Sobrados de 1917 – Rua do Lucas

Alguns logradouros paulistanos tem endereços tão peculiares que aqui no site do Instituto São Paulo Antiga temos uma sessão em constante atualização onde nos dedicamos apenas a estudar o nome das ruas.

Pois no bairro do Brás tem uma via cujo nome chama bastante atenção, seja por algumas de suas construções antigas quanto pelo seu nome: “Rua do Lucas”. E é dela que falaremos aqui.

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Construídos em 1917 esses dois sobrados geminados são os mais antigos atualmente na Rua do Lucas, que embora ainda possua algumas construções antigas boa parte delas já foram ou demolidas ou descaracterizadas.

As originalmente residências ficam na porção superior, nos números 70 e 78, enquanto os pontos comerciais ficam respectivamente nos números 74 e 76. Atualmente não é possível afirmar que os andares altos ainda sejam utilizados para fins residenciais.

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Apesar das mínimas alterações nas fachadas, as mais notáveis a remoção de uma pequena coluna na entrada comercial do imóvel esquerdo e a troca de janelas e esquadrias no andar superior do imóvel direito, nota-se que são muito bem cuidados com muitas de suas características originais preservadas.

Ambos os imóveis pertencem ao mesmo dono, a LAKE – Livraria Allan Kardec Editora – fundada em 1936 e cuja sede atualmente está localizada na mesma Rua do Lucas no imóvel à esquerda destes sobrados.

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Além das características originais, outra coisa bem interessante e incomum na região é a assinatura dos construtores na parede dos imóveis ao nível térreo (vide foto anterior). Nele podem ser lidas três inscrições (de um total originalmente de quatro) onde está escrito “Craig & Martins S. Paulo”. Gravações na fachada como estas são até comuns em prédios antigos do centro histórico de São Paulo, mas são raras em outros bairros.

O Commercio de São Paulo – 1907

Ao pesquisar sobre a empresa em questão (veja recorte acima) encontramos escassas informações a respeito. A mais notável é o anúncio acima, publicado em 1907, onde eles divulgam a venda de locomóveis ingleses como representantes exclusivos. Outras pesquisas também indicam a mesma empresa como dona de uma fundição, portanto é bem possível que estas colunas sejam feitas em ferro fundido.

Caramba! Um pouco mais pra cima ou para baixo resolveria o problema (clique para ampliar)

A minha única crítica foi quanto a instalação de um toldo no sobrado esquerdo, onde não houve o menor cuidado em não danificar o nome gravado na fachada (foto anterior).

Apesar disso é louvável ver a dupla de sobrados resistir bravamente o passar dos anos. Deixamos aqui nosso parabéns è Editora Lake e fazemos votos que as mantenham preservadas.

MAS QUEM FOI ESSE TAL DE LUCAS ?

Apesar de não ter sobrenome no nome da rua ou ser chamada como “Rua Lucas” ao invés de “Rua do Lucas” o nome faz todo o sentido estar de maneira possessiva.

De acordo com a Revista do Arquivo Histórico Municipal (Edição 0041, ano de 1937 – página 227) a homenagem é destinada a Lucas Queiroz Assunção, antigo proprietário das terras onde hoje se localiza a referida rua e seus arredores próximos.

No mapa de 1905 vemos o então chamado “Beco do Lucas”

Esta rua surge nos mapas paulistanos a partir dos primeiros anos do século XX, com o nome de Beco do Lucas. Ele mesmo teria sido o responsável por abrir esta rua como outras próximas, tal qual a Rua Assunção que também o homenageia através de seu sobrenome. Até o ano de 1903 era realmente um beco, ampliado e transformado em rua a partir de desapropriação realizada pela prefeitura.

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Cia Nacional de Tecidos (Edifício Prestes Maia)

Localizado no bairro da Luz , na rua Brigadeiro Tobias, o antigo edifício da Companhia Nacional de Tecidos é hoje um dos inúmeros edifícios decrépitos e abandonados que encontram-se na região central de São Paulo. A empresa faliu em 1991.

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11 respostas

  1. Tenho um livro em casa que diz que essa rua (a do Lucas), conserva as casas mais antigas do bairro do Brás.
    O que lamento muito é justamente a degradação dos arredores. Acho que é um processo sem volta. Pelo contrário.

  2. Se o projeto da recuperacao do corrego do Corrego do Tamanduatei fosse a diante ( falava-se em Praca Suspensa, isto la para 2013-2014 ) a preservacao e melhoria do entorno seria viavel.

    Porem….

    Nao se ve nada, e o que nao for tombado, vai abaixo para se erguer pombais populares verticais com lazer completo.

