Rio Pardo em 2009 (clique para ampliar)

Em uma longa disputa de saber quem era seu proprietário de direito, o casarão sofreu um intenso desgaste o que praticamente ocorreu com quase todos os imóveis relevantes daquele bairro central. Uma vez desocupado por seus moradores foi invadido por grupo de pessoas sem teto que ao saírem deixaram o local  danificado.

Porém os ocupantes deixaram o edifício em 2009, uma década atrás. Durante 10 anos sua proprietária teve toda a possibilidade e condições de fazer do local um palacete digno de sua história novamente. Mas não o fez.

Pelo contrário durante todo este tempo nenhum esforço, por mínimo que seja, foi feito para que o casarão se mantivesse de pé e aos poucos sua situação foi piorando mais e mais.

Em 2010, uma parte do imóvel ruiu

Veio o desmoronamento de uma parede após uma grande chuva. Dois anos mais tarde caem outras paredes e nada é feito por quem se diz dono. Quando o desabamento atinge carros estacionados na rua, é a prefeitura que toma providências, instalando malotões.

O tempo passa e é instalado um estacionamento dentro da área do palacete. Faço denúncias à prefeitura e nada ocorre. O mais espantoso é saber que se consegue autorização para operar um estabelecimento dentro de um imóvel que corre risco de novos desabamentos. Uma tragédia anunciada, que demorou a vir… mas veio.

Corria a tarde 30 de janeiro de 2019 quando um temporal, desses típicos de verão, chegou em cheio na região central de São Paulo. A chuva junto ao vendaval foi uma fatal contribuição para o fim do Palacete do Barão do Rio Pardo.

O vento forte derrubou uma das paredes do segundo andar do casarão, que caiu sobre um dos veículos ali estacionados atingindo em cheio e de maneira fatal Leonardo Soares, 32 anos, funcionário do estacionamento. Ele morreria a caminho do hospital.

Denunciei este estacionamento como um potencial alvo de tragédia por diversas vezes e em diversas gestões: Kassab, Haddad e Dória. Nenhuma gestão tomou providência e o resultado está ai: uma pessoa morta.

Na foto o palacete já não existe mais (clique para ampliar)

SINAL PARA O FIM DO PALACETE:

Temos que pensar positivo, mas o trágico ocorrido passou a impressão de ser ansiosamente aguardado para um objetivo maior: a demolição do restante do palacete.

Apesar disso, uma apuração sobre o fim do Palacete do Barão do Rio Pardo trouxe a descoberta de que já estava decidido antes e independente da tragédia. Sua demolição foi solicitada pela proprietária diretamente ao Secretário Estadual de Cultura do Estado de S. Paulo e por ele foi autorizado, sem qualquer consulta aos conselheiros do Condephaat.

O São Paulo Antiga procurou o Condephaat com algumas questões a respeito de como foi autorizada a demolição do palacete. Abaixo as perguntas e suas respectivas respostas:

1) Qual a resolução do Condephaat onde foi votada e aprovada o destombamento do imóvel ?
A decisão de excluir o referido bem da lista de imóveis tombados do Bairro dos Campos Elíseos foi deliberada em sede recursal pelo Secretário de Cultura da época (2018).
2) Qual o critério usado pelo órgão para destombar este bem histórico?
A decisão de acolher ao recurso apresentado pelo representante da proprietária do imóvel se pautou no histórico de depredação do prédio, que foi invadido e ocupado por cerca de oitenta famílias, tendo sofrido danos que vieram a descaracterizá-lo.
3) Ao destombar o palacete o Condephaat não está abrindo um precedente perigoso, estimulando proprietários de imóveis históricos a não seguir com as manutenções para que ele possa, uma vez deteriorado, vir a cair?
O processo tem a juntada de documentação, por parte da proprietária,  que comprova que não ter havido desídia e sim danos resultantes da invasão e depredação, conforme atestam os Boletins de Ocorrência. Portanto não houve deliberação do Condephaat e sim decisão do Secretário de Cultura da época (2018), que, em avaliação de recurso, acolheu os argumentos apresentados pelo interessado. 
clique na foto para ampliar

UMA SUCESSÃO DE ABSURDOS:

O secretário em questão, que deliberou e autorizou a demolição sem consultar quem realmente entendia do caso foi o Sr. José Luiz Penna, um secretário cuja atuação durante o breve tempo em que esteve lá foi irrelevante. Sua nomeação foi feita pelo então Governador Geraldo Alckmin (PSDB).

