O início do século 20 foi particularmente especial para São Paulo. O enriquecimento da capital paulista estimulava uma série de obras por toda a cidade, já se avizinhando aos poucos a grande metrópole a qual iria se transformar poucas décadas depois.
Por toda a cidade rasgavam-se novas avenidas, erguiam-se novos prédios, inauguravam-se novos monumentos, novas fábricas e também retificavam-se rios indiscriminadamente. Uma dessas retificações, a do rio Tamanduateí, serviu para que se criasse uma nova área de lazer para os paulistanos: o parque Dom Pedro 2º. Era o fim da velha várzea paulistana.
O parque era tão belo que logo se transformou em um espaço cobiçado para o mercado imobiliário da época que vislumbrou a possibilidade de faturar muito na região. Foi assim que a partir de 1922, ano de inauguração do parque Dom Pedro 2º, novas edificações começaram a surgir ao seu redor. Desses empreendimentos não há como não destacar o Palacete Nacim Schoueri, inaugurado em 1930.
UM LUXO DE MORADIA
Imigrante árabe e comerciante bem-sucedido Nacim Schoueri atuava no ramo de tecidos, como um grande atacadista, cuja empresa estava estabelecida na rua Florêncio de Abreu, região central de São Paulo.
Em 1926 Schoueri adquire um terreno na então recém aberta avenida Exterior – atualmente uma via que é só conhecida como parque Dom Pedro 2º – pela bagatela de 460 mil contos de réis, soma considerável para a época. Quatro anos mais tarde era inaugurado neste mesmo terreno o então novíssimo Palacete Nacim Schoueri.
Dotado de 5 andares, 54 apartamentos e 15 pontos comerciais no nível da rua, o prédio foi na época de sua inauguração uma edificação singular. Construído diante do novo e valorizado parque Dom Pedro 2º, estava próximo das principais ruas da cidade, como 25 de março, 15 de Novembro, Direita e São Bento.
O palacete tinha como importante diferencial ser um dos primeiros prédios residenciais da cidade, uma relativa novidade no estilo de morar na capital paulista. Os edifícios construídos com altura similar ou maiores eram de uso comercial. Apenas em 1932 ele seria ultrapassado como mais alto prédio exclusivamente residencial da cidade, com a inauguração do Palacete Riachuelo, este com 8 andares.
Projetado e construído pelos engenheiros Aldo Lanza e Giuseppe Chiappori, o palacete teve suas unidades rapidamente negociadas e transformou-se em um dos símbolos do parque Dom Pedro 2º, juntamente com outras construções então novas e elegantes de sua época e que estão por lá até os tempos atuais, como o Palácio das Indústrias – atual Museu Catavento – e o Mercado Municipal da Cantareira, entre outros.
A DECADÊNCIA
De futuro promissor como um oásis no centro de São Paulo, o parque Dom Pedro 2º teve curto período de glória e isso viria também a afetar o edifício. O glamour da região durou pouco mais de três décadas, sendo que nos anos 1960 a área começou a sofrer intervenções viárias mal planejadas que, aos poucos, foram transformando uma região encantadora em um dos lugares mais malcuidados da cidade, situação que persiste até os dias atuais.
Isso fez o charme de morar na região desaparecer e com isso o Palacete Nacim Schoueri foi perdendo seu principal atrativo, de estar diante de um parque acolhedor e bucólico, se transformando em apenas mais um prédio entre tantos outros da região.
Com isso o palacete foi aos poucos tendo sua manutenção deixada de lado e se deteriorando a cada ano que se passava. Em 1987 a situação do edifício estava tão precária que a prefeitura teve que interditar seus dois elevadores, após uma denúncia anônima. Seu futuro parecia sombrio: ser mais um dos temíveis “treme-treme” do centro, apelido dado aos prédios que se transformaram em verdadeiras favelas verticais.
Contudo aos poucos o Palacete Nacim Schoueri foi se adaptando a nova realidade do Parque Dom Pedro 2º como uma região movimentada, poluída e caótica. Os problemas internos do edifício foram sanados e hoje seus apartamentos são cobiçados novamente, seja pelo tamanho generoso, seja por sua localização.
Em 2007 o reconhecimento por sua arquitetura única finalmente chegou, com o edifício sendo tombado como patrimônio histórico paulistano. Apesar disso a fachada do prédio apresenta-se em péssimo estado de conservação, com várias partes do acabamento que caíram e reboco faltando, deixando os tijolos aparentes, além de focos de infiltração e diversos outros pormenores que necessitam de manutenção.
Por ser um patrimônio paulistano a prefeitura deveria oferecer alguma linha de crédito ou incentivo fiscal para a recuperação de sua fachada, algo tão comum em grandes cidades do mundo mas que praticamente inexiste em nossa São Paulo.
Dados:
PALACETE NACIM SCHOUERI
Inauguração: 1930
Pavimentos: 5
Unidades: 54 (de tamanhos diferentes)
Construção: Chiappori & Lanza
Localização: Parque Dom Pedro 2º, 288 – Centro
Veja abaixo a galeria de fotos do palacete (clique na foto desejada para ampliar):
Uma resposta
lindo!! apaixonante…. cada detalhe desse palacete… vontade de morar nele…. obrigada pela matéria explêndida (como sempre) Douglas!