Uma cidade como São Paulo quando vista do alto, mostra-se completamente diferente de quando é observada do plano das ruas, no chão. Uma série de detalhes, nuances e curiosidades surgem através do ponto de vista diferenciado da fotografia aérea.
Foi pensando nisso que trouxemos aqui uma coleção de 30 fotografias do acervo de Carlos Fortner, fotógrafo e também piloto de aviões e helicópteros.
Com um acervo de mais de 400 mil fotografias aéreas, tiradas entre 2009 e 2012 durante cerca de 160 voos pelos céus da capital paulista, Fortner produziu material que foi utilizado por diversos órgãos e mecanismos da prefeitura paulistana, como a Secretaria de Habitação, Secretaria do Verde e Meio Ambiente, Guarda Civil Metropolitana, entre outros.
Para explicar melhor um pouco do seu importante trabalho e rico acervo, trazemos aqui uma entrevista com Carlos Fortner e apresentamos algumas de suas imagens mais interessantes, que foram selecionadas pela nossa equipe.
SP Antiga: Como surgiu a oportunidade de tirar fotografias aéreas de São Paulo ?
Trabalhei na Prefeitura da Cidade de São Paulo na gestão Kassab (2009-2012), primeiro como subprefeito de Parelheiros, M’Boi Mirim e Cidade Ademar, e depois na Secretaria do Verde e Meio Ambiente, como diretor de DEPAVE, depois Chefe de Gabinete, e finalmente como Secretário Municipal.
Minha formação profissional é de engenheiro civil, pela Escola Politécnica, e nos 25 anos antes de ingressar no Poder Público, tive minha própria empresa de gestão de projetos e obras. Como tal, sempre fazia acompanhamento das obras de clientes com fotos aéreas.
Desde 1980 sou piloto de aviões, e mais recentemente, de helicópteros também. Na Prefeitura, tínhamos um contrato com empresas de taxi aéreo para fazermos vistorias aéreas do território.
São Paulo, por ser uma cidade tão grande e tão diversificada, impõe inúmeros desafios de gestão, e o helicóptero é uma ferramenta necessária para conhecer a cidade, planejar políticas públicas, acompanhar obras, solucionar problemas.
Todos os subprefeitos e secretários tinham uma cota de voos para fiscalizar e conhecer o território que estava sob sua responsabilidade.
No meu caso, a formação de engenheiro, com a experiência de fotos aéreas, e o gosto pelo voo, deram-me uma condição diferenciada para contribuir com a gestão da cidade, e ao mesmo tempo em que me fizeram uma espécie de “coringa”, pois meus registros fotográficos foram usados por diversas secretarias e subprefeituras e até pelo Governo Estadual por ocasião das fortes chuvas e alagamentos no verão 2009-2010.
SP Antiga: Você ainda trabalha fotografando São Paulo do alto ? Caso não, por quantos anos clicou a cidade ?
Não mais – pelo menos para fins profissionais – exatamente por não mais fazer parte da gestão municipal. De qualquer forma, vez por outra, ainda vejo fotos que tirei aparecendo aqui e ali em publicações oficiais.
Infelizmente, a última gestão não fez o mesmo registro que fiz, e não houve continuidade desse importante trabalho.
Apesar de ter um acervo de cerca de 400 mil fotos aéreas da Cidade de São Paulo, tiradas no período de 2009-2012 em cerca de 160 voos pela cidade, ainda fiz alguns registros nos anos seguintes, pelo menos até o início de 2016, exatamente por ser piloto de helicóptero e ter continuado a voar sobre São Paulo.
Atualmente, morando em Brasília, vez por outra faço registros aéreos daquela cidade, mas não mais com a mesma frequência frenética dos anos em que trabalhei na Prefeitura de São Paulo.
SP Antiga: Das imagens de nossa cidade que você tirou lá de cima, qual te marcou mais, e por que ?
A Cidade de São Paulo é muito diversificada. Costumo dizer que nasci e vivi aqui por mais de 50 anos, mas antes de fazer estes registros, não tinha ideia da realidade que era esta cidade. É difícil dizer qual foto é mais marcante, dentre as mais de 400 mil que compõem o acervo.
