A influência árabe em São Paulo é profunda e pode ser observada em vários aspectos do cotidiano paulistano, desde a alimentação, costumes e também na arquitetura da cidade. Boa parte destas referências arquitetônicas do oriente médio já se foram, demolidas, ao longo da segunda metade do século XX, entretanto a mais relevante dessas influências não só resiste como está absolutamente preservada e atende pelo nome de Palacete Rosa.

Ao contrário da grande maioria dos industriais paulistanos do início do século 20, os Jafet ao invés de residirem na Avenida Paulista, que já se estabelecia como o principal endereço da elite de São Paulo, ultrapassando Campos Elíseos, optaram por residir no também elegante bairro do Ipiranga, ficando assim mais próximos de suas instalações fabris. Cerca de 20 palacetes foram erguidos pela família na região, sendo que atualmente apenas 6 sobreviveram, entre eles este.
Localizado no número 801 da Rua Bom Pastor, no bairro do Ipiranga, o palacete foi construído no ano de 1927 para servir de residência ao casal David e Munira Jafet, que ali viveram por décadas e criaram seus filhos Renee, Clemence, Edgard e Ibrahim.
O estilo mourisco do palacete se reflete por toda a sua construção. Desde o exterior com seu minarete, suas colunas, relevos e seus arcos árabes quanto no interior da residência com seus afrescos, serralheria, e o delicado rendilhado que reveste paredes.
O monumental hall de entrada reproduz fielmente o interior das mais ricas mesquitas do oriente médio e impressiona demais quem adentra à propriedade pela primeira vez. Já a sala da frente por sua vez, encanta pelos afrescos que nos remetem à música. Ainda no hall é possível contemplar a clarabóia com seus encantadores vitrais coloridos.
O piso do Palacete Rosa, de granilite, reluz com as peças de madrepérola nele incrustadas, dando um aspecto de sofisticação inigualável. Para acessar o andar superior utiliza-se uma impecável escadaria de mármore branco.
No andar superior, antes de acessar os dormitórios depara-se no amplo corredor com uma grande pintura na parede que ilustra uma cena de uma antiga imagem de uma cidade do oriente médio. Apesar de não haver referência escrita, afirma-se ser Bagdá.
Seus proprietários originais, David Jafet e Munira Jafet, faleceram respectivamente em 1951 e 1978. Após a morte de David seu filho, Ibrahim Jafet, herdou o imóvel e lá residiu com sua esposa Doris Edwina Yazbek Dumani Jafet, sua mãe Munira, e seus dois filhos, Christian e Luciano, até vendê-lo ao Instituto Santa Olga, em abril de 1963. De acordo com a lista telefônica para o ano de 1961 o telefone da casa era 63-1372.
O INSTITUTO SANTA OLGA
Em 1963 o Palacete Rosa, vendido, passou a abrigar o Instituto Santa Olga.
Esta instituição consistia em um internato voltado para exclusivamente para meninas, especialmente filhas de imigrantes russos refugiados em São Paulo durante a II Guerra Mundial. A proximidade com uma igreja de rito russo pouco metros do palacete, talvez tenha ajudado na escolha.
O local era administrado pelas irmãs ursulinas e permaneceu em atividade até o final da década de 1990.
A ERA GASPARETTO
No início dos anos 2000, depois de um período fechado e com início de um processo de deterioração, o Palacete Rosa é comprado para novamente servir de residência. Seu novo proprietário é o médium e psicólogo Luiz Antonio Gasparetto.
Antes mudar de maneira definitiva para seu novo lar, Gasparetto determina um minucioso processo de restauração no palacete, que é tombado como patrimônio histórico desde o ano de 1991. O trabalho consistiu em resgatar todo o esplendor do período áureo desta construção, compreendida entre os anos de 1927 e 1950.