    Nao ajuda muito o fato que poucos comerciantes locais tomam a iniciativa de preservar o estado de seus imoveis, isto quanto nao os descaracterizam por completo, o que esta tornando o Bras, um bairro sem identidade ou personalidade.

    Nao ajuda muito que a Rua do Lucas esta em area de vazao do corrego. Apesar deste ter bom volume de passagem.

    Deveria haver um codigo de obras para o Bairro com punicao para quem saisse da linha.

    Va la, que haviam varios galpoes que sequer mereciam ser mantidos, porem, com tanta estrutura tombada e historica, o entorno deveria receber tombamento envoltorio. O que duvido que ira ocorrer, pois os incorporadores estao predestinados a mutlar o bairro para erguer suas monstruosidades verticais de convivio forcado

  3. Interessante o mapa das ruas, tudo manuscrito.Haja habilidade.Fui letrista de revistas infantis(preenchia os balões de dialogo dos personagens).Tudo na mão.Isso em 1973.Hoje tudo é feito no computador.Fui também projetista.Um dia fui fazer teste na Rua Afonso Celso.Se não me engano a empresa chamava-se Hidroservice.Um predio com poucos andares, mas tinha um andar inteiro só de desenhista projetistas.Tudo feito a mão na prancheta.Não passei no teste.

  4. Fantástico esses documentários, parabéns, São Paulo merece.
    A vila Sta Isabel também é um bairro antigo, fica entre a a vila carrão e vila formosa, tem ainda imóveis interessantes, e antigos. A própria igreja de Sta Isabel atualmente em reforma, com sua torre incomum destaca no bairro.

  5. Ao Douglas Nascimento, obrigado pelas fotos e artigo.

    Algumas observações minhas…..

    1.Reparem no acabamento frontal da edificação. Porta Francesa a direita. Porta diferente à esquerda. Duas matrículas, um único proprietário….. Por que não uniformizar os materiais de acabamento? São estruturas casadas, apesar da diferença em metragem de terreno e área construída.

    2.Aparenta que detalhes no frontispício desapareceram por baixo de um acabamento de argamassa porco. Não seria adequado dar um melhor tratamento à superfície?  A fachada não é tão elaborada, porém tem um conjunto visual harmônico e agradável à vista.

    3.Ao contrário de obras atuais, no bairro, onde pouca atenção é dispensada aos andares superiores em loja/sobreloja, este preserva uma característica comum em prédios Pre Guerra….   O pé direito elevado, evidenciado por janelões compridos.  

    Na época em que esta edificação foi projetada, não haviam tantos carros, edificações.  Assim mesmo, haviam verões úmidos e quentes. E eu posso apostar que as pessoas trabalhavam com camisa colarinho, paletó e gravata ( não obstante este andar de sobreloja ser projetado para ser um apartamento ).

    Ou seja, dispensava-se mais atenção à circulação de ar. O ar quente sobe. Quanto maior o pé direito, mais arejado e fresco se sentirá no andar. Na época não haviam lâmpadas fluorescentes, ar condicionado.  O edifício teria que ser projetado para acomodar recepção de luz natural, circulação de ar, calefação, e tratamento estético de forma eficiente.

    4.Não obstante a mutilação da rua, as duas edificações se prestam bem para  apartamentos ( Walk Up Apartments ) ou mansão urbana ( Townhome estilo Carriage House ). Puxando Google Earth, notei que os fundos tem uma pequena área descoberta, o que o torna ideal para uma mansão urbana, aliás, baseando-se no valor por metro quadrado da região, bem barata, uma ótima opção para quem quer uma mansão barata. Se um faz sua fortuna no Bras, nada mais digno do que morar no Bras.

  6. Há muito tempo o bairro do Brás perdeu o respeito. Quem o conheceu no período áureo de sua existência, até se tornar um lugar acolhedor com suas cantinas, restaurantes, lojas de departamento, cinemas, muitos atrativos para passeios dos jovens da época, sobrou somente nossa tristeza e repúdio pelos péssimos políticos que se aboletaram na prefeitura da capital com interesses próprios para tirar proveitos ilícitos.

  7. Casarões bem conservados, apesar das visíveis alterações e suas fachadas.

  8. Muito bacana a matéria, Douglas! Fora do comum esse pequeno prédio ainda estar em pé, com tanta especulação imobiliária na Capital. O detalhe quanto ao nome da construtora é que há uma divergência: no jornal aparece “Craig & Martins”, mas na fachada – mais visível na segunda foto – consta “Craig & Martin “. Prefiro acreditar que o nome correto é o que está na fachada.

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