Os Santos Populares paulistanos

A devoção aos santos da Igreja Católica é uma prática antiga que chegou ao Brasil através da colonização portuguesa. Ao longo do tempo, as culturas indígenas e africanas foram introduzidas ganhando outros significados e os cemitérios são um bom exemplo desse discernimento.

O cemitério é uma instituição que abriga não somente o morto. Além disso, abriga a história de vida de uma determinada pessoa que dependendo do motivo da morte, pode se tornar um “santo popular”. Esses santos populares estão longe dos altares das igrejas católicas, mas bem próximo do coração do povo. Não são reconhecidos pela Igreja, mas o seu reconhecimento está presente nas manifestações de fé e na devoção, já que eles foram santificados pelo povo.

Cemitério da Consolação, na região central de São Paulo
Cemitério da Consolação, na região central de São Paulo

Geralmente uma determinada pessoa pode se tornar um santo popular quando o ato da sua morte transforma-se em comoção social. O motivo pode ser uma morte trágica onde a mídia e os meios de comunicação estão plenamente envolvidos na cobertura, falecimento de crianças que são consideradas almas puras e também pessoas de boa índole que sempre serviu de exemplo ao próximo.

A maioria dos cemitérios de São Paulo possui em suas alamedas algum santo popular e, em alguns casos, até mais de um. E assim os cemitérios paulistanos tornam-se ponto de peregrinação. Pesquisamos a história de alguns santos populares que estão sepultados em diversos cemitérios de São Paulo. Algumas histórias são comoventes e tristes, outras nos mostram a luta contra a impunidade e a importância da força espiritual para seguir a estrada da vida.

Antoninho da Rocha Marmo, o Santo do Povo – Cemitério da Consolação

clique na foto para ampliar
clique na foto para ampliar

Desde criança Antoninho gostava de abençoar as pessoas que passavam em frente da janela da sua casa, onde costumava celebrar missas. Logo, a população começou a apreciar sua dedicação perante a sua religiosidade.

Dizem que ele tinha o dom de prever o futuro, inclusive prevendo a sua morte. Faleceu aos 12 anos vítima de tuberculose. Maiores detalhes sobre Antoninho da Rocha Marmo e onde ele viveu no link abaixo: www.saopauloantiga.com.br/antoninho-da-rocha-marmo

Maria Judith de Barros – Cemitério da Consolação

clique na foto para ampliar
clique na foto para ampliar

Não existe registo do seu nascimento, mas ela faleceu vítima das constantes agressões do marido. Em 1938 ela não resistiu a mais um ataque de fúria do cônjuge e veio a falecer. Dentre vários devotos conhecidos, está o cantor Beto Barbosa. Maria Judith também é conhecida como a santa protetora dos vestibulandos.

Felisbina Muller – Cemitério da Quarta Parada

clique na foto para ampliar
clique na foto para ampliar

Falecida em 1923, não possui registro de nascimento. Tentaram exuma-la diversas vezes, mas seu corpo sempre permanecia totalmente intacto. A ela são atribuídos diversos milagres como cura de doenças, melhoras na saúde de animais de estimação e conclusão de mestrados e doutorados.

Júlio Cézar Rodrigues – Cemitério da Penha

Crédito: Glaucia Garcia de Carvalho

Também conhecido entre os populares apenas como “Cezinha”, faleceu aos cinco anos de idade, vítima de meningite em plena década de 40. Houve grande comoção social da comunidade  penhense diante do seu corpo. Seus devotos costumam trazer balas, chocolates e brinquedos ao seu túmulo.

Menina Izildinha, Anjo do Senhor – Cemitério São Paulo e Cidade de Monte Alto

Crédito: Glaucia Garcia de Carvalho

Maria Izilda de Castro Ribeiro, ou  Izildinha como era conhecida, faleceu em 1911 aos 13 anos de idade, vítima de leucemia na cidade de Guimarães, Portugal.

No início da década de 50 seu irmão, Constantino de Castro Ribeiro, decidiu vir para o Brasil e resolveu trazer consigo o corpo de sua irmã. Para a surpresa de todos, quando foi feita a exumação, o corpo de Maria Izilda estava intacto mesmo já tendo passado 40 anos da sua morte.

Constantino instalou-se na capital paulista e logo comprou um jazigo no Cemitério São Paulo. O culto iniciou-se rapidamente com a comunidade portuguesa fazendo peregrinação ao seu túmulo. 

Em 1958, Constantino já era um grande negociante em São Paulo e resolveu mudar para a cidade de Monte Alto, 350 quilômetros da capital paulista, para abrir uma indústria. Transladou novamente o corpo de sua irmã e a comunidade portuguesa daquela cidade decidiu fazer um grande mausoléu não no cemitério municipal, mas sim na praça no centro da cidade. O culto da Menina Izildinha aumentou.