Existem fotos impactantes, outras curiosas, outras instigantes, algumas que nem parecem ser de São Paulo, e algumas ainda de uma beleza plástica retratando uma metrópole que não para.
Vê-se coisas inusitadas lá de cima, como um pequeno veleiro flutuando numa piscina, uma espécie de “barco-avião” na represa de Guarapiranga, muita poluição, muito despejo de lixo irregular, cachoeiras quase virgens, cachoeiras de esgoto, muito desrespeito pela natureza e pelo próprio lugar onde se vive, mas também muitos ângulos bonitos.
Aprende-se a gostar da cidade e querer que ela seja preservada e melhorada. Mas tudo passa pela educação dos seus habitantes e envolvimento deles com o lugar onde moram.
Tudo passa por eles conhecerem seus direitos e aprenderem a não aceitar migalhas e favores de vereadores inescrupulosos que tratam seus territórios como se feudos seus fossem. Em muito, a cidade está hoje como está exatamente por isso.
SP Antiga: Para você, como é São Paulo vista do alto ? Caótica ? Romântica ?
Em uma frase: é uma cidade em transformação permanente.
O que eu via em um voo, na semana seguinte já era diferente. Por vezes caótica, por vezes bela, mas na maioria das vezes o que eu via era uma cidade desrespeitada por seus moradores.
SP Antiga: Qual o tipo de equipamento ideal para fotografias aéreas como a sua, qual dica você daria para quem quer fazer este tipo de imagem ?
Sem dúvida uma lente com estabilizador de imagem, acoplada a uma câmera de alta resolução e que permita muitas fotos por segundo. Por diversas vezes, lá de cima mesmo, conseguia ampliar a foto e identificar a placa de um veículo que fazia descarte ilegal de entulho, por exemplo.
Algumas vezes, as fotos foram utilizadas para identificar os próprios infratores, e muitas vezes serviram de prova em processos que geraram multas.
Aliás, se considerar as multas por crimes ambientais geradas a partir dos voos que requisitei e das fotos que tirei, tenho certeza que os recursos recebidos pelo município são muitas vezes superiores ao custo dos próprios voos.
Como disse, numa cidade como São Paulo, o helicóptero é uma ferramenta de trabalho imprescindível.
SP Antiga: Seu avô, Max Hans Fortner também era fotógrafo ? Conte-nos um pouco sobre ele e sobre sua famosa foto do dirigível alemão.
Ele era engenheiro-arquiteto, mas gostava de fotografia, como amador.Imigrou para o Brasil após a Primeira Guerra Mundial, nos anos 20, e aqui em São Paulo desenvolveu sua carreira a partir do zero.
Nota do blog: clique aqui para ler a matéria sobre a passagem do dirigível Hindenburg por São Paulo em 1936.
Veja abaixo a galeria com mais 25 imagens do acervo de Carlos Fortner:
Respostas de 10
Cidade maravilhosa….muito orgulhosa das minhas origens…..
Lindas fotos.
Faltou dizer o nome, tem algumas que não identifiquei o local.
Muito legal!
O que mais me impressionou foi a coleção abandonada de carros antigos (entre eles um Fusca) e os “mega puxadinhos”.
Juro… Me deu vontade de chorar… Saudades da minha terra!!! Amei o artigo!
Parabéns, trabalho muito lindo e de extremo valor cultural, desejo que realmente haja um legado para dar continuidade à esse trabalho, assim como desejo poder encontrar do mesmo da nossa velha São Paulo com fotos e imagens da época em que o Anhagabaú ainda era um rio…
Apenas gostaria que identificasse os locais e a data do registro.
fotos maravilhosas!! Poderiam fazer uma parceria para irem postando fotos, fazer uma série só com essas fotos aéreas!!
Show! Morei 11 anos em Sampa, e ainda hoje sinto saudades.
Não encontrei fotos daquele prédio que tinha ao lado no monumento do Ipiranga.. (na Sorocabanos com a Bom Pastor) . Era um prédio bem antigo onde tinha uma fábrica de sapatilhas… A antiga sede da fábrica Capezio. Morei naquele prédio quando era criança e não encontro fotos de jeito nenhum… Será que vcs não têm alguma perdida por aí nos arquivos?
Cara como fico sabendo onde é a foto dos carros antigos abandonados queria muitooooo saber localização