Se fôssemos realizar um passeio turístico dedicado a mostrar o lixo largado nas ruas, alguns trechos do bairro do Brás com toda certeza fariam parte deste roteiro. É impressionante como caminhar por ruas como Brigadeiro Machado, do Hipódromo, e Gomes Cardim pode ser um teste para a paciência do paulistano.
Mesmo assim, algumas destas ruas possuem verdadeiros tesouros arquitetônicos, como é o caso da Rua Uruguaiana, onde encontramos esta preciosidade:
Construída nas primeiras décadas do século 20, este prédio antigo é um dos mais belos exemplares preservados do bairro do Brás. Está bem na esquina da Uruguaiana com a Brigadeiro Machado.
Apesar de estar em boas condições e ter sido recentemente recuperado, algumas décadas atrás ele corria sério risco de ser demolido, face ao lamentável estado de abandono em que se encontrava. A foto abaixo, de 1991, mostra a realidade do prédio naquela época:
É preciso salientar que se hoje este trecho do Brás é uma área de razoável abandono, suja e até perigosa, a realidade não era diferente no ano em que a foto foi tirada. Apenas, talvez, não fosse tão violenta quanto hoje em dia.
Imóveis luxuosos, como este prédio, já sofriam com o abandono e decadência. Seu donos já haviam há anos mudado para bairros mais promissores e vários destes imóveis viraram cortiços. Muitos deles, mesmo imponentes, acabaram completamente esquecidos, mostrando que o descaso com o patrimônio histórico paulistano não vem dos governantes atuais, mas desde muito tempo atrás.
Estas fotografias antigas são do estudo de tombamento, realizado naquele ano de 1991. Como as coisas “funcionam rápido” por aqui, o imóvel ainda continua em processo de tombamento. Fico me perguntando que estudo pode levar mais de duas décadas e não ser concluído. Chega a ser ridículo.
De qualquer forma, com ou sem tombamento, o imóvel está nas mãos da prefeitura há alguns anos e desde então vem sendo preservado de certa maneira, como mostra a fotografia que está no início deste artigo. No local, funciona um albergue chamado Lar de Nazaré.
O prédio possui dois andares e tem uma fachada muito bonita. Sobre a entrada principal, bem na esquina, possui uma sacada que infelizmente foi fechada com tijolos há algumas décadas, talvez para dar mais espaço ao cômodo onde ela está (uma espécie de “puxadinho”). Existem outras duas sacadas na face do imóvel que está para a rua Brigadeiro Machado.
Já na face que se estende pela rua Uruguaiana, não dá para não deixar de notar o avanço da fachada sobre a calçada, que é muito bonito, e também os ornamentos sobre as portas (atualmente emparedadas) que são similares, embora muito menores, as que existem no frontão do Mercado Municipal da Cantareira:
Embora eu fique bastante satisfeito em ver esta verdadeira preciosidade do Brás preservada, algumas coisas me causam certa decepção. A primeira é o fato de ele ter sido recentemente pintado, mas infelizmente mal pintado.
Um pintura apressada, que deixa defeitos em vários pontos da fachada e também respingos em janelas, batentes e vidros. Um pouco de capricho não faz mal a ninguém.
A outra é o estado desolador que esta rua e as outras próximas estão. Não há dia da semana que se passe por estas vias que não se encontre pilhas de lixo por todos os lados. Acredito que há varrição, mas é visivelmente insuficiente. Este “canto” do Brás me parece um misto de descaso do poder público e cidadãos que não estão nem ai com a cidade, descartando lixo em qualquer lugar e em fora dos horários da coleta.
Ai não vale culpar a prefeitura quando os bueiros entopem e inundam ruas e casas. O cidadão também tem sua parcela.
Confira mais fotos deste prédio na galeria abaixo (clique na miniatura para ampliar):
Respostas de 14
Meu caro Douglas,é como tenho dito aqui muitas vezes: a cidade de São Paulo é vista e tratada pura e simplesmente como um lugar para se ganhar o sustento do dia-a-dia.Não há um amor de retribuição pela cidade,a não ser por quem é mesmo daqui e sente um golpe no coração cada vez que se depara com descaso,lixo e entulhos pelas calçadas e ruas,monumentos pichados,prédios depredados,invasões,quebra-quebras…
O Brás,ao lado do Parque Dom Pedro(que um dia foi mesmo um parque) são as regiões mais mal-tratadas do centro.E não vejo luz no fim do túnel.
Espero que a gente consiga iluminar este túnel…
E que a luz no fim do túnel não seja a do farol do trem que vem nos atropelar.
