Costumo dizer que em São Paulo o patrimônio histórico é mais aglutinador de más notícias do que boas, pois com uma razoável frequência ficamos sabendo de alguma casa antiga que foi demolida ou descaracterizada, ou ainda de algum monumento que foi danificado ou furtado. Frustrante!
Por isso é muito satisfatório quando uma restauração acontece. Ainda mais satisfatório quando o imóvel foi recuperado não por imposição judicial, mas pela própria vontade de seus proprietários. É o caso do palacete localizado no número 180 da rua Crasso, na Vila Romana.
Toda vez que eu passava ali pela rua Crasso ficava me perguntando qual seria o futuro desse charmoso palacete antigo, que no passado serviu de residência ao Sr. Diogo Asturiano e família. Sempre fechado e mal conservado, parecia que estava só esperando uma daquelas “propostas do mercado imobiliário” para ser demolido e transformado em prédio ou em algum ponto comercial sem graça ou beleza.
A minha primeira preocupação com o destino desse palacete foi no início de 2018, quando seu vizinho da esquerda, um sobrado bem antigo, foi vendido e demolido. As preocupações dobraram em 2021 quando a antiga residência da família Asturiano foi cercada por tapumes, como mostra a fotografia abaixo:
Comecei a me perguntar: será o fim do palacete? Vão demolir ou descaracterizar aquele que mesmo em mau estado de conservação é, de longe, o mais belo imóvel da aprazível rua Crasso?
A minha aflição – e possivelmente de muitos outros apaixonados por construções antigas – durou um tempo longo. Mas felizmente essa preocupação não se concretizou e a casa ressurgiu restaurada:
Que feliz destino o palacete de Diogo Asturiano teve. Os tapumes removidos revelaram um primoroso e detalhado serviço de restauração, que recuperou toda a edificação e ainda fez um adequação do espaço da edícula que foi reformulada com muito bom gosto.
O gradil do portão e da mureta são os originais e foram recuperados para ser reinstalados no local. No caso ambos ganharam uma parte a mais ficando mais altos, algo perfeitamente compreensível na nossa cidade insegura de hoje em dia. A calçada recebeu um piso bonito que foi disposto de uma maneira geométrica muito elegante.
A restauração não alterou a cor do imóvel, que permanece branco com detalhes em azul escuro. O jardim, que na primeira visita não passava de um matinho sem graça, recebeu um excelente paisagismo que conversa com a escada que dá acesso à casa, cujos degraus são de granilite rosado. Até a porta original foi preservada.
No dia que passei para fotografar, um domingo, encontrei apenas um senhor que estava fazendo alguns ajustes e limpezas e ele não soube informar se o imóvel será utilizado como comercial ou residencial, mas me deu alguns detalhes sobre como o trabalho foi executado e fiquei muito feliz com o que escutei. É bom saber que ainda há pessoas que se preocupam em manter o legado de seus antepassados preservado de maneira correta e digna.
Meus parabéns aos proprietários (será ainda da família Asturiano?) e também para MGM Arquitetura pelo excelente trabalho executado.
Galeria de fotos do palacete (clique para ampliar):
Quem foi Diogo Asturiano ?
Sempre que possível aqui no São Paulo Antiga damos os nomes dos donos originais dos imóveis relevantes de nossa cidade. Optamos por fazer isso em reconhecimento do que estas pessoas construíram para o patrimônio arquitetônico paulistano. Claro nem sempre é possível levantar dados, pois muitas vezes famílias simplesmente acabam, contudo neste caso levantei alguns dados básicos e deixo aqui o convite para caso alguém tenha mas informações que me envie.
Ao que indica Diogo Asturiano foi médico e atuava na mesma região onde residia. Entre outras atividades atuava em ações de caridade com os vicentinos e também tinha um cargo direito no Roma FC um clube esportivo da zona oeste da capital. Ele teve uma filha e dois filhos, um deles chamado Diogo Asturiano Jr e faleceu em 25 de janeiro de 1987.