A cidade de Guarulhos costuma gabar-se como a oitava economia do Brasil, mas tem uma relação de profundo descaso ante ao seu patrimônio histórico. Embora a cidade tenha poucos pontos históricos e quase nenhum ponto turístico, despreza o que ainda existe. O mais emblemático exemplo disso não está no centro da cidade, mas na região de Gopoúva no Complexo Hospitalar Padre Bento.
Inaugurado em 1931 com o nome de Sanatório Padre Bento, o complexo foi concebido inicialmente para abrigar pacientes da lepra, hoje mais conhecida por hanseníase. Na época, os leprosos eram internados de maneira compulsória em vários complexos como este espalhados não só em nosso estado mas por todo o Brasil.
Por estar ao lado da capital paulista e ter fácil acesso pelo extinto Tramway da Cantareira, o Sanatório Padre Bento abrigou muitas pessoas de posses e da elite paulistana, entre eles o famoso escritor Marcos Rey.
O sanatório tinha o aspecto de uma pequena cidade murada, por ser isolada. Numa área de mais de 23 alqueires havia no local tudo que fosse necessário para que não fosse preciso sair do local para nada, como escola, cinema, teatro, residências, prefeitura interna e até um cassino.
Com o passar do tempo e a evolução da medicina, os leprosários foram sendo fechados gradativamente, até que na década de 80, esses hospitais colônias foram totalmente desativados pelo governo. A maioria dessas instituições viraram grandes complexos hospitalares e em Guarulhos, com o Sanatório Padre Bento, não foi diferente.
Tombamento e Abandono:
Dotado de uma bela arquitetura não só no hospital, mas nas belas construções ao seu redor, como no Teatro Padre Bento, o complexo foi tombado como patrimônio histórico pelo Condephaat na década de 1990 e, posteriormente, pela Prefeitura Municipal de Guarulhos no ano 2000.
Entretanto salvo o Teatro Padre Bento e o campo de futebol restaurados pela prefeitura guarulhense nos anos mais recentes, pouco ou quase nada foi feito pelo governo estadual para preservar algumas áreas do complexo que é de sua alçada.
A imagem acima mostra o quanto o descaso ao patrimônio histórico é um acinte à sociedade e um problema crônico de nossas autoridades. As célebres pérgolas do Hospital Padre Bento estão completamente abandonadas e algumas até parcialmente destruídas. No local não há quase visitantes, não há pedestres e nem vandalismo. O péssimo estado se deve ao completo abandono do local pelas autoridades responsáveis.
O vidro das abóbodas que compõe as pérgolas estão boa parte destruídos, e os que restam correm o risco de cair a qualquer momento. Os suportes dos vidros que compõem as mesmas abóbodas estão tão enferrujados que podem dificultar um possível trabalho de recuperação.
Mas o que mais surpreende e choca são três colunas caídas em meio a alameda impossibilitando a apreciação do local. O que deveria ser uma área de lazer e um importante ponto turístico e histórico de Guarulhos, virou um risco para qualquer pessoa que se aventure a caminhar por ali. Um enorme pé de jaca costuma também causar danos nas pérgolas.
Um patrimônio tão belo, importante e relativamente fácil de preservar em tão péssimo estado. Tombadas por leis estaduais e municipais, as pérgolas do Complexo Hospitalar Padre Bento estão, teoricamente, protegidas. Mas sem qualquer plano de recuperação e restauro em breve poderá não ter o que preservar.
Todas as vezes que fomos ao local para fotografar o descaso e o abandono, houveram tentativas por parte dos seguranças do local de impedir que as imagens fossem registradas. Ao invés de cercear o nosso trabalho de jornalismo, deveriam se preocupar na recuperação do local.
Veja mais fotos das pérgolas do Padre Bento (clique na foto para ampliar):
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