Marmoraria Tavolaro

Com o crescimento da Cidade de São Paulo nas últimas décadas do século 19, ocorreu também o aumento do número de sepultamentos da cidade. Uma dado até um tanto quanto óbvio, uma vez que quanto mais gente vivendo num determinado lugar, mais gente morrendo também. Entretanto esse dado faz muito sentido para este texto.

Se na metade do mesmo século São Paulo tinha apenas um cemitério público, o da Consolação, inaugurado em 1854, na virada para o século 20 a capital já possui ao menos outros três cemitérios públicos, respectivamente Araçá 1887, Brás (1893) e Penha (1896). Quem pesquisa hoje encontrará nos dados um quarto cemitério, de Santo Amaro, inaugurado em 1856, entretanto à época Santo Amaro era não um bairro mas um município independente, algo que só mudaria em 1935.

Com tantos cemitérios pela cidade cresceram também os negócios relacionados com as atividades fúnebres, como floriculturas, aluguel de carros funerários e, claro, marmorarias especializadas.

E aqui neste artigo abordaremos exatamente as marmorarias. Se elas já existiam em São Paulo, em pequenino número, antes mesmo da inauguração do Cemitério da Consolação, elas iriam se especializar na arte tumular mesmo na segunda metade do século 19, principalmente com a chegada de imigrantes que já dominavam o ofício da arte tumular em seus países de origem, especialmente a Itália.

Anúncio da Marmoraria Tavolaro, de 1916

Inaugurada em 1894, a Marmoraria Tavolaro foi uma das mais famosas e longevas marmorarias paulistanas com especialização em arte tumular da capital paulista. Inaugurada em 1894 por Miguel Tavolaro e sócio, ela inicialmente era chamada de Marmoraria Franco-Italiana e era localizada na Rua Marechal Deodoro.

Posteriormente mudou-se para o número 23 da Rua Conselheiro Nébias, em Campos Elíseos, para somente nos primeiros anos do século 20 mudar-se para o seu endereço mais conhecido e definitivo, no número 98 da Rua da Consolação (altura do atual 568).

Fachada da marmoria já na Rua da Consolação, em 1917 (clique para ampliar)

A mudança de endereço para a Rua da Consolação foi um movimento bem pensado, já que o novo ponto ficava bem no início da via e era um caminho quase obrigatório para os cemitérios da Consolação e Araçá, onde estão instaladas a grande maioria das esculturas e jazigos produzidas pela Tavolaro. Além deles outras marmorarias migraram para a região, acirrando assim a concorrência.

A Tavolaro não era apenas dedicada a arte tumular como muitos podem pensar, sendo que ela executava qualquer tipo de trabalho em mármore, além de serviços de arquitetura. Neste último caso é bem provável que o trabalho arquitetônico ficasse restrito à construção dos mausoléus.

Abaixo o Mausoléu de Alburquerque Lins e Família, localizado no cemitério da Consolação, em fotografia de 1917 (ainda no estúdio da marmoraria) e em 2021:

clique na foto para ampliar

Uma caminhada pelos cemitérios mais antigos de São Paulo vão revelar diversos mausoléus projetados e executados pela Marmoraria Tavolaro. Eles são fáceis de serem identificados pois a Tavolaro sempre instalava plaquetas na base do túmulo indicando que o mesmo foi construído por eles. Aliás outras marmorarias também faziam a mesma coisa.

Contudo, hoje em dia, o grande problema é que por serem confeccionados em bronze muitas destas plaquetas já foram furtadas, o que cria não somente um problema de identificação, como também de documentação histórica.

clique na foto para ampliar

A Marmoraria Tavolaro permaneceu em plena atividade até meados da década de 1950, quando desapareceu do mercado, sendo que em 1960 o seu imóvel era ocupado por outra empresa, a Wilson Russo Importação e Comércio. Na década seguinte o imóvel foi demolido e em seu lugar foi construído o Edifício Germano Leardi que está lá até os dias atuais.

A Marmoraria Tavolaro tem seu nome marcado no patrimônio histórico de São Paulo através de suas obras tumulares, já que várias delas encontram-se tombadas por estarem no Cemitério da Consolação. Abaixo fizemos uma seleção com alguns dos mausoléus executados pelo estabelecimento entre os anos de 1915 e 1920.

Nota:
*1 – Dependendo da fonte pesquisada o nome do fundador pode estar escrito como Miguel ou seu correspondente italiano, Michele (lê-se miquele).

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3 respostas

  1. Até isso mudou: a chamada arte tumular. Eu acho que já faz algum tempo(décadas) que esse tipo de túmulo não é feito mais, mesmo pelas famílias mais tradicionais/abastadas.

  2. O predio da Marmoraria ( bonito e charmoso ) deu lugar a aquela monstruosidade sem nexo que e o predio dos Leardi ( horroroso, claustrofobico ).

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