Palacete de 1909 – Rua José Bonifácio

Nem sempre os artigos publicados no São Paulo Antiga trazem revelações impactantes, mas muitos deles restauram histórias interessantes ou registros até de pequenas casas que compõem hoje o enorme acervo de imagens e informações do Instituto São Paulo Antiga que assume a responsabilidade de manter a história, seja ela espetacular ou cotidiana.

Não podemos esquecer que são estes pequenos fragmentos da história que permitem que se possa falar em preservação ou memória em um sentido mais amplo.

Daí os prédios comerciais, em geral, não chamarem muito a nossa atenção; entretanto, resgatar a história destes imóveis pode trazer informações riquíssimas, não só sobre a estética, mas também sobre alguns personagens e fatos lá ocorridos que podem ser, no mínimo, curiosos.

É o caso de um antigo prédio, inaugurado em 1909, que ainda se mantém na esquina das Rua São Bento e José Bonifácio (em frente ao Largo São Francisco). Neste edifício que originalmente possuía duas entradas, uma pela Rua São Bento, 24 e outra pela Rua José Bonifácio, 210, já passaram dezenas, senão centenas, de empresas, lojas, agremiações sociais e tantas outras atividades; afinal, são mais de cem anos abrigando os mais diversos inquilinos.

Abaixo duas imagens do palacete, respectivamente em 1917 e 2022:

Infelizmente, já sem vários dos seus adornos originais e com a fachada do térreo bastante descaracterizada, permanece parte de sua antiga opulência. A entrada da Rua São Bento, por exemplo, foi fechada e o antigo hall de entrada transformado em mais um espaço para locação…

Mas o resgate de parte da história deste prédio só foi possível graças à empresa R. G. Latham & Cia (de propriedade dos Srs. Reginald George, Grace Latham e D.M.Rae), que registrou sua existência através de duas das muitas publicações comerciais que existiam no início do século 20. O fato de ter feito a sua propaganda, deixou para a história, não só sua atividade de representante comercial, mas também fotos do prédio onde estava instalada.

Na foto, dois dos proprietários da empresa (clique para ampliar)

O pouco que sabemos é que a empresa foi fundada em 1913, chegou a ter filial no Rio de Janeiro, representava diversas empresas dos mais variados setores e permaneceu no prédio até 31 de maio de 1927 quando, então, se mudou para outro endereço, na mesma Rua São Bento.

Variadas atividades podem ser encontradas nestes dois endereços, tais como a sede da Estrada de Ferro Araraquara e da Estrada de Ferro São Paulo Goiáz (grafia da época) , o Banco dos Lavradores, seguradora e todo o tipo de atividade, desde alfaiatarias, clubes e muito mais.

Um fato bastante curioso, ocorrido no ano de 1962, é que no endereço da Rua São Bento foi desbaratada uma quadrilha especializada em contrabando de jóias e cuja loja de fachada ficava no prédio. Porém, o que mais chama a atenção foi a descoberta de cofres e de várias salas secretas, paredes falsas e tudo mais para despistar a polícia.

clique para ampliar

Hoje ele está lá, bastante desfigurado, sem muitos cuidados, triste e esperando quem se interesse para alugá-lo… Quem sabe voltará um dia a ter seu antigo esplendor. A edificação é tombada como patrimônio histórico paulistano.

As fotografias da galeria abaixo foram tiradas em 2020 e 2021 e apresentam o edifício ainda com a fachada original, feita com pó de mica um material bastante utilizado em pinturas de fachadas antigas. A foto que abre o artigo, junto com a de 1917, é de 2022 e apresenta a pintura já coberta com uma tinta de um material que não é o correto, gerando incompatibilidade com a técnica construtiva.

Caso a tinta utilizada seja acrílica, muito em breve se formará uma película que irá se desprender da fachada, pois a parede não conseguirá respirar. Pelo fato do imóvel ser tombado caberia a aplicação de multa ou reversão do processo.

Galeria de fotos (clique na miniatura para ampliar):


Bibliografia:

São Paulo e seus homens no Centenário. Empreza de publicidade “A Independência” Editora. São Paulo, 1922
Álbum de São Paulo 1918 – Monte Domecq & Cia
O Estado de São Paulo – edição de 16/4/1904
O Estado de São Paulo – edição de 31/5/1927
A Gazeta – edição de 1/2/1914
Correio Paulistano – edição de 15/6/1962

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3 respostas

  1. Tenho em casa um livro que fala sobre a história da Melitta, e tem uma foto que mostra uma casa tão antiga quanto grande, que o texto diz ser aonde a empresa nasceu, na Alemanha, no início do século XX. Essa casa assemelha-se com essa aí da matéria, inclusive fica também de esquina. A germânica é maior(ou era, não sei se ainda está de pé…) mas, guardadas as devidas proporções, lembra um pouco, especialmente nos telhados.

  2. Dificil resgatar a autenticidade quando se falta mao de obra adeaquada para reproduzir com autenticidade os detalhes, e mais ainda, quando o retorno economico torna a manutencao proibitiva.

    Eu ja estive neste predio, lojas e andares superiores, e o que mais impressiona, alem do assoalho em madeira, e o generoso pe direito. Na ultima vez que la estive, os andares superiores abrigavam uma sapataria e uma dentista. Ou seja, 90% vago.

    Se restaurado ao seu estado original, e modernizado por centro, daria um formidavel edificio residencial com lojas no terreo.

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