Vila Harding (Palacete Anglo Parque)

Os ingleses são bastante presentes na formação de São Paulo em muitos aspectos. O mais conhecido deles, provavelmente, envolve a ferrovia São Paulo Railway cuja presença atualmente é mais observada em algumas estações ferroviárias, como a Luz e de Paranapiacaba. Outra participação marcante deles é na origem do nosso futebol.

Contudo os ingleses se fazem também presentes na urbanização de um importante bairro paulistano e também de seus arredores: o Tucuruvi. E tudo isso se deve a figura de William Harding.

Harding chegou ao Brasil no final do Século XIX para trabalhar nas ferrovias operadas por ingleses e no início do século seguinte, precisamente em 1903, adquiriu uma grande propriedade rural chamada Fazenda Itaquaravi.

Nos primeiros anos a fazenda ficou sem grandes alterações, até que posteriormente ele decide fazer um pequeno povoamento na região e, claro, também fixar ali sua residência em uma região ainda pouco habitada e bastante agradável.

Assim em 1912 William Harding contrata o empreiteiro civil de origem portuguesa João Fidalgo para erguer ali sua nova residência, que ao ser concluída seria batizada de Vila Harding. O palacete foi erguido no ponto mais alto de sua propriedade, bem no topo da colina, em uma área de entorno de 7000m². A edificação servia tanto de casa, quanto escritório.

A residência de William Harding em fotografia de 1941

Das terras pertencentes a Harding sairiam duas importantes estações ferroviárias do extinto Tramway da Cantareira, a Parada Inglesa e Tucuruvi.

No caso da primeira estação o nome foi uma adaptação do nome popular que a estação havia recebido. A pequena parada passava pelas terras de Harding e era conhecida como a “Parada do Inglês”, posteriormente tornando-se a Parada Inglesa.

Já a estação Tucuruvi é intimamente ligada a William Harding pois a parada foi criada graças à doação, por parte dele, do terreno onde ela viria a ser construída. O recorte de jornal abaixo, de janeiro 1913, atesta a doação da área para o poder público e a estação seria inaugurada em dezembro daquele mesmo ano.

Toda a região do Tucuruvi acabou basicamente se desenvolvendo ao redor da Vila Harding, que rapidamente virou a grande referência da região. Boa parte dos loteamentos que ali surgiram foram oriundos da velha fazenda Itaquaravi que aos poucos se transformava em um movimentado bairro paulistano, caminho para outras paragens mais distantes como a Cantareira e a vizinha cidade de Guarulhos.

William Harding viveu em seu palacete até falecer em 10 de abril de 1942. O cortejo, inclusive, saiu de sua residência até o Cemitério de Santana (Chora Menino) onde ele foi sepultado no dia seguinte.

Após sua morte o palacete pouco depois troca de mãos sendo vendido para João Fidalgo, que como mencionamos no início deste artigo foi seu construtor. Na década de 1940 Fidalgo era conhecido como um controverso empresário do ramo da construção civil, devido a inúmeras casas problemáticas que construiu na região, cujo apelido era “Cidade Maldita”.

Em 1951 a Câmara Municipal de São Paulo, através do então vereador Cantídio Nogueira Sampaio, propôs a desapropriação da residência de João Fidalgo para ali construir-se um parque infantil. O projeto acabou sendo vetado.

O palacete em fotografia sem data (clique para ampliar)

O palacete ainda sobreviveria por um bom tempo, até meados da década de 1970 quando seria demolido. Após sua derrubada a área do terreno ficou vazia por alguns anos até que uma praça – que não vingou – foi construída no local: a Praça Arquiteto Flávio Império.

Poucos anos depois a praça deu lugar aos edifícios da Subprefeitura Santana-Tucuruvi que até hoje funcionam ali onde outrora existiu a residência de William Harding.

Notas:

*1 – João Fidalgo chegou a ser ameaçado de expulsão do Brasil em meados da década de 1940 devido a vários empreendimentos deficitários que construiu na região do Tucuruvi. A mais conhecida delas é a Vila D.Pedro II onde algumas ruas tem nome dele e de seus familiares.
*2 – A “Cidade Maldita” faremos um artigo especial, em breve, dedicado a essa vila de São Paulo.

Bibliografia:

* Apontamentos para a história de Tucuruvi – Lamberti, João – 1941 – pp 32 a 34
* O Estado de S. Paulo – Edição de 23/11/1924 pp 4
* Correio Paulistano – Edição de 11/04/1942 pp 4
* Correio Paulistano – Edição de 14/04/1942 pp 11
* Diário da Noite – Edição de 25/03/1948 pp 5

Compartilhe este texto em suas redes sociais:
Facebook
Twitter
WhatsApp
LinkedIn
Siga nossas redes sociais:
pesquise em nosso site:
Cadastre-se para receber nossa newsletter semanal e fique sabendo de nossas publicações, passeios, eventos etc:
ouça a nossa playlist:

Casas da Rua Isabel

Tenho muito apreço pelo bairro da Vila Esperança. Quando nasci, em 1974, após sair da então Maternidade São José do Belém foi ali que fui

Leia mais »

Respostas de 14

  1. Sou nascido em 77 e me lembro de haver a casa até meados da década de oitenta. Curiosidade: uma novela foi gravada na casa. Quanto ao fidalgo suas vilas de sobradinhos ainda existem, e dois prédios pioneiros na av. Guapira, estão de pé até hoje.

  2. SOMOS UM POVO SEM HISTÓRIA, DESTRUÍMOS TUDO QUE TEM PELA FRENTE, SOMOS UM VAZIO NO PASSADO. CONHECI ESTE LUGAR PASSEI MUITO POR ALI, ESTUDEI O PRIMÁRIO NO SILVA JARDIM, EM FRENTE O CAMPO DA PORTUGUESINHA DO TUCURUVI, ANDEI DE TREM ATÉ GUARULHOS A PARTIR DO TUCURUVI, PASSEI PELA TORRE TIBAGI, SÓ MATA. SERIA MUITO BOM CONTAR A HISTORIA E MOSTRAR O MONUMENTO.

  3. Podemos entender como “casas problemáticas” casas mal feitas? Provavelmente eram construções com material de segunda linha ou talvez elas eram ruins mesmo, sem lógica, desde a planta. Seria isso?
    Mesmo assim, acredito que tais imóveis eram melhores, ao menos esteticamente, do que muitas que vemos por aí hoje em dia. A época, anos 40/50, era mais propícia às casas com começo, meio e fim. Ainda que deficitárias.

  4. Também gostaria de ver uma matéria sobre meu tio avô Coronel Ary Gomes. Ele era da Força Pública e foi o primeiro professor e o o primeiro boticão de Tucuruvi. Tem discurso dele na pedra fundamental da Igreja do Menino Jesus. Outra figura importante foi o Monsenhor João Ligabue, pároco dessa Igreja por mais de 40 anos. Histórias da Zona Norte.

  5. É uma tristeza, sempre outros interesses, apagando vestígios de uma história.

  6. A Zona Norte de São Paulo sempre teve tradição, uma pena que na Metrópole a tendência atual seja a predominância de inúmeros edifícios com apartamentos, de arquitetura discutível e que em nada tornam a cidade mais aconchegante e atrativa.

  7. gostaria de saber mais a respeito das casinhas que foram construídas pelo fidalgo moro ali a 75 anos , o começo foi muito difícil , só a casinha sem estrutura nenhuma , estou escrevendo minha historia

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *