A nostalgia, costumo dizer, é o gatilho do bem. Não é raro estarmos em algum lugar ou assistindo a alguma coisa que do nada dispara uma deliciosa sensação de nostalgia, de tempos passados que não veremos de novo mas que jamais sairão de nossas mentes.
E foi essa sensação especial que tive outro dia quando estava transitando por uma rua do Pari, o chamado “bairro doce” de São Paulo, quando do nada me deparei com essa preciosidade oriunda dos anos 80-90: a Kombi das balas KID´s:
Digamos que foi um achado que imediatamente quando vi, surgiram inúmeras e deliciosas lembranças do tempo que eu era criança (e adolescente) de quando me pegava sempre com alguma balas Kid´s na boca, seja a saudosa bala de leite que gruda no céu da boca, o drop´s Kids de café ou hortelã. Essas balas eram sinônimo da minha fase de criança e junto com a Kid´s podemos somar outras marcas igulamente nostálgicas como o Dulcora, Paquera, Adams e a temível bala Soft.
Mas o mais curioso de encontrar essa Kombi foi vê-la justamente em um bairro tão tradicional com marcas relacionadas a doces e sobremesas, como o Pari. Deste bairro nasceram não só para São Paulo como para todo o Brasil marcas inesquecíveis como Neuza, Tostines, Confiança e Bela Vista (esta última até hoje em pleno funcionamento no bairro).
Se a maioria destas marcas deixaram de existir ou trocaram de mãos, como é o caso da Kid´s que pertence ao grupo Arcor, a verdade é que elas jamais deixarão de existir em nossas lembranças.
UMA VETERANA NAS RUAS!
Costumo dizer que a Kombi transporta o Brasil. Isso pode até soar estranho para alguns em pleno 2024 já que o utilitário da Volkswagen saiu de circulação no ano de 2013, contudo basta olhar para as ruas, avenidas e estradas do país para conferir que ela ainda se faz presente por todo o canto, seja transportando encomendas, levando o feirante para lá e para cá ou passeando nos encontros de antigomobilismo.
A nossa preciosa Kombi das balas Kids é uma veterana de rua, fabricada na década de 1980. O cansaço do veículo pode ser observado pelas marcas de ferrugem pela lataria, a pintura com várias manchas e defeitos e até pela massa plástica próximo ao para-choque traseiro, contudo segue fielmente cumprindo sua função de um veículo utilitário raiz.
Além da própria Kombi outra coisa precisa ser notada e lembrada neste veículo: o artista (os artistas?) que pintaram essa perua em um primoroso trabalho manual que resiste já por 32 anos:
Diferente de hoje em dia onde 90% do que vemos estampados em veículos de entregas nas ruas das cidades são adesivos ou envelopamentos, os carros de entrega de outrora tinham sua arte minuciosamente pintada à mão. O trabalho não era feito nas empresas, uma vez que veículos de entregas eram terceirizados, mas por artistas extremamente talentosos que geralmente são desconhecidos do público.
Felizmente quis o destino que a já quase eterna Kombi das balas Kid´s fosse uma das poucas que vemos por ai com a assinatura do artista, essa feita no canto junto ao para-lama dianteiro direito. Lá está assinado, como que em um quadro, as inscrições: “Paulo e Carrizo 948-4155 – 29/11/1991“. Fiz um pesquisa e infelizmente não encontrei nada a respeito dele, se você que lê esse artigo souber de algo entre em contato conosco. O telefone grafado na assinatura é um fixo que já mudou e não existe mais.
E esta Kombi não é a única nostálgica que encontrei nas ruas nos últimos meses. Essa abaixo de um antigo entregador de leite à domicílio da Leco, pode ser vista eventualmente pelas ruas do bairro do Ipiranga. A pintura original ainda sobrevive…
Se eu fosse um colecionador de Kombis iria atrás dessa das balas Kid´s para comprar e mantê-la assim como ela está, sem qualquer restauração ou algo do gênero. Uma obra de arte sobre rodas tanto no veículo em si quanto na pintura à mão da marca que ela ostenta. Parabéns ao proprietário por não desfazer essa pintura.
Respostas de 5
Sou filha de um dos letristas (era assim que chamavam os profissionais que pintavam estes carros) da antiga Kids. Assinava como Nelson e chegou a assinar alguns carros com o Paulo… alguns desentendimentos e meu pai ficou um tempo sem pintar estes carros. De fato, o trabalho era manual. Ele desenhava muito bem. E, na minha memória, trabalhou na Incar e Carrizzo na década de 80. Não sei do Paulo. Meu pai faleceu em 1995.
Seu pai fez história, lindo sua contribuição nessa matéria, desvendando um pouco da história dessa arte e também um pouco de quem assinou essa kombi que trabalhou com seu pai, isso é parte da história de SP.
Sensacional!!! Tbm cito os caminhões de leite, os caminhões da Bela vista…fomos felizes!!
Muito bacana a matéria, parabéns. Apenas um reparo, a famosa bala Soft era fabricada pela Q-Refres-ko. Houve inclusive uma versão sabor melancia, apenas para exportação, nunca lançada no Brasil. Informações da minha esposa , que trabalhou na empresa
Como vc bem falou, essa Kombi poderia ir para uma coleção. Tomara que o dono continue preservando esse veículo.