Uvas Marengo

Poucas pessoas hoje em dia conseguem imaginar que a zona leste de São Paulo já foi uma região agrícola e de produção de vinhos. Bairros hoje agitados e repleto de edifícios como Belém, Tatuapé e Penha já foram paragens tranquilas onde a vida era bem mais pacata e dedicada a agricultura, e até ao turismo de final de semana.

Até os primeiros anos do século 20, era comum pessoas abastadas terem suas residências na região central de São Paulo e suas casas de campo para os finais de semana em locais além do marco da meia légua, na zona leste e até na charmosa Vila Galvão, na vizinha cidade de Guarulhos.

Nesta época, a família Bresser possuia uma fazenda no Belém, João Bohemer produzia sua premiada cerveja na Penha e os Marengo produziam suas uvas niágara, que chegaram ao Brasil através do patriarca da família, Benedito Marengo, em 1894, quando este já vivia há 10 anos em terras brasileiras.

As uvas niágara de Benedito Marengo logo tornaram-se nacionalmente conhecidas e foram importantes para o crescimento dos negócios da família. Os 24.000 metros quadrados do terreno que Marengo comprara para a produção de uvas no Tatuapé (então Brás, pois o bairro ainda não existia oficialmente), logo precisou ser ampliado e foram adquiridos mais 92.000 metros quadrados onde hoje é a Vila Gomes Cardim.

Sucesso, não havia quem não conhecia as “uvas marengo” e suas atividades e de seu filho e sucessor, Francisco Marengo, foram fundamentais para o desenvolvimento do que hoje é o bairro do Tatuapé.

Hoje, ainda é possível notar a presença da tradição de Marengo nas ruas do Tatuapé. Seja através de ruas que levam os nomes de familiares ou seja por este belo portal que está esquecido na avenida Celso Garcia, já quase no bairro da Penha:

Painel de pastilhas sobre a entrada do depósito de plantas (clique para ampliar)

O local, até o início de 2009 ainda funcionava. Porém em meados do ano passado a entrada da antiga propriedade dos Estabelecimentos Agrícola Marengo foi fechado com uma parede de tijolos.

Hoje, a única lembrança visual das uvas marengo nesta região, é este belíssimo mural de pastilhas, que mostram as tão famosas uvas. Notem que o painel é tão antigo que o número de telefone é de apenas cinco dígitos.

Infelizmente, em 2011, tudo foi demolido junto com imóveis vizinhos para dar lugar a um novo edifício residencial. O pórtico poderia ter sido preservado, mas isso é exigir muito do nosso aculturado setor de construção civil.

Nesta foto da visita de autoridades às propriedades da vinícola Marengo o patriarca, Benedecto Marengo, é o antepenúltimo da esquerda para a direita.
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Cia Nacional de Tecidos (Edifício Prestes Maia)

Localizado no bairro da Luz , na rua Brigadeiro Tobias, o antigo edifício da Companhia Nacional de Tecidos é hoje um dos inúmeros edifícios decrépitos e abandonados que encontram-se na região central de São Paulo. A empresa faliu em 1991.

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Respostas de 30

  1. Todos os dias passo por este muro pra ler o tel ainda com 5digitos.
    É esse um dos detalhes que nos remetem a outra SP.
    E é um dos meus pontos da Av Celso Garcia que quero retratar nos meus futuros jobs.
    Abç Douglas!

  2. Muito legal! Moro num condomínio quase vizinho a esse ponto!
    Esse site é muito enriquecedor. Não sou de SP, mas já aprendi um monte apenas lendo essas páginas e agora sei um pouco mais sobre o bairro onde moro. Parabéns pela iniciativa e podem contar comigo p/ divulgação do site!

  3. Douglas, seu trabalho, já disse em outras oportunidades, é fantático! Agora, vejo que está ainda mais profundo, com mais conteúdo, com história… Parabéns! Isso, logo, logo dará um livro… Ou uma enciclopédia! Abração!

  4. esse terreno enorme poderia ser aproveitado pela construção civil e, eventualmente, preservar ao menos o mural com um portão metálico embaixo para entrada (ou saída) de veículos, ou então uma servidão de passagem já que o terreno termina direto numa outra rua como pode ser visto no mapa…

  5. obrigado, há 60 anos que pensava que o Marengo uvas, fosse de um sitio em santo amaro. obrigado

  6. quando criança na Bela Vista,passava m carroceiro que gritava uva…uva do marengo. 1947-48. e eu sempre pensei que fosse de um sitio do marengo em Santo Amaro.obrigado.

