Está quase pronto o novo pavilhão de exposições do Anhembi. Diante deste fato, não pode o São Paulo Antiga deixar de registrar o que foi o pavilhão original, uma verdadeira revolução ocorrida há 53 anos.
Em uma São Paulo acostumada a ter suas feiras realizadas no parque do Ibirapuera, em um pavilhão de exposições que, já nos seus últimos eventos, demonstrava não ter capacidade para receber um público cada vez maior naquelas que eram as exposições mais concorridas, havia a necessidade de se criar um novo espaço, até por conta da falta de espaço para estacionamento de visitantes. Desde o Salão da Criança, a Feira da Bondade, a Volta ao Mundo, UD, FENIT e tantas outras sem contar o Salão do Automóvel – este, sim, o maior e mais concorrido evento que transformava a região.
Na administração do então prefeito Faria Lima, em 1967, iniciou-se o Plano do Vale do Tietê, visando uma melhor utilização daquela área da cidade, até então pouco utilizada. Imaginou-se a construção de um complexo para exposições e, assim, já em 1968, a Câmara Municipal aprovava a cessão da área para esta destinação.
Em um terreno de 400 mil m² cedidos pela prefeitura, o então Centro Interamericano de Feiras e Salões S.A. – Parque Anhembi – foi criado, aquele que viria a ser o mais importante e moderno centro de exposições do país, com o patrocínio da Federação e Centro das Indústrias do Estado de São Paulo e sob a administração da Alcântara Machado Comércio e Empreendimentos, comandada pelo visionário Caio de Alcântara Machado, que seria conhecido como o “pai das feiras” no Brasil.
Após a prefeitura ter cedido o terreno, foi iniciada uma captação de recursos com a venda de ações para qualquer empresa que quisesse participar do empreendimento, comprando participação através da utilização de até 8% do imposto de renda devido. Estávamos em abril de 1969 e o projeto tinha pressa.
Os planos para a construção do complexo foram aprovados em solenidade no Palácio dos Bandeirantes, sob a administração estadual de Roberto de Abreu Sodré em uma reunião do CNTur (Conselho Nacional de Turismo), com a presença de autoridades federais e municipais, em 7 de julho de 1969.
O VII Salão do Automóvel, aberto em 20 de novembro de 1971, marcou o início da utilização daquele prédio, pioneiro pelo seu arrojo arquitetônico e características únicas no Brasil. Tudo pensado para ser um verdadeiro modelo para receber exposições de todos os tipos.
Tudo era grandioso, com uma área coberta de 67.600 m² suportada por apenas 25 colunas que se abriam em forma de guarda-chuva invertido, dando ao enorme prédio quadrado de 260 metros de largura um pé direito de 14 metros de altura, correspondente a um prédio de 5 andares. Este enorme pavilhão tinha ainda 6 mil vagas de estacionamento, uma agradável e útil novidade. Como era bom ir a uma exposição e poder escolher onde estacionar…
O mais impressionante foi que toda a estrutura em alumínio pesando 838 toneladas foi montada no chão e erguida de uma só vez em 5 de dezembro de 1969. Através de um sistema de guinchos, que erguiam centímetro a centímetro, de forma ritmada, sob um comando de voz vindo de um palanque, um locutor ditava o ritmo da subida, com interrupções para conferência de que todos estivessem na mesma altura. Feito isso – e fixada a estrutura – foi possível se ter a primeira visão do emblemático prédio.
Havia também todo um conjunto de obras complementares em dois mezaninos que teriam restaurantes típicos, salas para recepções, escritórios para os expositores, entidades patronais e governamentais. Também – e só ficaria pronto muitos anos depois – já era prevista a instalação de um hotel, no início denominado Hotel Anhembi, em um edifício de 14 andares, 360 apartamentos, suítes de luxo, piscina e outras comodidades.
Dentro do projeto do espaço – e que foi também realizado- temos que nos lembrar do Palácio das Convenções, com seus 70 metros de diâmetro e capacidade para 3.600 pessoas, além de 10 pequenos auditórios e do hotel, que ficou pronto muitos anos depois e cuja estrutura inacabada dava um ar triste ao complexo de exposições.
Tudo era novidade e modernidade incluindo aí os postes de iluminação do estacionamento, em forma esférica, fabricados em material termoplástico transparente, em que os refletores podiam ser dirigidos por dentro. Também, toda a comunicação visual era pensada, com um mínimo de elementos básicos, fonte padronizada com o objetivo de prestar uma informação clara e segura. Hoje pode parecer normal, mas, na época, foi uma grande inovação.
Algumas coisas, porém, não saíram do papel, como, por exemplo, um planejado circo aquático, que, como dizia uma reportagem da época, teria dois tanques para treino, repouso e espetáculo de golfinhos, o espelho d’água de 10 mil m² para desenvolvimento da vida vegetal, um restaurante com capacidade para atender 2.500 pessoas e um marco museu para a conservação de documentos relativos à vida econômica do país e o papel das feiras na evolução da economia nacional.
No novo projeto, ora em execução, nada sobrou da antiga estrutura projetada pelo arquiteto Jorge Wilheim e Associados, a não ser as esferas prateadas que iluminavam o interior do prédio e que agora farão parte da decoração da entrada principal do novo espaço.
Uma pena que não se preservou, mesmo que em um outro espaço, uma das colunas “guarda-chuva invertido” e uma parte da estrutura da antiga cobertura, para mostrar o que foi e significou aquela obra tão emblemática. Que venham muitas novas feiras e exposições, mas não nos esqueçamos dos bons momentos de tantas outras que lá aconteceram, fazendo, inclusive, a alegria das crianças, em um Salão da Criança, onde até se imaginaram voando dentro do Anhembi.
Abaixo algumas fotografias de eventos consagrados do Anhembi, as três primeiras respectivamente a Fenasoft de 1994, a UD de 2000 e abertura do 22º Salão do Automóvel em 2002, com o presidente Fernando Henrique Cardoso, a prefeita Marta Suplicy e o empresário Caio de Alcântara Machado, este em seu último salão pois viria a falecer em agosto de 2003 (clique para ampliar).
Bibliografia:
Revista Auto Esporte – Efecê Editora S/A – No. 69/Julho de 1970
Revista Acrópole – Janeiro (381) e Novembro (390) de 1971
Acervo do jornal O Estado de S. Paulo – várias edições