Em meados da década de 60, a menina santa virou disputa judicial. Constantino resolveu desfazer da sua indústria e o corpo da menina Izildinha voltaria para o Cemitério São Paulo. A população de Monte Alto se uniu e não deixou que o corpo de Izildinha saísse da cidade.

Seu cadáver acabou sendo incorporado como patrimônio da cidade.  Como já descrevemos o corpo da menina Izildinha não está mais no Cemitério São Paulo, mas o túmulo que a abrigou continua sendo venerado onde seus fiéis deixam flores, doces e placas de agradecimentos.

Menino Guga – Cemitério do Araçá

Crédito: Glaucia Garcia de Carvalho

João dos Santos Franco Sobrinho, conhecido como Guga ou Menino Guga, faleceu aos três anos de idade em 1946. Possuía um espírito muito evoluído tanto que começou a falar suas primeiras palavras aos 3 meses de idade e aos 6 meses já estava andando. Anteviu sua morte com 15 dias de antecedência. Seu túmulo é venerado constantemente por pessoas que acreditam em seu poder milagroso.

Bento do Portão – Cemitério de Santo Amaro

Crédito: Douglas Nascimento / São Paulo Antiga

Antonio Bento, mais conhecido popularmente como Bento do Portão, foi um mendigo que morou nas ruas do bairro de Santo Amaro, quando a região ainda era uma cidade separada de São Paulo, no início do século 20. Reza a lenda que ele ajudava os moradores em pequenos trabalhos, e em troca recebia um prato de comida. Por sua vez, Bento do Portão fazia uma oração para a pessoa que lhe doou a refeição. Morreu no dia 29 de junho de 1917, bem próximo à entrada do cemitério aos 42 anos idade. Seu túmulo é o mais visitado e venerado nesta necrópole.

Maiores detalhes sobre Bento do Portão e o Cemitério de Santo Amaro, aqui: www.saopauloantiga.com.br/cemiterio-de-santo-amaro

A importância da conservação da memória destes santos populares é fundamental para o desenvolvimento do turismo cemiterial e para a desmistificação do espaço mortuário, já que os cemitérios são locais que carregam muito de nossa história, tanto em São Paulo como no restante do Brasil.
E você, conhece algum outro santo popular? É devoto de algum dos que citamos aqui ?
Conte para nós! Deixe um comentário.

Compartilhe este texto em suas redes sociais:
Facebook
Twitter
WhatsApp
LinkedIn
Siga nossas redes sociais:
pesquise em nosso site:
Cadastre-se para receber nossa newsletter semanal e fique sabendo de nossas publicações, passeios, eventos etc:
ouça a nossa playlist:

Hospital Abandonado

Localizado na Vila Clementino, esse imenso edifício projetado para ser um hospital da Unimed, e que está abandonado foi adquirido pela Intermédica que prometia retomar as obras e entregar o hospital funcionando em 2013. Até o momento segue parado.

Leia mais »

Casa – Rua Tiers, 816

Pequena casa da rua Tiers, no bairro do Pari. Esta casa é a última desta ponta da rua que ainda conserva as características originais de quando foi construída.

Leia mais »

47 respostas

  1. Tem também “AS 13 Almas”, cujo tumulos estão no cemitérios São Pedro, mas conhecido como cemitério da Vila Alpina, na zona leste. De acordo com informações, são os restos mortais de 13 vitimas do incendio do edificio Joelma, ocorrido em 1974, e que não puderam ser identificados. São consideradas milagreiras, e no local há um culto popular neste sentido.,

      1. Oi, Andreia, tudo bem? Sou jornalista e estou fazendo uma matéria sobre os santos populares. Será que podemos conversar sobre o milagre que sua mãe recebeu?

    1. Pelo que vi na reportagem do Balanço Geral, dizem que em cima de cada sepultura tem que ter um copo d’água, porque senão os funcionários do crematório começam a ouvir choros e gritos (aliás, dizem que em todo o caso que a pessoa morre queimada tem que ter um copo d’água na sepultura dela)

  2. esse site simplesmente é…”sem palavras”!!!…quando achas q sabe de td, sempre aparece histórias magnificas, a exemplo desses santos populares…boa leitura!!

  3. Gláucia e Douglas, parabéns pelo artigo! Sou de Belo Horizonte, e aqui também há devoções deste tipo, como no Cemitério do Bonfim, onde há túmulos visitados por acreditar-se na intercessão dos que ali foram sepultados, como o caso da Menina Marlene, da freira Irmã Benigna e do Padre Eustáquio, cujo corpo foi transfereido para uma igreja no bairro que leva seu nome.

