Sobrado de 1922 – Rua Caetano Pinto

A Rua Caetano Pinto é um interessante endereço do bairro paulistano do Brás. Por ali existiu por décadas a fábrica do tradicional Biotônico Fontoura e também o famoso laboratório Anakol, responsável por fabricar até 1996 o popularíssimo creme dental Kolynos¹.

Nesta mesma rua também está localizada, bem na esquina com a Avenida Rangel Pestana o Palacete Rega, erguido por um farmacêutico napolitano no ano de 1926 e que já contamos a história aqui.

Quatro anos mais antigo que o outrora elegante palacete de Carlos Rega, e também muito bonito, é este sobrado de 1922 construído na mesma rua apenas alguns metros adiante:

clique na foto para ampliar

Trata-se de um amplo sobrado que se prolonga pela Rua Sobral e que chama a atenção pela sua arquitetura interessante, mesmo estando em péssimo estado de conservação.

O andar superior possivelmente era (e ainda é) utilizado para fins residenciais, enquanto o térreo para propósitos comerciais. É possível notar que há dois acessos ao andar de cima, um para o apartamento maior pela Rua Caetano Pinto – possivelmente a residência do proprietário – e outra entrada pela Rua Sobral dando acesso a apartamento(s) menor(es), observe a porta vermelha.

na fachada está gravado o ano da construção (clique para ampliar)

Já andar térreo, de destino comercial, não foi possível descobrir que tipo de comércio existiu ai originalmente, entretanto na década de 1960 funcionou um estabelecimento chamado “Casa Andaluz”. Possivelmente de propriedade de algum imigrante de origem espanhola. É sabido que nos anos 1950 a 1980, auge da fábrica do Biotônico Fontoura, a rua tinha muitos estabelecimentos como bares, restaurantes e farmácia para atender os funcionários da fábrica. Até pouco tempo atrás funcionou ai uma serralheria e, nos últimos meses, notamos que está fechado.

fachada ainda é rica em detalhes (clique na foto para ampliar)

A condição do imóvel ainda é muito boa, apesar de um pouco deteriorado. No frontão podemos notar que um brasão (lado direito) já caiu ou foi removido. No centro do edifício o símbolo com o ano da construção persiste bravamente.

Logo abaixo dele, sobre as janelas da sacada, é possível observar que existiu um grande adorno decorado com ramos de café. Boa parte dele foi destruída, mas um pouco sobrevive para contar história. Por fim as sacadas de ferro estão ainda bem preservadas e as portas comerciais são das antigas, como lâminas (ou gomos) estreitos.

Já imaginaram essa construção restaurada ? Seria encantador.

Nota:
1 – O creme dental Kolynos deixou de ser produzido em 1996 por determinação do CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) após a Colgate-Palmolive comprar seu antigo fabricante. O creme dental continuou no mercado com o nome de Sorriso.

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14 respostas

  1. Ao ver estas fotos e lembrar ou imaginar como terá sido a vida dentro desses lugares fotografados, dá uma sensação de choro na gente. O passado
    existiu, fez parte de inúmeras vidas, deveríamos preservar o que existiu – se esta esquina, tão linda, tão pensada por arquitetos, decoradores e seus donos,
    for derrubada, não teremos nada mais do que fotos para pensar o passado. Se a esquina for restaurada, seu interior será útil por dentro e por fora.

    1. Boa noite, Regina.
      Infelizmente, é um processo praticamente irreversível. Essa região é tão judiada, tão largada! E o pior é que muitas dessas construções, que outrora abrigavam apenas os donos ou era alugada para apenas uma família, agora(não sei se é o caso dessa) abrigam uma família em cada cômodo! Isso, a meu ver, contribui para a deterioração do imóvel, pois ninguém se sente na obrigação de cuidar do mesmo, muito menos o atual proprietário – se é que existe um.