  7. Famílias importantes do passado, como os Bohemer, os Bresser, os Marengo, fizeram a história do Brás, do Belém, do Tatuapé. Não podemos nos esquecer dos Matarazzo, que tinham sua fazenda onde hoje é o Parque do Piqueri. Da fazenda restou a Casa do Administrador, que é a sede administrativa do Parque e parte de suas terras e arvoredo. O terreno ao lado, palco de tantos entreveros com a Prefeitura, para que tivesse seu terreno doado ao Parque, hoje se transformou numa área de grandes edificios.
    O progresso e a explosão demográfica exigem o sacrifício da demolição e de construções modernas.

  8. Desde a primeira vez que passei pedaço da celso garcia observei esse mural! Ate falei com minha mae, mas ela nao me deu ouvidos. Percebi quando fecharam a entrada, morria de vontade de saber a historia, minha vontade era pesquisar o numero de telefone pra ver de que epoca era. Todos os dias eu passava por ali quando eu estudava na etec carlos de campos. Da qual, essa escola, merece uma atenção aqui no blog.

  9. Não acredito que um patrimonio dessa grandeza foi demolido. Pqe. não foi tombado? É uma tristeza saber que não guardam essas relíquias e sim pensam somente em construções e mais construções. Não que eu seja contra o progresso, mas vamos preservar o pouco que temos na capital

  10. …me lembro de criança, quando passava um moço vendendo uva na minha rua e que cantava mais o menos assim:
    “…uva, uva, uva,
    é uva do marengo,
    uva , uva, uva,
    é uva rosada e doce,
    é uva do marengo,
    é uva rosada e doce…”

    1. Boa tarde
      Vc têm razão. Tenho 78 anos e quando menino lembro-me da carrocinha puxada por um burrinho lá no bairro de Moema onde o condutor cantava:
      É uva, é uva do marengo, é uva rosada e doce, é uva do marengo.

  11. Fiquei muito triste ao saber que fecharam esse estabelecimento.Quando pequena fui muitas vezes com meu pai e posteriormente com meu marido comprar mudas de árvores frutíferas. Meu avó e meu pai sempre nos disserem que qualquer muda que você comprasse lá era pegava sem problema algum. Imagine que tenho em minha casa um pé de jabuticaba comprado lá. Que saudades! Você via aquela portinha pequena e quando entrava se surpreendia com o tamanho do estabelecimento. Uma pena!!! gostaria de saber o que houve p/ terem acabado com algo tão bom para todos nós. muito melhor do que a construção de mais não sei quantas torres que vão deixando nossa cidade cada vez mais impessoal.

    1. Lí e gostei de seu comentário. Escrevi um opusculo sobre a familia e poderei te enviar por correio.
      Assim como um dvd sobre o mesmo tema.

    2. Flavia que saudades de vc.e de sua família.Passamos nossa infancia juntas e depois casamos e nos perdemos.Se vc.receber este meu e-mail,por favor responda.Beijos

  12. Quando eu era criança fui lá com meu pai algumas vezes comprar mudas de arvores frutíferas. Lugar amplo e agradável. Compramos mudas e plantamos em minha antiga casa na Penha. Foram pés de Mixirica, Laranja Bahia, Ameixa, Romã, Limão e até um Abacateiro que vi crescer e colhi os frutos. Hoje tudo virou garagem. Na antiga casa onde vivi minha infancia não tem mais o Abacateiro, os pés de laranja, etc… Tudo virou garagem . Inclusive o Marengo. Fiquei triste e emocionado. Mas tenho o Marengo intacto em minha memória.

  13. Quantas vezes passei em frente a esse muro e curiosa olhava a entrada com o numero de telefone antigo…
    Morei ali perto por 35 anos, vi residências antigas irem para o chão, tudo para construir espigões ridículos.

    Tatuape, que antigamente era tranquilo virou um inferno super faturado, super valorizado e nada mais.

    E a história perde mais uma vez, o que vamos deixar pra nossos filhos???

  14. Pôxa achei super legal esse mural,tem o meu sobrenome,é bom saber que a família Marengo fez história ai em São Paulo,pois eu nasci e sempre morei no interior de são Paulo (Boituva) abraçossss

  15. Família foi pioneira na produção de uvas e vinhos
    (Fonte Jornal da Tarde 03/04/2006)

    “A produção dos Marengo, com o apoio do cientista Luiz Pereira Barreto, ajudou a suplantar as uvas estrangeiras, importadas em barricas da Europa, que obtinham enorme sucesso no País. Na época, ninguém conseguia acreditar em produção nacional do fruto, típico de climas temperados. Para combater o preconceito, Francisco Marengo resolveu abrir ao público a vinícola do Tatuapé, que tinha quase cem mil metros quadrados.

