O Mercado Municipal que quase tivemos

No início do século XX São Paulo deu um grande salto de desenvolvimento e crescimento, deixando para trás aquela cidade um tanto quanto tranquila e adquirindo ares de uma futura grande metrópole sul-americana.

À medida que essa cidade crescia era necessário que os mais variados serviços públicos também crescessem e se modernizassem para adequar cada vez mais as novas necessidades dos paulistanos. Entretanto um importante serviço continuava ultrapassado, deficitário e decepcionante: o mercado público.

Na foto o antigo mercado da Rua 25 de Março

Chamado de Mercado Grande ou Mercado Caipira, o primeiro grande “mercadão” da cidade era um entreposto comercial localizado na Rua 25 de Março e conhecido por receber frutas, verduras, legumes e aves de produtores que vinham dos arrabaldes para ali comercializar seus produtos. Uma grande parte desses comerciantes produtores eram imigrantes.

Operando ininterruptamente desde meados do século XIX, o Mercado Grande era alvo de muitas críticas no começo do século XX por simbolizar um atraso para a cidade. Além disso era sujo e cheio de problemas estruturais típicos de uma construção antiga e com raras manutenções periódicas.

Foi ai que iniciou-se a discussão para a construção de um novo mercado municipal, moderno e atualizado às necessidades de então e do futuro da cidade. As conversas para um novo mercado surgiram nos corredores da Câmara Municipal paulistana e logo ganharam o plenário.

Chamado de “velho casarão” o mercado era alvo constante de críticas

É no ano de 1912 que surge a primeira oportunidade de um novo mercado. Os engenheiros Lacerda Cony e Tito Martins apresentam aos vereadores uma petição com o objetivo de construir e explorar um novo mercado municipal.

Localizado em área próxima ao então Mercado Central – possivelmente onde hoje se encontra o Mercado da Cantareira – o projeto consistia em um grande complexo de três edifícios isolados entre sim, unidos por duas ruas centrais. A área total da estrutura seria de 11.025 metros.

A fachada principal do novo mercado, chamado de “Mercado de S.Paulo” seria esta:

clique na imagem para ampliar

A proposta agradou bastante aos vereadores que então convidaram os engenheiros a expor as plantas do mercado para as pessoas interessadas em conhecer o novo projeto.

Assim sendo em 24 de junho de 1912 foi inaugurada a exposição do projeto do “Mercado de S.Paulo” no salão nobre do extinto jornal “Correio Paulistano” onde qualquer pessoa poderia visitar e opinar sobre este grandioso projeto.

No entanto por alguma razão a ideia do tal “Mercado S.Paulo” não foi adiante e a discussão sobre um novo mercado público arrefeceu-se. As conversas para uma nova edificação só ressurgiriam anos mais tarde, em 1921.

SURGE UM CONCURSO PÚBLICO

É na gestão do Prefeito Firmiano Pinto (de 1920 a 1926) que o debate ressurge, com fortes cobranças para que a municipalidade resolva este problema do mercado de maneira definitiva.

Para resolver o problema prefeitura tem uma solução inteligente: No início de 1921 convida interessados para o concurso público onde os participantes apresentarão seus projetos arquitetônicos para o novo mercado que viria a ser construído na mesma região da Várzea do Carmo.

Para tanto 11 projetos foram entregues à municipalidade, sendo que apenas um deles foi rejeitado por ter sido entregue após o prazo limite.

No entanto, nenhum dos participantes foi declarado vencedor ou ganhou o primeiro prêmio oferecido pela prefeitura, de 25 contos de réis, pelo fato da comissão avaliadora ter concluído que todos os projetos apresentados estavam aquém do que a municipalidade necessitava.

Assim sendo os prêmios foram entregues apenas para os considerados segundo, terceiro e quarto lugar com os valores de premiação de respectivamente de 10, 5 e 3 contos de réis.

Com isso morria pela segunda vez a tentativa de construção de um novo mercado municipal. A ideia só seria retomada alguns anos mais tarde, em 1925, quando a prefeitura decidiu contratar um projeto do escritório do arquiteto Ramos de Azevedo. O edifício teria sua construção iniciada em 1928 e concluída em 1932, ano anterior ao de sua inauguração.

E O VELHO MERCADO, QUE FIM LEVOU ?

Em 1933 a prefeitura adquiriu um novo terreno e para ali transferiu uma boa parte dos vendedores que ficavam no antigo mercado caipira da 25 de Março. Localizada na Rua da Cantareira, esse mercado existe e funciona até os dias de hoje sendo conhecido como Mercado Municipal Kinjo Yamato.

Entretanto como a área deste novo mercado era menor, o velho mercado seguiu em pleno funcionamento ainda por anos a fio. Ali com a saída de vários comerciantes para a nova área outros negociantes começaram a se instalar e ele logou ficou cheio novamente.

O velho mercado ainda existia em 1932 (Foto: Sebastião Assis Ferreira) – clique para ampliar

Se nos idos de 1912 o mercado central já era considerado uma edificação velha, ultrapassa e problemática, imagine 22 anos mais tarde quando mesmo com a construção de dois novos mercados na região ele seguia em funcionamento.

As reclamações quanto as condições sanitárias e estruturais eram crescentes bem como as críticas quanto as transações ali realizadas. Outra crítica era o fato de o novo Mercado Municipal, o popular mercadão, só vender no varejo enquanto o velho era focado no atacado. Entretanto não era raro descumprirem as regras e venderem no varejo, prejudicando os comerciantes estabelecidos no outro mercado.

Somente no final da década o velho mercado seria demolido e sua área readequada e transformada numa grande praça pública que existe até hoje.

BIBLIOGRAFIA:
* Correio Paulistano – Edição 16673 – 05/01/1910 pp 3
* Correio Paulistano – Edição 17571 – 26/06/1912 pp 4
* A Gazeta – Edição 0873 – 12/12/1932 pp 8
* Correio Paulistano – Edição 24123 – 14/11/1934 pp 1

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3 respostas

  1. Douglas, vc é fantástico, faz a gente voltar no tempo, parabéns , belo trabalho.

  2. Que confusão!
    Havia um mercado antigo, na 25 de Março; ok
    Levantou-se outro mercadão: o da Cantareira, o famoso, do Bar do Mané/ sanduiche de mortadela; ok
    Na mesma época(1933!) inaugurou-se OUTRO mercado, nos mesmos moldes, o de nome japonês(sem necessidade…)ok
    O velho mercado-problema ainda sobreviveu por uns anos(!?!?!?)
    Minha visão: inaugurar um mercado maior e melhor(o da Cantareira), ok, e providenciar uma “limpa”, uma reforma no antigo, mas preservando o “grosso”do edifício a sua essência.
    Já imaginou ele lá até hoje? Seria uma das construções mais velhas da cidade, outro ponto de intresse turístico.

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