Residência de Dante Montagnana

Certo dia andando pelos bairros da Liberdade e Cambuci me deparei com uma rua bem estreita, chamada São João Batista, que jamais tinha entrado antes. Resolvi dar uma olhada nesta via para ver o que encontrava de interessante nela e imaginem qual foi a minha surpresa ao me deparar com esta preciosidade no número 192:

clique na foto para ampliar

Esta construção rara e preciosa, apesar de não se encontrar em seu melhor estado de conservação, é de um estilo arquitetônico muito raro de ser encontrado por essa região do Cambuci, aliás parece ser de longe o imóvel mais antigo não só desta rua mas de todos os arredores.

Trata-se de um amplo sobrado da primeira metade do século 20 com duas entradas separadas, as quais não foi possível entender qual sua função (da segunda porta, à esquerda), sendo que talvez seja acesso a uma dependência menor da residência.

Fiz uma pesquisa cruzando informações de IPTU, jornais e listas telefônicas de 1937, 1939 e 1961 e apesar do imposto ter como dado mais antigo da propriedade em 1949, é fato que esta casa já existia ao menos vinte anos antes. Em 1937 foi possível identificar que o imóvel era residência do industrial imigrante italiano Dante Montagnana e sua esposa Linda(veja nota) Poltronieri Montagnana. Ela faleceu em 2 de maio de 1938 e seu enterro partiu desta casa rumo ao Cemitério da Consolação.

O patriarca, Dante Montagnana, exercia o cargo de diretor na empresa Moinhos Gamba uma poderosa indústria de São Paulo da primeira metade do século 20, com atuação da área têxtil até sabão, óleo vegetal entre outros. Ele faleceu anos depois de sua esposa em 12 de fevereiro de 1955.

Nota de falecimento de Dante Montagnana

Após seu falecimento aparentemente o imóvel foi destinado para fins comerciais o que permanece até os dias atuais. Na década de 1960 funcionava um estabelecimento chamado “Casa Rolha” o qual encontrei apenas o número de telefone da época e nenhuma outra informação relevante, nem mesmo ao pesquisar na Junta Comercial do Estado de São Paulo (Jucesp), um mistério.

Abaixo mais duas fotografias da fachada deste incrível sobrado (clique para ampliar):

Apesar do imóvel ser centenário ele não está, ao menos em sua fachada, nas melhores condições. O vandalismo se faz presente com pichações e a pintura há tempos está desgastada, inclusive já soltando em algumas partes. A sacada no centro da construção (andar superior) encontra-se boa mas com alguma infiltração.

Pelo lado positivo destaco a originalidade preservada da construção, com todas as janelas antigas originais (daquelas que o vidro fica para o lado de fora e parte de madeira abre para dentro) e os adornos que decoram a fachada estão todos no lugar.

Uma jóia que se ainda não é precisa urgentemente ser tombada ao menos em sua fachada e preservada como patrimônio histórico paulistano.

NOTAS:

1 – De acordo com dados públicos do IPTU paulistano o imóvel pertence atualmente a uma empresa chamada IKS.
2 – Em alguns jornais o nome da esposa de Dante Montagnana é grafado como Linda e em outros como Lidia, optei por usar Linda por ser o mais vezes encontrado.
3 – Existiu um outro Dante Montagnana, médico e fundador Pronto Socorro Nossa Senhora da Pompeia, e que faleceu em 2012. É bem possível que seja neto ou descendente do Dante Montagnana que mencionei neste artigo. Se alguém tiver alguma informação entre em contato.

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