Instalado em um terreno de 1,2 mil m² o imóvel ocupa praticamente a totalidade do lote. A meta era recuperar todo o lado histórico, sem se privar de modernidades, respeitando o nível de tombamento local. Entre as inovações o palacete ganhou aquecimento à gás e nova hidráulica. Os Jafet, curiosamente, já haviam instalado algo bastante incomum em residências nos anos 1920: um elevador, que foi restaurado por Gasparetto.
As obras de restauro ficaram a cargo da arquiteta Josanda Ferreira e foram concluídas em 2009, quando Gasparetto passou definitivamente a residir no local até sua morte em 3 de maio de 2018. Desde seu falecimento o casarão está sendo mantido preservado e em dia por herdeiros, que optaram a colocá-lo à disposição do mercado para que venha a ter um novo dono.
RUMO A UM NOVO PROPRIETÁRIO
Esta relíquia mourisca instalada no mais famoso bairro do Brasil, o Ipiranga, berço da independência nacional, agora caminha para ter um novo dono.
Através da renomada Alfa Leilões, especializada no segmento imobiliário, será possível a um novo candidato dar lance no Palacete Rosa. Com abertura iniciada em junho e fechamento programado para 25 de agosto próximo, o leilão tem lance inicial em R$ 5.500.000,00.
O novo proprietário dessa rara jóia paulistana terá a oportunidade de desfrutar não só de um pedaço importante da história paulistana, como também terá a honra de estar presente no bairro na ocasião do já próximo Bicentenário da Independência do Brasil, em 2022. Pouco depois poderá também celebrar do centenário do Palacete Rosa em 2027.
Em uma cidade onde o passado não é tratado com o devido respeito, viver em um pedaço da história viva de nossa nação e de São Paulo é um privilégio e tanto.
O arrematante leva não só a propriedade em si, mas toda a mobília e palacete também, sendo que boa parte delas podem ser observadas nas fotografias deste artigo. Aos interessados contatem a Alfa Leilões para obter maiores detalhes sobre tais objetos.
DADOS DA PROPRIEDADE:
Nome: Palacete Rosa
Localização: Rua Bom Pastor, 801 – Ipiranga
Ano de construção: 1927
Ano de tombamento: 1991
Primeiros proprietários: David e Munira Jafet
Proprietário mais recente: Luiz Antonio Gasparetto
Área total construída: 1.221 m² ::: Área do terreno: 1087,50 m²
Lista de cômodos: pátio principal, sala de jogos, sala de estar, sala de jantar, sala das cristaleiras, chapelaria, lavabos (2), cozinha, elevador, ateliê, sala de estar do ateliê, sauna, sala da sauna, sala de descanso, depósito, dependência de empregados (cozinha, dormitório e banheiro), 3 dormitórios sendo 3 suítes e 2 suítes master com closet, depósito pequeno no 2º andar, sala de leitura, sala de tv, terraço, sala de máquinas do elevador, orquidário, posto de vigilância, garagem, sala de segurança, lavanderia, área de estender roupas, jardim coberto, quintal amplo descoberto, 2 portões de entrada de automóveis.
GALERIA DE FOTOS
Confira outras 60 fotografias internas e externas do Palacete Rosa, clique na miniatura para ampliar:
Bibliografia consultada:
* O Estado de S. Paulo – edição de 13/07/1978 pp 24
* O Estado de S. Paulo – edição de 25/10/2009 caderno casa& pp 7
* Folha de S. Paulo – edição de 23/09/2004 pp obituário
* CIT Cadastro de imóveis tombados, Prefeitura do Município de São Paulo – link visitado em 11/07/2020
* Blog de Orlando Almeida – link visitado em 12/07/2020
AGRADECIMENTOS:
ALFA LEILÕES por tornar possível a realização deste artigo e a Luciano e Artur JAFET pelo envio de informações a respeito da família Jafet e do palacete.
Artigo atualizado em 22/07/2020
Informações atualizadas: metragem do terreno, dados referentes aos últimos anos da família Jafet no imóvel (enviado por Sr. Arthur Jafet ao site) e ano de venda do palacete para o Instituto Santa Olga.
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