Luiz Henrique, concordo parcialmente com você, o abandono e o descaso são a tônica desta cidade, mas em matéria de abandono nada se iguala à nefasta Cracolândia. É difícil acreditar que esta mesma área no começo do século passado era a mais sofisticada e glamourosa da cidade, a morada dos barões do café e outros membros da elite paulistana.
Fachada muito bonita, exceto as portas e janelas do térreo! O que me chamou atenção é a assimetria na disposição das janelas já que o estilo, predominante, preza por uma simetria.
O lixo tem se acumulado no bairro. Antes da atual administração, por ser um bairro central, a varrição das ruas era feita três vezes por dia. Atualmente, uma ou duas vezes por semana. É verdade também que os moradores não colaboram com a limpeza, lixeiras existem, mas ficam vazias.
Emerson, a chamada cracolândia é mais famosa porque é uma coisa evidente,grosseira e gritante.Está sempre na mídia.Você está certo ao comparar,fazer esse paradoxo: antes era um bairro da alta sociedade,hoje é um lugar insalubre e perigoso.Ok. Mas o Parque Dom Pedro também era um local lindo,com gramado,alamedas,chafariz,bancos,enfim,tudo para o lazer do paulistano,além de gerar belas fotos para os turistas.
Hoje esse “parque” também é perigoso para se atravessar,a cracolândia também existe por ali(só que a imprensa ignora)
há um terminal de ônibus tanto grotesco quanto confuso,o lixo se espalha pelas calçadas e ruas,sem falar no rio Tamanduateí,que é no mínimo uma vergonha mundial.
O Brás,desde perto da estação de trem e ao longo das avenidas Rangel Pestana e Celso Garcia,nos dois sentidos,é um amontoado de lixo nas calçadas e sarjetas(passe por ali à noite para ver,depois das 20:00),além de uma obra na rua do Gasômetro e nas suas calçadas que não tem fim! São tapumes e entulhos concorrendo com uma via toda esburacada e perigosa para pedestres e automóveis.Coitada de São Paulo!!!!
Pois é, Luiz, estou prestes a completar 40 anos, e desde que me conheço por gente o centro é uma região largada e abandonada, mas a decadência por ele experimentada nos últimos 20, 25 anos é alarmante, faz parecer o centro que conheci e frequentava muito nos meus tempos de office-boy, no final dos anos 80, parecer um paraíso.
Prédio maravilhoso mas é mesmo triste ver como o Brás está largado. Já esse problema do lixo colocado fora de hora, entulhos descartados em qq. lugar, isso é uma praga da cidade inteira. E nem adianta, nesse caso, reclamar da Prefeitura, isso é má educação da população.
Pois é, Alexandre, estamos desaprendendo a conviver em sociedade, e ainda tem gente que acha o brasileiro o povo mais alegre, divertido, simpático e fácil de lidar do mundo. Só diz isso quem jamais trabalhou com atendimento ao público, como eu.
Excelente registro, parabéns! Estive na cidade do Rio de Janeiro semana passada, e a Cidade Maravilhosa me impressionou pela limpeza nas ruas. Ou seja, é possível sim fazer algo para mudar essa condição deficiente de São Paulo, que é ver resíduos vagando por qualquer lugar que se vá. Outra coisa: ano que vem tem eleição para prefeito. Qual candidato vai fazer uma análise adequada de nossa cidade? São Paulo está chegando ao limite de todas as suas funções. Está chegando àquele ponto de absoluta insustentabilidade. Não dá mais pra encarar essa situação de forma cosmética. Por onde começar um tratamento intensivo, para trazer a cidade a uma condição de habitabilidade?
Na minha infância passei muito na frente desse prédio com meus pais, morávamos na rua do Hipódromo, e virávamos a Uruguaiana para frequentarmos a antiga Congregação cristã no Brasil, que se situava quase no fim desta rua. Na época, não há que não queria residir nessa propriedade. Nisso até o ano de 1954, quando a sede da igreja mudou-se para a rua Visconde de Parnaíba, onde saiamos do Hipódromo, virávamos a Uruguaiana e dobrávamos a Gomes Cardim, que na época tinha acesso a Visconde Parnaíba. Bons tempos, e é muito triste ver a realidade desse canto da cidade, comparado aos tempos de minha mocidade.
Olá Luciano.
Atualmente moro na Rua do Hipódromo e tenho muita curiosidade de saber como ela era antigamente. Por acaso você teria fotografia antigas?
Douglas na mesma rua há uma residencia preservada se um amigo meu!
Foi construida pelo arquiteto prático sr. Cavalheiro (bisavô) e este meu amigo é parente.
O arquiteto sr. Cavalheiro foi um grande prático com um enorme número de obras na região e enterrado próximo ao sr. Ramosde Azevedo!
Há um livro documentando sobre a casa que ele mora a qual está bem preservada!
Ele vai gostar de te mostrar a casa!