Se 2020 pode vir a ser um ano perdido por conta da epidemia de corona vírus, imagine como foi há um século no distante 1918 ? O mundo sofria uma crise sem precedentes na história por conta da sangrenta Primeira Guerra Mundial, que matou multidões e arrasou a economia do planeta, e ainda sofria com outro mal que se espalhava pelo mundo via navios: a gripe espanhola.
Naquela época a única maneira de se transportar carga de maneira economicamente viável entre os continentes era através de navios. Seja por transporte marítimo ou fluvial não haviam meios de levar produtos manufaturados dos Estados Unidos para Europa e Oriente ou vice-versa, bem como destes lugares para o Brasil.

O tráfego da marinha mercante que já estava bastante reduzido por conta da guerra, praticamente cessou por conta da epidemia, já que não era segredo pra ninguém que localidades bem distantes da Europa como Brasil, Nova Zelândia e Austrália receberam o vírus através de navios com passageiros infectados.
Se a produção de alimentos e itens básicos não faltavam aqui no Brasil um item importando muito utilizado naquela época faltou e inflacionou o seu mercado: as máquinas de escrever.
Se hoje não conseguimos ficar sem computadores, imagine o quanto era difícil vencer a escassez de máquinas de escrever há um século. Impostos, documentos, jornais, revistas, livros, setores diplomáticos, repartições públicas etc… todos dependiam das máquinas e não se encontravam novas no mercado já que não existiam fábricas deste equipamento no Brasil*.
A situação só seria normalizada bem no final do ano, quando a primeira guerra mundial acabou e mesmo diante da crise da epidemia – que seguiria até 1920 – a marinha mercante encarou retomar as atividades em níveis normais.
A chegada de lotes e lotes de máquinas de escrever em São Paulo, vindas do exterior através do Porto de Santos, foi tão curiosa que recebeu uma inusitada cobertura da imprensa da época.
As imagens abaixo mostram desde o transporte das máquinas na Estação Ferroviária do Pari (já extinta) até o setor de despachos da Casa Pratt, na Rua São Bento, já preparando as máquinas para o envio.

Vejam a sequência de fotos (clique para ampliar):


NOTA:
* No Brasil até o surgimento da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) em 1941 as condições da metalurgia no Brasil eram precárias. Isso dificultava a instalação de empresas de máquinas de escrever por aqui. A primeira fábrica deste segmento a ser instalada no país foi a Remington em 1948, seguida da sueca Facit em Minas Gerais em 1955, e da italiana Olivetti em São Paulo em 1959.
BIBLIOGRAFIA:
. A Vida Moderna – Edição 349 – Ano 1918 pp 40 e 41
. Scielo – Dossiê gripe espanhola no Brasil – link visitado em 30/03/2020
. Pari – Estações Ferroviárias do Brasil – link visitado em 30/03/2020
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