Porém apesar de irrelevante Penna tomou uma decisão que não trouxe nenhum benefício ao cidadão paulistano, dando aval a demolição de um bem histórico que provavelmente ele jamais ficou a par de sua história. Um ato de selvageria contra o patrimônio histórico.

Gestão do Secretário Penna (foto) foi digna de pena.

Será que o fato de estar em ruínas realmente fazia sua demolição necessária ? Claro que não, exceto talvez pela cabeça de duas pessoas: sua proprietária que queria se livrar “do problema” e o secretário trapalhão que caiu na Secretaria da Cultura por conta destes acordos de eleição e que possivelmente entende zero de patrimônio histórico. Afinal, bastava ele pesquisar um pouquinho que saberia que em  São Paulo há, por exemplo, a casa bandeirista de São Miguel Paulista (Sítio Mirim) que resiste apenas com suas ruínas.

Ainda bem que Penna não é um secretário de cultura de Atenas. Se usasse o mesmo critério daqui por lá não sobreviveria uma única construção antiga por lá, afinal para ele deve ser “tudo ruína”.

O Ministério Público precisa se debruçar urgentemente sobre este caso. É preciso conhecer detalhes sobre este pedido feito ao Secretário Penna e se há relação de amizade entre ele a proprietária da área que um dia foi um palacete. Não podemos deixar cair no esquecimento.

Procurado em 15 de abril pela reportagem do São Paulo Antiga, o ex-secretário estadual de cultura até hoje não respondeu aos nossos questionamentos.

Não conhece a história do Palacete do Barão do Rio Pardo ? Clique aqui que contamos em detalhes.

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Conheça a história desta pequena rua do bairro da Bela Vista com apenas cinco residências. Nós fomos até lá para conhecer e trazemos a história aqui para vocês.

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Respostas de 23

  1. Este Penna é um horror. Tive o desprazer de conhecê-lo num encontro em que o propósito era fazer melhorias urbanísticas no bairro da Vila Madalena. Este Penna conseguiu desvirtuar por completo a reunião, atendendo as demandas de donos de bares, que estavam querendo ser menos fiscalizados pela lei do psiu. No final a reunião sobre a possível melhoria urbanística foi esvaziada de sentido por conta deste Penna.

  2. Esquerdista é assim mesmo. Esse sujeito sempre apareceu nas campanhas eleitorais como figurão do Partido Verde. Irrelevante não, prejudicias ao “meio ambiente” mesmo.

    1. É isso mesmo, eu me lembro desse fulano com a bandeira do PV de fundo. Eu acho que ele era(ou é?) presidente desse partido. Uma lástima!

    2. A obsessão de tantos em culpar a esquerda por absolutamente tudo de errado do país já se tornou patologia grave, psicose mesmo, e das sem cura, faz tempo…

  3. Mas que palhaçada. Ok, as leis de tombamento costumam não beneficiar quase nada aos donos, mas acabaram de abrir um perigoso precedente — e com o custo adicional de uma vida! Sabe o que é pior? Vai ficar por isso, mesmo.

  4. pessoas erradas nos cargos errados…..em 34 anos como arquiteto….Condephat…..Conpresp…..pouco fazem ao patrimônio histórico desta grande cidade!!!! tudo politicagem !!!

  5. Sinceramente muitos proprietarios desses imoveis historicos (descendentes ou compradores) pouco estao se lixando para a historia! O Ministerio Publico provavelmente tambem nao se manifestara assim como nao havera puncao ao ex-secretario e por tabela a Secretaria e Condephaat por omissao. Aos poucos nossos patrimonios estao indo embora para se tornarem arranha-ceus ou esracionamentos que em nada favorecem a sociedade!

    1. Cabe dizer que “destombamento” não existe e, se caso existir é sim caso de polícia. A situação teria sido resolvida se os moradores ou interessados fizessem uma manifestação pública em prol do bem. Os quesitos acham-se presentes nos artigos 215, 216 e 225 da Constituição Federal. Além disso, um bem tombado ou o simples pleito público em sua defesa, deve sim ter a tutela do Estado e pode ser perfeitamente recuperado, mediante reclamo público comprovado!

