Residência de Zeffiro Lorenzi (Zeffiro Restaurante)

Nem mesmo este período de quarentena aqui em São Paulo é capaz de oferecer uma trégua da especulação imobiliária contra os imóveis antigos na nossa cidade. A vítima do momento foi este casarão abaixo:

clique na foto para ampliar

Localizado nos números 667 a 671 da Rua Frei Caneca, região de Cerqueira César, este casarão foi abaixo recentemente. De acordo com o nosso colaborador José Vignoli, era isso o que restava dele na noite de 3 de junho de 2020:

Foto: José Vignoli / Colaboração ao São Paulo Antiga

Restou apenas entulho e um pedaço da fachada deste charmoso e importante casarão que sempre alegrou a visão de todos que passam por esta importante rua paulistana, e que há anos apresenta-se como uma via saturada e em seu limite para receber novos empreendimentos. Basta uma passada em horários mesmo que não são de rush para observar que ali não há horários tranquilos.

Mesmo assim a prefeitura da capital ignora esse esgotamento urbano e concede alvará para mais um edifício ser construído e, por consequência, aumentando o trânsito e elevando ainda mais a saturação da região. O que vale é apenas a arrecadação de mais IPTU, deixando a qualidade de vida em segundo plano.

Sai a fachada da casa, entra a placa de futuro estande de vendas.

Foto: José Vignoli / Colaboração ao São Paulo Antiga

1 – O RESTAURANTE:

O último uso deste belo casarão do passado paulistano foi comercial, onde funcionou um ótimo restaurante o qual tive o prazer de frequentar por duas oportunidades: o Zeffiro Restaurante.

Foto: Divulgação
A lateral do casarão (clique para ampliar) / Foto: Divulgação

O estabelecimento ocupava a parte principal do casarão e era conhecido por ter um excelente cardápio, aliado ao bom gosto que reinava na decoração do espaço onde o imóvel centenário era decorado em seu interior com objetos que valorizavam ainda mais o ambiente tradicional em que ele se encontrava.

A área interna do Zeffiro (clique na foto para ampliar) / Crédito: Divulgação

O restaurante também era conhecido por eventos gastronômicos que realizava em seu espaço, como o ‘Chef por um dia‘ onde receberam pessoas como o artista plástico francês Mark Fletcher, que ofereceu um cardápio típico da França ou ainda a chef Sílvia Perotti que apresentou a culinária ayuvérdica.

Além dos eventos gastronômicos a casa chegou hospedar inúmeras exposições artísticas e culturais nos mais diversos ramos da arte, algo que agregou muito ao ótimo ambiente do Zeffiro.

Infelizmente a casa encerrou suas atividades em fevereiro de 2019, sendo que desde então o imóvel encontrava-se fechado. Na página oficial do restaurante no Facebook há publicações de despedida mas sem menções ao motivo.

Foto: Divulgação (clique para ampliar)

Embora a duração do restaurante seja um tanto quanto breve se comparado à toda a existência do imóvel, é sempre importante documentar a memória comercial da cidade, pois estabelecimentos como estes – mesmo que breve vida – fazem parte da memória paulistana e de seus indivíduos, como funcionários, proprietários, clientes etc.

Inaugurando em 2010, seus proprietários eram Eder Luiz Peres e, sua mulher, Vera Lucia Lorenzi Damaso, neta de Zeffiro.

2 – A RESIDÊNCIA:

Construído nas primeiras décadas do Século XX, o casarão foi residência do imigrante italiano Zeffiro Lorenzi, que chegou ao Brasil no já distante ano de 1913. O nome do restaurante era uma homenagem a ele que residiu no imóvel com sua esposa Erella Lorenzi até quando faleceu, em abril de 1984.

Criança com boneca na calçada do casarão (divulgação / Zeffiro Restaurante)

Pesquisando em uma antiga lista telefônica de São Paulo foi possível descobrir que Lorenzi mantinha uma oficina mecânica nos fundos do imóvel, mais precisamente no número 667. O estabelecimento chamava-se Auto Mecânica Zeffiro Lorenzi e seu número de telefone nos anos 1960 era 34-0909.

Se o casarão não existe mais, uma frase encontrada no ainda ativo site do restaurante hoje soa sem sentido: “os detalhes de uma casa que ainda resiste aos arranha-céus desta Metrópole” – infelizmente, não mais.

Veja mais fotos do imóvel:

Fontes consultadas:

* O Estado de S. Paulo – Edição de 13/04/1984 pp 32
* Folha de S.Paulo – Edição de 25/11/2010
* Guia dos Telefones Assinantes de São Paulo 1961
* Zeffiro Restaurante – Link visitado em 02/06/2020

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27 respostas

        1. Lucas, sim, São Paulo é mesmo o meu país. Sou mais um que sabe que o “Brasil” é um país criado artificialmente por poderosos para o acumulo e centralização do poder (membros do alto escalão da maçonaria, como D. Pedro I e José Bonifácio).
          Sou a favor da descentralização e da autonomia.

  1. Pra mim e o máximo da ignorância, porque não preservar? Aí fica todo mundo querendo ir pra Europa pra ver seus monumentos históricos!?!?!? Porque não salvar os nossos???? Raiva

  2. A cada dia que passa a Memória de São Paulo vai se esvaindo entre os dedos da mão.
    Acredito que logo nas Avenida Higienópolis, Angelica, Ruas Martinico Prado, entre muitas outras irão sumir com o passar do tempo.
    E viveremos ao meio de uma emaranhado de concreto sem vida.
    Uma pena a ganância imobiliária esteja em ação…

  3. Lastimável, estava em otimo estado de conservação e num lugar bom para comércio

  4. Cada dia que passa ficamos órfão de um passado não tão distante, uma prefeitura que não tem memoria……isso é uma pena más não podemos fazer nada em relação a tombamento histórico, um casarão bem preservado.

  5. Em março já haviam derrubado na calada da noite. Pensei em informar esse site, mas ando bem desanimado com o patrimônio paulistano… A pichação e degradação do obelisco da memória, a ignorância da prefeitura e governo do estado com relação à memória, a revolta da população que não se sente representada pela história de São Paulo e por isso faz ações degradantes contra o patrimônio, tudo isso me leva a desistir: prefiro não ver.

  6. Oh pecado , um imóvel tão bonito colocam abaixo para dar lugar a um edifício…que pena …

  7. E o mais ironico, e que o proprietario sequer vai receber o valor pleno pelo terreno cedido. Incorporador Paulistano adora dar apartamentos na planta em troca de terreno,

    E se voce mirar do alto destas pilhas de caixa de sapato verticalizadas avistara um mar de cinza e branco, e predios pichados. Nada de verde, nada de casario e telhas vermelhas.

    Baixo Augusto, Consolacao, e partes da Bela Vista viraram uma pilha de pombais .

    Sorte de Campos Eliseos que tombaram se a altura dos edificios, bom seria se o Cambuci tambem fosse salvo desta destruicao em nome da fortuna de poucos incorporadores.

  8. Muito triste, não existe critério, não existe regra e sobretudo não existe cultura nem dos governantes nem de governados.

  9. O IPTU deve ser abolido. Ele é um dos piores impostos que existem. Além disso, ele é cobrado sobre uma propriedade que você já pagou e já é sua. Totalmente injusto.

    Estou cada dia mais revoltado.

    Paulistanos, precisamos agir.

  10. Que pena derrubar uma casa dessas, tão linda e histórica! Os governantes tem que olhar com mais carinho, o Brasil não precisa mais de tantos prédios…
    Obrigada por compartilhar conosco, essas fotos maravilhosas!

  11. Lindíssimo imóvel, é uma pena não mais existir, perda de mais uma parte da história de uma cidade!

  12. Judiação,desculpe meu comentário,mas o que fizeram é pura canalhice…Quisera eu ter muito dinheiro que eu não deixaria acontecer isso!!! Gosto da arte antiga das construções e objetos raros…Uma verdadeira tristeza!!!

  13. Estive uma única vez e amei tudo…… através do Restaurante Week: comida, serviço, decoração e capricho! Prometi que iria voltar em algum outro momento. Não deu tempo. Pêsames duplo, pela perda desta construção e pela insensata especulação imobiliária.

  14. Realmente, Douglas, definitivamente não se preserva a memória de nada nessa cidade. Mentalidade tacanha dos “empreendedores” e do poder público, cujo objetivo é destruir mais e mais para dar lugar a mais prédios e bate-estacas na orelha !! (dane-se a história). Resultado, ruas entupidas, ar pesado poluído, stress e por ai vai …
    Um contrassenso, pois os mesmos protagonistas da destruição contemplam os monumentos históricos europeus e fazem “selfie” das viagens que fazem mundo afora. Lamentável!

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