    1. Prezado Thiago,

      Pe. Eustáquio Van Lieshout (1890-1943) foi beatificado em 2006. Por isso foi trasladado para a igreja dos Sagrados Corações, pois é um requisito da Igreja Católica ao encerrar um dos processos que declara uma pessoa santa.

  4. No Cemitério da Vila Mariana, tem o túmulo do Luigi Guglielme… Luigino ou Luizinho, como também é conhecido… a ele são atribuídos muitos milagres… todas as semanas as mulheres se reunem no seu túmulo para rezarem o terço… fazem novenas… ele é o santinho aqui do Cambuci

    1. Olá nancy, ouvi fLr muito dele e estou procurando a oração que me falaram que ele tem…vc conhece? ou pode me ajudar saber quem tem? meu nome e elisabete..abços

  5. Não vi motivo algum para essas pessoas serem santificadas…São mortes tristes, mas que acontece a todo momento com qualquer pessoa…De todos que foram citados acima, eu ouço falar na Izildinha, e já vi imagens dela sendo idolatrada pelas doutrinas de Umbanda e candomblé….

    1. Roberta, isso é um costume do povo desamparado por uma ajuda a problemas pessoais (muitos deles de causa social, como conseguir um emprego), então apela-se para a fé… Com a ajuda pedida vinda, a pessoa encara-a como uma graça alcançada e torna-se um devoto, independente se é de uma Igreja Protestante ou de um Santo ou Orixá da religião Católica ou sincretista…

      E, quanto mais carente são as pessoas, mais a sua fé é devocional, chegando a “canonizar por conta própria” personagens, como os descritos acima. Já vi, no Cemitério da Consolação, uma placa agradecendo ao MONTEIRO LOBATO pela graça alcançada… rsrsrsrsrs…

      Deixo claro que não sou contra a fé das pessoas, acho a dedicação espiritual importantíssima e me felicito por elas terem seus pedidos realizados, mas é importante lembrarmos que, em um país com grandes diferenças sociais e pouca Educação geram pessoas com muita fé, mas com pouca razão.

    2. Roberta.
      Notam-se arrogância, em suas palavras, e o desrespeito para com a crença alheia.
      Nesse caso, creio que você é muito mais ignorante do que essas pessoas que demonstram sua fé nos santos populares.
      Sem mais.

    3. Roberta , Antoninho que é Servo de Deus em Processo de beatificação nem é mais Santo Popular. Izildinha que é santa popular teve uma vida muito Santa ela até sofreu, mas não quer dizer que ela não teve uma vida muito Santa. Nós católicos não adoramos os santos, apenas veneramos. Quem adorar os Santos é a Umbanda e o Candomblé. Recomendo vc ver a história do Antoninho e da Izildinha pra vc ver no qual eles buscaram a Santidade.

  6. no cemiterio da Saudade de Piracicaba tem, ao lado da igrejinha central, o tumulo de um lindo menininho, esse, recebe centenas de presentes e brinquedos por gracas recebidas, creio que valia a pesquisa pir alguem como vc: profissional.

  7. Faltou a história do menino Antoninho da Rocha Marmo! tenho um livreto do jornal correio da noite da década de 40 que era da minha bisavó que conta o relato de várias pessoas que atribuíram milagres a ele.

  8. Achei mto superficial,e a título Cemitério da Penha,sinceramente,pouco se diz,ou não achei,mas procurei e não vi nada.Nasci aqui e há mtas histórias e lendas,como a do primeiro padre q foi sepultado,a de um senhor q por ser vítima de uma doença mto grave,tomou medicamentos q deixaram seu cadáver intacto,por cerca de 5 anos.E o famoso José Garcia,q conta o povo se suicidou por ser negado a um noivado c uma moça de origem nobre,mtos devotos vão até la.E mtos outros…Pena q está faltando mta coisa.Desculpe,sou crítica e pesquiso,portanto p mim nota mínimaa-5,0.Deixa mto a desejar…

    1. Faça você então uma reportagem “nota 10” que forneça detalhes sobre o maior número possível de santos populares.

  9. Aqui em Goiânia, no cemiterio Santana existe um tumulo de um menino chamado Murilo, que morreu aos 12 anos de apendicite inflamada considerado um santinho popular…

  10. Parabéns pelo seu trabalho. Aqui em Mogi das Cruzes, no cemitério São Salvador existe uma capela dedicada a “virgem Firmina” que foi uma menina que teria previsto o avião entre outras coisas. É venerada por muita gente, mas pouco se sabe de sua historia. Tudo o que sei foi a historia contada pelo meu pai, de que essa menina era irmã de sua avó. Seu corpo também foi encontrado intacto segundo o que se contava na minha família. Já procurei por informações, porém sem resultado. Poderia me ajudar?

