Apesar de repleto de edifícios e arranha-céus, o centro de São Paulo preserva – a duras penas – alguns imóveis baixos e históricos. São poucos, é verdade, mas estão até hoje sobrevivendo como a lembrança da São Paulo de outrora.
Alguns dos mais significativos destes imóveis, todos eles sobrados, estão no Largo de São Bento.

Na foto, o Largo de São Bento no final dos anos 1940
Mesmo com todas as modificações do largo e de seu entorno, quase todo o casario original que se estende do largo em direção a rua Florêncio de Abreu, permanece preservado. Parte destas construções são oriundas do século 19.
Vamos conhecê-las!
Neste artigo vamos nos deter aos sobrados dos números 40 a 58. Os demais, próximos à esquina da rua Boa Vista, virão em breve em outro artigo.
O mais antigo de todos eles é o de cor amarela, construído nos derradeiros ano do século 19 e cuja construção tem um recuo junto a calçada muito menor que os demais, que já foram construídos no início do século 20 e possuem um espaçamento maior (vide a foto anterior).
Atualmente fechado, o sobrado do número 40 abrigou por décadas a Papelaria São Bento, estabelecimento tradicionalíssimo da região. A papelaria estava aberta, ao menos desde 1961, que é de onde encontramos o mais antigo registro telefônico desta loja, com o número 32-1534.
Porém, observando a foto do início deste artigo, tirada entre 1948 e 1950, é possível notar que no mesmo local já existia uma papelaria ali. Seria a mesma ? Faz sentido, pois em 1961 a papelaria ocupava além do número 40 o número 32, que é exatamente onde vemos o toldo escrito “papelaria” naquela fotografia.
Datado de 1897, o sobrado do número 54 além de ser o mais antigo de todos eles, tem também duas curiosidades que chamam muito a atenção.
A primeira é visível a todos na fachada: o nome De Meo Ferramentas. Fundada em 1895 por Domingos de Meo, imigrante italiano, a empresa começou timidamente como uma oficina de conserto de fabricação de tesouras. Hoje é uma das maiores do ramo.

Foto: Acervo De Meo
A empresa é tal qual a Casa da Bóia, uma espécie de instituição tradicional da região da Florêncio de Abreu e, neste endereço, ocupa também o piso superior, que em 1961 tinha também como inquilino nada menos que Menotti Del Picchia!
Observem a imagem abaixo, extraída da lista telefônica de 1961:
Consta que na época o célebre Menotti Del Picchia tinha um escritório no local. Tanto que ele possuía dois números de telefone registrados em seu nome no endereço de número 48, que é o andar superior da loja De Meo (número 54).
O imóvel dos números 48 e 54 ainda apresenta no frontão uma estrela com o ano de construção do imóvel, o único datado entre eles. Veja mais duas fotos do sobrado.
O último que mostraremos aqui é um verdadeiro sobrevivente. Ele escapou da demolição no final da década de 1950, quando a residência ao lado, de arquitetura idêntica, foi abaixo junto com outros imóveis para dar lugar ao edifício comercial que está por la até hoje.
São poucas as evidências que provam a existência do segundo sobrado que foi demolido, uma vez que as fotos em geral do largo não estão em um ângulo que favoreça o imóvel. Mas é possível detectar e comprovar através da foto do início deste artigo, onde ele aparece, e também na foto abaixo que mostra que o lado direito do frontão está faltando um pedaço, bem na extremidade.
Todos estes imóveis estão tombados como patrimônio histórico da Cidade de São Paulo.
Veja mais fotos:
ATUALIZAÇÃO – 13/05/2020
Observamos que no início deste ano de 2020 os imóveis deste artigo que estão localizados junto à esquina da Rua Boa Vista foram esvaziados e protegidos com tapumes.
Este tipo de intervenção nunca é boa aqui em São Paulo. Costumeiramente significa que vem alguma demolição ou descaracterização por aí. Esperamos que não seja este o caso.
Havendo novidades este artigo será novamente atualizado.
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