  2. Interessante conhecer a Historia dessas construçoes mas é deprimente ver o estado em que se encontram, ou que ja foram destruidas. As vezes é necessario demolir por motivos de segurança por causa de modificaçao do solo etc mas nao é bem o que acontece sempre …

  3. Meus avós maternos quando aqui chegaram vindos da Itália, logo se estabeleceram e justamente nesta rua.

  4. A Casa Andaluz pertencia a meu tio, Francisco Martins e seus irmãos. Era voltada ao comércio de calçados.

  5. Um prédio imponente, com uma restauração caprichada, voltará a brilhar como jóia!

  6. O bairro do Brás é um dos mais ricos em termos de construções centenárias; paralelamente, é um dos mais castigados pelo descaso!
    Impossível não reparar na confusão de fios, nos postes sem graça, no “pretume” das paredes(parece que tacaram fogo!), nos sacos com lixo depositados na calçada e por aí vai…
    Mas, sim, a casa é linda e merecia um restauro. Mas isso é sonho distante. Muito distante.

  7. O Brasileiro e um hipocrita…

    Eu vejo o lamento geral, porem na hora de comprar, e por dinheiro do bolso, ninguem vai arriscar. Vao continuar com aquela choradeira de sempre….. que pena.que raiva, bla, bla, bla.

    Vao continuar comprando aquelas monstruosidades com “:lazer convivio forcado completo” na planta, espremidos no bairro da moda, ou seja la o que dinheiro puder comprar. E se afastando o mais longe possivel, dos tipos que la habitam. Que por sinal, em sua maioria, trabalham .

    Isto me lembra que meu falecido Tio , chegou na America vindo dos Acores, e comprou a sua casa, na qual comportava 3 familias. Na decada de 60, os bairros operarios estavam largados, comprava-se uma casa multifamilias ( tenement ) por uma ninharia, o banco aprovava facilmente. Vc tem holerit, e a propriedade vai render aluguel, vc vai cumprir a hipoteca. Geralmente, como foi neste caso, o proprietario, ou Senhorio, morava no terreio. Por vezes ficava com o porao, outras vezes o designava como area comum, aonde iriam as maquinas de lavar, guarda volumes.

    Assim a hipoteca se pagava por si. Vc coletava o aluguel, e adiantava o maximo que podia nos pagamentos para ir cortando no juro. Sem pagar taxa de condominio. Eventualmente alguns saiam do bairro, maintinham o predio, e passavam a coletar aluguel, enquanto mudavam se para a snuburbia.

    Indo a edificacao do Bras…..

    Este edficio do Bras foi convertido como um tenement housing, pois outrora, permitu o proprietario ocupar o terreo com uma loja, e alugar o andar superior. Em alguns casos, eu presumo o proprietario tocava o negocio no terreo, e morava no andar superior. Conjecturo.

    Um dos maiores contribuintes para a decadencia de qualquer bairro e quando proprietarios deixam de habitar o bairro, e passam a alugar o imovel.

    O Bras, nao obstante este local estar em proximidade de vazao de aguas do Tamanduatei, e um bairro interessante.

    Estamos precisando que se abram as portas de imigracao. Que venham mais Asiaticos, Arabes, ou quaisquer refugiados. E se entenderem de construcao, melhor ainda.

  8. Muitos imóveis como esse, quando o dono original morre ou mesmo volta para as origens muitas vezes estrangeira, alguns casos pode ocorrer um tanto de desinteresse dos herdeiros ou o pior: brigam entre si pela porcentagem da herança, caso deixou uma família grande e a briga as vezes para na justiça e lá se vão décadas até o veredito final e o imóvel vai se deteriorando, muitas vezes ao sabor da decadência da região outrora de importância fabril e comercial.

    Também há casos que a família entra em decadência financeira e as vezes aluga o imóvel, como uma “renda de sobrevivência” e vai postergando as reformas (ou passa uma cal no muro pra dar uma aparência menos pior ou uma reforma rápida que descaracteriza), muitas vezes cara para o orçamento familiar, mesmo alugando.

    Aí na primeira oportunidade vinda de uma grande construtora, vende as pressas para pagar dívidas ou viver com o rendimento que isso dará (as vezes é a salvação do padrão de vida).
    Por isso que até nos assustamos em ver tantas casas que nem tem 100 anos e está em péssimo estado, mesmo que já teve tempos áureos ou vinda de imigrantes que ajudaram SP crescer, vão deteriorando e vão abaixo.

    No caso acima, talvez os herdeiros ainda alugam os quartos (um deles parece ter uma antena da SKY ou Claro que parece instalada recentemente) ou botaram algum caseiro pra tomar conta pra não invadirem, muitas vezes à espera de propostas de construtoras ou a locação pra fins comerciais da parte inferior.

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