Um símbolo do abandono em plena região central de São Paulo. O monumento conhecido como “Homenagem ao Povo Armênio” do escultor José Jerez Recalde, fica localizado na Praça Armênia, ao lado da estação do metrô que possui o mesmo nome.
A obra, inaugurada em 24 de abril de 1965, é construída em granito e bronze e representa uma homenagem ao massacre de 1 milhão e quinhentos mil armênios que foram massacrados pelos turcos em 1915.
Era assim que o conjunto escultórico era desde sua inauguração até alguns poucos anos atrás (a foto abaixo é de 1989):
Entretanto, a representação acima praticamente não existe mais. Mesmo cercado por um gradil, todo o bronze do monumento foi roubado.
A mulher armênia, um relevo de bronze em tamanho natural que antes fazia parte do monumento foi roubada e provavelmente vendida em algum ferro velho e provavelmente derretida.
É assim que o monumento apresenta-se atualmente:
O mesmo ocorreu com a placa de bronze e também com todas as letras da frase: “Mesmo que acorrentem meus pés, amarrem minhas mãos, tapem minha boca, meu coração gritará por liberdade.” hoje desta frase restam apenas manchas no granito. O monumento que grita por liberdade é mantido preso, cercado por grades.
Ainda havia outra peça em bronze na parte inferior do monumento, mas que infelizmente foi roubada há tanto tempo que foi muito difícil encontrar uma imagem desta obra completa. As fotos que ilustram este artigo mostram como o monumento está hoje: esquecido e abandonado. O que era uma arte, virou uma espécie de fantasma.
Ao olhar este monumento sem o bronze, temos uma nova concepção desta obra. A ausência dos ornamentos tornam esta representação ainda mais dramática para o povo armênio.
No lugar onde anteriormente havia a figura de uma mulher, hoje há apenas uma silhueta criada pela mancha do bronze que antes estava sobre o granito. Já os buracos de onde esta mulher era afixada ao granito ficaram similares a marcas de bala, que nos remetem imediatamente ao genocídio que há tanto tempo atrás massacrou este honrado povo.

A mulher que antes chorava o massacre de seu povo, agora chora o massacre ao patrimônio histórico
É a arte (ou a ausência dela) imitando a vida. Até quando os monumentos paulistanos serão delapidados ?
Ex-moradores da Cracolândia vivem no local:
Fotografar ou visitar o monumento é uma atividade bastante perigosa e insalubre. O local possui um cheiro insuportável de urina, está repleto de lixo no seu entorno e no fundo do monumento no que deveria ser uma praça, é o lar de inúmeros menores de rua, bandidos e mendigos.
O odor fétido de urina se prolonga pela passarela que existe ali, e o lixo gerado pelos comerciantes de rua que ficam próximos a entrada da estação Armênia do metrô também incomodam bastante.
No momento em que a reportagem esteve fotografando o monumento, presenciou alguns jovens se drogando no local em plena luz do dia.
Quando a reportagem se preparava para deixar o local, foi abordada pelo menor R.S, de 15 anos, que pediu em tom ameaçador um trocado. Depois de conseguir o tal trocado, o garoto disse que antes morava na região da Luz conhecida como Cracolândia, mas que mudou-se para aquele local juntamente com outros menores de rua porque a polícia não os deixa mais voltarem para lá.
Na mesma praça existe também um obelisco, também dedicado ao genocídio armênio, porém fotografá-lo é quase impossível devido a grande presença de delinquentes.
Bibliografia consultada:
- O Estado de S.Paulo – 24/04/1965 – pp 12
- O Estado de S.Paulo – 07/10/1965 – pp 19
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