Um dos imóveis mais antigos do outrora elegante bairro de Campos Elíseos, é este mal cuidado casarão que hoje se apresenta completamente em ruínas, como na foto abaixo:
Construído em 1880 para servir de residência a Antônio José Correia, mais conhecido como o 3º Barão do Rio Pardo, a casa fica localizado na Alameda Ribeiro da Silva esquina com a Alameda Barão de Piracicaba.
Até então o barão residia na cidade paulista de Casa Branca, onde possuía grande fazenda de café e atuava como benfeitor e político local, chegando a ser prefeito desta cidade.
Leal ao Império do Brasil e membro do Partido Conservador, Antônio José Correia recebeu a comanda imperial Ordem da Rosa e em 1887 foi alçado a barão. No ano de 1885, dois anos antes de receber seu título de nobreza, ele disputou e ganhou o cargo de deputado provincial. A imagem abaixo é sua publicidade eleitoral veiculada no jornal Correio Paulistano.
Como o barão residia em Casa Branca, as razões de ter construído uma nova residência na capital paulista não estão bem claras. Possivelmente por estar ligado à política ele pode ter mudado para São Paulo, para ficar mais próximo da então Presidência do Estado ou mesmo de outros colegas fazendeiros de café, que já haviam partido para o bairro de Campos Elíseos.
Mas era fato que ele não ficava o tempo todo no casarão da capital. Pesquisas em jornais antigos mostram intensa atividade beneficente e política do Barão do Rio Pardo em sua cidade do interior. Entre os anos de 1902 e 1904, quando foi prefeito de Casa Branca, era certo que não estava mais pelos Campos Elíseos.
Em 1898 foi feito um grande leilão para venda dos objetos e pertences do Barão do Rio Pardo que estavam no casarão (mais detalhes no final deste artigo). Talvez seja por isso que em 1906, quando faleceu aos 66 anos de idade, sua casa foi rapidamente vendida.
O novo proprietário era o cafeicultor paulista Manuel Ernesto da Conceição ou, como era mais conhecido, o Conde de Serra Negra (título de nobreza papal e não imperial).
Mas o Conde não parava muito em São Paulo e muitas vezes nem no Brasil. Ele era o mais importante e bem sucedido promotor do café brasileiro na Europa, e ficava muito tempo no velho continente, especialmente em Paris, onde mantinha o importante estabelecimento Café São Paulo. Muito provavelmente a casa foi comprada como um investimento imobiliário.
E isso se confirma com a locação do imóvel apenas dois anos depois da compra. O inquilino era um colégio interno para meninos chamado Instituto Sílvio de Almeida.
Fundado em 1903, o instituto estava há cinco anos estabelecido em um imóvel da mesma alameda Ribeiro da Silva, mas um pouco mais para baixo na esquina com a rua Conselheiro Nébias.
O imóvel ficou pequeno e incompatível para atender a demanda crescente de novos alunos, e a locação do casarão que estava vago e nas mãos do Conde de Serra Negra era um ótimo negócio para expandir a entidade sem mudar de bairro.
A partir deste momento, algumas informações sobre o instituto ficam nebulosas. Sabemos que a escola ficou por ali até 1913, mas para onde foi depois que saiu do casarão ou se fechou neste ano é uma incógnita.O fato é que em meados deste mesmo ano de 1913 o local passou a ser o quartel general do 4º Batalhão de Caçadores.
Em 1918 o casarão muda de proprietário mais uma vez. O Conde de Serra Negra vende a propriedade para Dario Sebastião de Oliveira Ribeiro.
O Doutor Dario Ribeiro, como era mais conhecido, mudou-se entre 1918 e 1920 para o casarão juntamente com sua esposa e seus quatro filhos, três mulheres e um homem. Era advogado e procurador judicial, formado pela Faculdade de Direito de São Paulo e também teve carreira política atuando como deputado estadual.
Viuvo de Edith Reis de Oliveira Ribeiro, ele viveria com os filhos no casarão até vir a falecer em 7 de fevereiro de 1946.