    1. Olá, Joana
      Ao ler seu comentário, fiquei curiosa acerca da história e fui pesquisar. Realmente não há nada de concreto sobre a Virgem Firmina, exceto por uma passagem publicada no website da cidade Biritiba Mirim (que já pertenceu a Mogi das Cruzes):
      …”Por volta de 1820, a família de Inês, residente no sitio do Dr. Bóris, tinha uma filha de 10 anos, chamada Firmina, dotada, segundo contam, de dons especiais, capazes de curar e ajudar pessoas através de sua fé. Dizia-se, inclusive, que ela tinha os dons da profecia e da multiplicação dos alimentos”…
      Contudo, ao procurar por Dr. Bóris, as pesquisas se concentram na família Grinberg, que, aparentemente, só imigrou em 1913 (para Monte Verde).
      História bem divulgada quando procuramos lendas de Mogi das Cruzes é a “Menina da Pipoca” – Benedicta Melo Freire, irmã de Dona Yayá. O túmulo da menina está no mesmo cemitério que você mencionou.
      Um abraço!
      Liz

      1. Obrigada pela resposta. Continuarei buscando informações na medida do possível. conheço o túmulo do menino da pipoca. Realmente, trazer à tona essas histórias é resgatar uma cultura, que por sinal é a base de uma civilização. Querer destruir uma civilização é eliminar sua cultura. Mais uma vez parabéns pelo seu trabalho!

  11. SP Antiga sempre com ótimas histórias e postagens. Adoro o website de vocês, é uma viagem no tempo. Muito obrigada!

  12. Em Osasco, no Cemitério Bela Vista, está sepultada Benedita de Oliveira, santa popular falecida em 25/01/1929, antes de completar vinte anos. Sobre a causa de sua morte, a lenda alude a espancamento por parte do marido, o capitão Mariano (que servia no quartel de Quitaúna), ou a estupro, mas tem-se como certo que ela morreu no Hospital Osvaldo Cruz, de São Paulo, por causa de uma febre que teve ao dar à luz um menino que faleceu uma semana depois. Nos dias de finados é quase impossível se aproximar de seu túmulo, tal o número de pessoas que vão prestar homenagem à santa com flores, velas e placas de agradecimento. Alguns chegam a levar pétalas de flores para casa, para fazer chá, acreditando que possam ter poderes curativos. Desempregados também buscam sua intercessão.

    1. É verdade, José. Meus pais e meu irmão estão sepultados lá e sempre evitamos as visitas na semana de finados. Mas recordo que, na época do falecimento do meu irmão (1984), Benedita já recebia homenagens.

  13. Ainda sobre o post acima, de Benedita de Oliveira, não há dúvida de que ela pode ser considerada uma santa popular paulistana, porque Osasco, na época, era um simples bairro da Capital de São Paulo. No entanto, há controvérsias, pois o Boni da Rede Globo (José Bonifácio de Oliveira, que não é da família da Benedita), nasceu aqui em 1935, na mesma situação político-geográfica, e não hesita em dizer que nasceu em Osasco (embora de seu registro certamente deve constar a localidade como sendo São Paulo). Nada contra, pelo contrário. Só pra esclarecer.

  14. Olha no cemiterio de ricardo de albuquerque no Rj tem um menino milagrosso. Se chama paulo cesa silveira rezende. Muitas pessoas visita ele . Ate eu ja visitei.

  15. A Menina Izildinha está na minha cidade em um lindo mausoléu muito bem cuidado e adorado, um lugar santo, até mistico. Convido a todos aqui para conhecer este lugar na minha cidade de Monte Alto/SP – se o pessoal do site saopauloantiga.com.br quiser fotos do mausoléu para incorporar a este artigo é só me falar.

  16. Minha mãe era devota do Santo Antoninho da Rochas Marmo. Colocou seu nome num dos meus irmãos.

  17. Glaucia, lindo este trabalho de documentação da HIstória mortuária popular ! Como faço para conseguir entrar em contato com Você ?

  18. O corpo da Menina Izildinha, continuaria intacto até hoje?
    Minha mãe tinha uma foto dela e de um menino chamado Paulinho, eu só sabia dos milagres dessa menina através de minha mãe. Histórias interessantes desses santos populares.

  19. Adorei!
    Seria legal também incluir algum artigo sobre as 13 almas, que são as 13 pessoas mortas no Joelma e enterradas na Vila Alpina.

  20. Faltou o Chaguinha, santo popular do bairro da Liberdade. A veneração ocorre na capela dos enforcados

  21. No Cemitério Municipal Nossa Senhora do Desterro em Jundiaí/SP tem também seus ‘santos’ que são muito visitados durante os finados: Dr. Domingos Anastácio, (milagreiro), e Maria Quitéria.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *