Costuma-se dizer que a história é escrita por e para os vencedores e na maioria dos casos é realmente isso mesmo que acontece. O curioso é que também existem casos onde pessoas simplesmente desaparecem da história por variados motivos, entre eles a morte.
E foi uma morte que mudou o destino e um palacete da avenida Paulista para que fosse conhecido apenas pelo nome da pessoa que ali morou, pois a pessoa que o encomendou infelizmente veio a óbito pouco tempo antes dele ser concluído. Trata-se do palacete onde residiu João Dente.
Essa suntuosa construção era localizada na avenida Paulista número 55 (atual 1754) e ao contrário do que pode parecer não foi inicialmente projetada para ser a residência do ilustre advogado João Dente, mas de outra pessoa, de nome Luiz Pinto, que encomendou o projeto arquitetônico e deu início à construção ainda no ano de 1915. Nos registros encontrados em nossa pesquisa averiguamos que o mesmo faleceu em 1917 e seus herdeiros teriam desistido da conclusão e mudança para o imóvel, que havia sido batizado na planta como Palácio Pinto.
Quis o destino que outro paulistano morasse no palacete e o seu primeiro morador foi o advogado e capitalista paulistano João Dente. De acordo com o site Avenida Paulista, antes de ocupar esse palacete Dente era, junto de sua família, morador de outro luxuoso imóvel da região da Consolação.
João Dente, também conhecido como Coronel João Dente, era um além de célebre advogado criminalista, formado pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, um rico capitalista. Ao casar-se com Maria Gertrudes de Faria, filha de um cafeicultor do sul do Estado do Rio de Janeiro, acumulou ainda mais fortuna, passando a investir em outros negócios como construção civil e até imprensa.
Nesses novos investimentos João Dente chegou a ser proprietário por um breve tempo do então renomado jornal paulistano “A Gazeta”, durante o período em que esteve no comando desse impresso eram comuns os anúncios de locação dos imóveis construídos por ele, a maioria dele localizados na Mooca em diversas ruas do bairro.
Uma das ruas da região com várias casas construídas por ele ficava próxima da fábrica da Antarctica, onde ele ergueu sobrados charmosos para servirem de residência para os operários da cervejaria. Alguns deles ainda resistem por lá. Em 1960 esta rua em questão foi rebatizada, passando a se chamar Coronel João Dente. Algumas das casas construídas por ele na rua que leva seu nome podem ser vistos aqui.
O anúncio a seguir veiculado em outubro de 1915, mostra alguns de seus anúncios imobiliários, note que tratava-se sobre a locação na própria sede do jornal.
Voltando ao palacete não sabemos até que ano Dente viveu neste imóvel na avenida Paulista, mas é sabido que ele separou-se da esposa e mudou-se para outro residência no Jardim América e sua agora ex-esposa ainda permaneceu no Palacete.
Posteriormente o palacete viria a ser demolido no final da década de 1950 e outro imóvel residencial mais moderno foi erguido em seu lugar. Este novo imóvel também não resistiria e viria abaixo para dar lugar a um edifício.
Veja mais fotos do palacete (clique na miniatura para ampliar):
Para saber mais detalhes sobre o período pós palacete recomendamos o site Série Avenida Paulista que explica com muitos detalhes. Para isso basta clicar aqui.
Respostas de 3
Olá Douglas, tudo bem?
Muito bacana o texto, com informações que não conhecia. Obrigada por citar o site da Série Avenida Paulista. No texto você poderia incluir a palavra “Série” antes de Avenida Paulista? Vou incluir no texto da Série, o link para o texto das casas operárias, que é muito interessante e com fotos lindas.
Abraços,
Luciana
Quem vai parar a ganância incessante dos bancos, cujos prédios dominam boa parte da Av. Paulista?
Houve polêmica quando da construção da estação do metrô em Higienópolis, mas alguém mexeu em um tijolinho que fosse, de algum banco? Já para construir a estação Alto do Ipiranga, demoliram um quarteirão inteiro. Nota-se a diferença, quando o poderio econômico está envolvido.
Eu gostava de passear por essa avenida nos anos 1970 e 1980. Depois, acabou perdendo a graça, se tornando um local de trânsito insuportável, e em 2019, quando fui ao Sesc da Rua Augusta, achei a região um tanto decadente, também.
Esta casa mostrava uma combinação muito especial de elementos estéticos e uma assimetria em sua fachada que faziam um diferencial com muitas outras igualmente assimétricas. Tudo tão harmonioso e equilibrado que não poderia ser desfeito.