Nota de Falecimento
Após sua morte o casarão ficou de posse dos seus quatro filhos. Quem passou a liderar a casa foi o filho homem de Dario, Pedro de Oliveira Ribeiro Neto, este uma notável figura do meio cultural paulistano.
Homem das artes e das letras, Pedro Oliveira Ribeiro Neto teve enorme participação na Academia Paulista de Letras e também foi um dos idealizadores e fundadores do Museu de Arte Sacra.
Pode-se afirmar que ele foi o último dono conhecido do casarão, uma vez que faleceu em algum momento entre a década de 1980 e 1990.
O CASARÃO EM DETALHES:
Como quase a totalidade dos casarões e palacetes do bairro de Campos Elíseos, a antiga residência do Barão do Rio Pardo e de Dário Ribeiro e família era uma construção magnífica.
Tombada como patrimônio histórico pelo Condephaat na década de 1980, o imóvel é localizado no número 180 da alameda Ribeiro da Silva, mas também possui entrada pela alameda Barão de Piracicaba.
Construída no canto do terreno, deixando o restante livre para as cocheiras (depois garagens) e área verde, possuía um belo jardim com árvores frutíferas, como abacateiro, jabuticabeira e ameixeira, além de pinheiros e centenárias e araucárias. Algumas destas árvores estão por ali até hoje, dividindo o espaço com um estacionamento.
Na arquitetura, o casarão é repleto de detalhes e adornos por toda a sua fachada e frontão, possui desenhos florais nos ladrilhos da varanda e muitos elementos decorativos em ferro e madeira.
Os portões são importados da França, e no seu interior o assoalho é feito em madeira de lei, enquanto portas, escadas e janelas eram em pinho de riga.
Mas, com toda certeza, um dos principais detalhes do casarão são dois bustos que existiam na lateral do imóvel e que há muito tempo foram roubados.
Algumas pessoas que moram na região costumam chamar o imóvel de Palacete Princesa Isabel. Este costume começou desde que os dois bustos desapareceram. Alguém lançou o boato que os bustos eram da Princesa Isabel e a lenda pegou.
Na verdade os bustos eram de Adelina Correia e Ana Cândida Correia, respectivamente esposa e filha do Barão do Rio Pardo. Levados a mais ou menos 15 anos atrás, restaram apenas as marcas.

Detalhe do pouco que sobrou do andar superior (Foto: Renato Bettini)
Do passado glorioso deste casarão, que teve tantos proprietários importantes e nobres o que resta são ruínas. Depois do falecimento de Pedro Oliveira Ribeiro Neto o casarão sem seu dono ficou largado e abandonado, logo sendo invadido e transformado em cortiço, assim permanecendo até 2008.
O período em que foi invadido contribuiu demais para acelerar a deterioração do imóvel. Louças de banheiro, espelhos, madeiras nobres e ferro foram retirados e vendidos.
Não sabemos quem são os donos atuais e se os mesmos são herdeiros da Família Ribeiro (a pesquisa está em andamento), entretanto desde 2010 um estacionamento de veículos funciona na área do que antes foi o quintal da velha residência.
Como é possível dar licença para um estabelecimento operar em uma área de risco, com um casarão cujo andar superior tem relativo risco de desabamento ? E como podem autorizar um estacionamento em um bem tombado e não exigir nenhuma contrapartida de reforma ou restauro ? Estas são perguntas que o poder público precisa responder aos cidadãos.
Enquanto o imóvel fica nesta triste situação, uma coisa é certa: o casarão construído pelo Barão do Rio Pardo é prisioneiro tal qual a coluna romana por trás do arame farpado da foto acima.
É prisioneiro de um poder público ineficiente na preservação de seu patrimônio histórico, cujas autoridades são – no mínimo – coniventes com a destruição de nossa história.
Galeria de fotos 01 – (imagens de 2008)
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Galeria 02 – Outubro de 2009
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Galeria 03 – Março de 2010
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NOTA – FAMÍLIA VENDE TUDO:
Em 1898 foi veiculado nos jornais paulistas um anúncio de leilão dos objetos que pertenciam ao Barão do Rio Pardo e que estavam neste casarão. Abaixo a publicidade do leilão que foi publicado no jornal O Estado de S.Paulo:

Clique para ampliar (Crédito – O Estado de S.Paulo 6/12/1898)
A matéria completa sobre este leilão pode ser lida no blog do Ralph Giesbrecht, clique aqui.
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