      1. Constituição? Letra morta Antonio Carlos. Justamente tento com afinco fazer a Procuradora Geral da República se manifestar como se manifestou em 19/12/2018 através do Parecer n. 291/2018 – SFCONST/PGR Sistema único n. 245.290/2018. De forma mais abrangente digamos. Tá indo aos poucos.

  6. Denuncia muito válida. É preciso refazer o percurso desta barbaridade, para punir os responsáveis e alertar os demais gestores públicos que crimes dessa natureza não serão mais tolerados.

  7. É um grande desatino o que estão fazendo com a memória de SP! Espero daqui a 90 anos demolir a casa desse Penna junto com qualquer reminiscência de sua existência nojenta.

  8. Quem morou neste imóvel? Existem fotos do local, em anos passados? Deveria haver uma forma de se processar a família.

  9. Na minha infância eu conheci esse palacete ainda habitado por uma família.

  10. Boa noite, Douglas!

    Parabéns pelo seu excelente trabalho à frente do “São Paulo Antiga”, que venho acompanhado já há algum tempo.
    No próximo mês de junho tenho participação com uma palestra num encontro sobre patrimônio cultural no município de Rio Bonito, Região Leste Fluminense, Estado do Rio de Janeiro. Entre exemplos de restaurações e de destruições e de desrespeito do patrimônio cultural, gostaria de utilizar o triste caso que você nos apresentou aqui (com os devidos créditos): o da demolição do Palacete do Barão do Rio Pardo. Você me autoriza?

    Gostaria de também poder manter contato com você. Seguem meus contatos abaixo.

    Sou presidente do IAPA-INSTITUTO AMIGOS DO PATRIMÔNIO CULTURAL. Temos uma página no Facebook e administro também o grupo PATRIMÔNIO CULTURAL, além de um grupo homônimo no WhatsApp. Convido-o a participar.

    Abraços,

    PROFESSOR CLARINDO
    IAPAC
    amigosdopatrimonio@gmail.com
    (21) 97232-7877 (WhatsApp)

  11. Douglas, bom vejo que continua ficando estupefato. Pra mim é corriqueiro já. Temos, tanto vc quanto eu nos ocuparmos justamente em documentar da melhor forma possível tudo isso e deixar isso pro anais. Ut outrosilezei técnicas modernas de scanneamento a laser em 3D pro Casarão. Fica uma memória virtual. Temos que nos dobrar aos interesses outros. eu também continuo estupefato só pra te dizer.

  12. Oi, Douglas! tudo bem? o Ministério Público chegou a ser procurado (chegou a ser protocolada alguma denúncia) acerca das violações ao patrimônio histórico? legalmente, é o órgão responsável para tanto. Muita admiração por seu trabalho! abraços!

  13. Em 1988 trabalhei no prédio em frente (onde hoje é a Porto Seguro, na época sede da Pirelli) e já na época o palacete versava em más condições e franca decadência, tive a oportunidade de entrar no mesmo – moravam ali algumas famílias ma somente no anexo, a casa principal estava desabitada e ainda com alguns móveis e lustres em péssimo estado, apesar de tudo podia-se entrever a beleza e glória do imóvel na qualidade dos pisos, dos ornamentos nos tetos e até mesmo em algumas paredes com restos de papel de parece, lamentável!
    Aproveito e deixo a sugestão, caso ainda não tenha visitado e feito alguma matéria a respeito, em conhecer a casa onde funciona o 7º BPM na Av. Angélica, imóvel muito interessante e razoavelmente bem conservado.

  14. na resposta numero 2 ridículo dizerem que o imóvel foi ocupado por 80 famílias isto é um exagero, pois sempre entrei nesse casarao , o máximo de famílias la dentro não passava de cinco famílias sendo que o prédio demolido so comportava essas famílias ( pai mãe e filhos ) e em um galpão pequeno com os familiares separados do prédio demolido , naquele terreno havia varias arvores frutíferas que foram envenenadas pelo responsável da locação este mesmo mandou asfaltar todo o terreno causando assim a queda das arvores e consequentemente a derrubada das paredes do imóvel , e com as fortes chuvas do começo do ano causou esse desabamento da parede que matou o funcionário do estacionamento e era isso que faltava para mandar demolir esse lindo patrimônio do bairro

  15. Uma grande lástima!
    Foi através desse imóvel que conheci o São Paulo Antiga (a época, Abandonada).
    Em setembro de 2018 visitei o Centro Cultural Porto Seguro e aproveitei para rever e fotografar as ruínas do casarão.

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