    Logo o sucesso chegaria. Aos poucos, os ambulantes levariam pelo bairro os carrinhos abarrotados da fruta gritando: “Uva, olha a uva do Marengo.” Era tanto êxito que jamais teria passado pela cabeça de Benedito, genovês que deixara a Itália para ir aos Estados Unidos, decidira ficar em Buenos Aires e, por fim, aportara no Brasil. Era a uva de variedade Niagara, cujas mudas trouxera dos Estados Unidos e aclimatara no País. Em 1897, com apenas 49 anos, Benedicto morreria. Seu filho, Francisco, continuaria a trajetória.

    Cláudio César Marengo, que substituiu Francisco, gostava de contar que as vinícolas do Sul se desenvolveram a partir da chácara Marengo. Segundo ele, Celeste Gobato, formado por Francisco, foi para o Sul, levou as mudas e lá se dedicou a implementar e desenvolver os vinhedos.

    A área onde ficava a Chácara Marengo, limitada pelas atuais ruas Antônio de Barros, Aguapeí, Francisco Marengo e Emília Marengo, foi comprada do conde Rodolfo Crespi em 1917. Em 1949, seria adquirido o terreno do atual Hospital Municipal que pertencia a Assad Abdala.

    Passaria a ser usado como depósito e comércio de frutas. Conhecido como Parque de Frutas Marengo, se tornaria uma atração turística, recebendo visitantes de todas partes de São Paulo. Em 1952, morria Emília Marengo, mulher de Francisco. Sete anos depois, era a vez do próprio Francisco. César Marengo, pai de João César, daria continuidade aos negócios da família.

    Em 1962, a área do Parque de Frutas foi desapropriada pela Prefeitura. A chácara Marengo passaria a funcionar onde está hoje, no número 5.632 da Avenida Celso Garcia. Após décadas de tradição, a força dos Marengo entrou em decadência”.

  16. Nooosssaa desde pequeno passava em frente e lia morango – e agora com google mapas fui ver e ainda tem o mural que legal MARENGOOOOOO – uma vez marengo ..marengo até ….

  17. Sou tataraneta de Francisco e Emília Marengo e posso dizer que mais do que ninguém acho uma tristeza um patrimônio histórico e cultural de São Paulo tenha sido largado às traças. Não só por pertencer à família, mas como estudante de arquitetura tenho noção da relevância que um dia os Marengo tiveram em São Paulo, em especial no Tatuapé. Mas é evidente que tal prestígio é dedicado a poucos, já que seus sucessores não tiveram a capacidade de perpetuar esse patrimônio com dignidade.

  18. Eu me lembro desse mural e das explicações que um amigo me deu quando passei diante dele… eu fico feliz que ao menos a lembrança fotográfica tenha sido preservada… mas lamento que a especulação imobiliária continue sendo o único fator determinante nesta cidade!

  19. No início dos anos 2000, ainda era possível comprar vinho e uvas por lá. Me lembrei do Marengo estes dias e fui pesquisar se o local ainda existia para levar meus filhos lá. Aí encontrei esta página. Pena que o local não mais existe…

  20. Muito legal tudo isso! Tenho dúvidas se a Confeitaria Marengo, da rua Francisco Marengo x rua Serra de Bragança, pertence ou não à família Marengo. Será que os netos entraram em outro ramo de atividade?

  21. Lembro que até 2009 eu passava pela Celso Garcia e via esse bucólico lugar funcionando. E o telefone de cinco dígitos entregava que ali era muito antigo (e tentava imaginar havia quanto tempo o estabelecimento estava lá, resistindo a tudo). É uma pena que a especulação imobiliária tenha levado o Uvas Marengo e os prédios vizinhos embora (hoje temos um prédio residencial construído pela Helbor ocupando todo o terreno).

  22. Pelo que eu me lembro, eu era bem pequeno e o carroceiro que passava no meu bairro (Cidade Dutra) vendendo uva, cantava uma canção mais ou menos assim… nunca vou me esquecer….
    “…uva, uva,
    uva do marengo,
    uva , uva,
    rosada e doce como o mengo,
    é uva, uva do marengo,
    é uva, é uva doce,
    é uva… “

  23. Um pedaço da história de SP de algo que seria impensável hoje. O modo como esse país trata a sua história é vergonhoso. Tudo pelo falso progresso e dinheiro rápido.

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