Importantes edifícios entre o passado e o futuro do Centro Histórico de São Paulo

A cidade de São Paulo é notória pelos seus sucessivos ciclos de destruição e reconstrução.

São fases em que a cidade praticamente destrói por completo partes do seu tecido urbano que passa a ser considerado obsoleto segundo as novas modas e tendências urbanísticas, e as reconstrói de acordo com as novas ideias do que é uma cidade bela e funcional.

Outrora local mais valorizado e sede das principais empresas e atividades comerciais e de serviços da cidade, o Centro Histórico foi sendo progressivamente desvalorizado ao longo do século XX.

Vista aérea de São Paulo em 1949 (clique para ampliar)

O ESVAZIAMENTO DO CENTRO DE SÃO PAULO

O esvaziamento econômico do centro de São Paulo é um fenômeno social e urbanístico decorrente de investimentos em infraestruturas viárias e de transporte público para a criação de novas centralidades na cidade, como a construção do metrô e das vias marginais dos rios Tietê e Pinheiros.

Não que o centro de São Paulo tenha sido completamente esvaziado, pelo contrário, ele ainda é amplamente utilizado cotidianamente por milhões de pessoas que buscam as mercadorias vendidas a preços mais baixos no comércio popular do local.

O que de fato ocorreu nas últimas décadas foi um progressivo abandono de boa parte das empresas de escritórios em direção à região das avenidas Faria Lima e Luís Carlos Berrini, fazendo com que o centro perdesse boa parte de seu caráter de diversidade de atividades econômicas que tinha até metade do século XX, período em que seus principais edifícios icônicos foram construídos.

Segundo estudos de Paulo Sandroni, um dos motivos centrais na saída de diversas empresas do Centro foi a difícil adaptabilidade dos edifícios antigos (atenção: PDF) às novas atividades. Neste cenário, as empresas passaram a procurar bairros com edifícios mais novos, já construídos sob uma nova demanda tecnológica.

O centro histórico passou a ser a área com maior taxa de vacância de edifícios comerciais na cidade, além de uma vertiginosa desvalorização do metro quadrado, segundo o mesmo autor.

No entanto, enquanto muitos edifícios entraram em total decadência e foram abandonados com a saída de seus escritórios, outros souberam aproveitar seu potencial para diversificar suas atividades econômicas e permanecerem ativos até os dias atuais.

NOVOS USOS PARA OS EDIFÍCIOS HISTÓRICOS DA REGIÃO CENTRAL

O Prédio Martinelli, com 100 metros de altura, foi considerado o primeiro “arranha-céu” da cidade de São Paulo (bem longe dos patamares de altura dos edifícios atuais, mas bastante relevante para a época), tendo sua construção concluída em 1929.

Na foto a fachada do Prédio Martinelli

O edifício já passou por diversos ciclos de sucesso e decadência ao longo do tempo. No início, era uma referência multicultural da cidade de São Paulo, contando com cassinos, hotel de luxo, cinema e boate.

No entanto, o edifício Martinelli foi se deteriorando cada vez mais a partir da década de 1960, sendo o principal símbolo da desvalorização e saída de empresas do Centro em direção a outros bairros da cidade. Neste período o edifício perdeu suas atividades econômicas de luxo, e passou por diversas ocupações ilegais que ajudaram na deterioração do edifício.

Para conter este processo, a prefeitura municipal desapropriou todo o imóvel em 1975 no intuito de lá instalar diversas repartições públicas municipais. Posteriormente, passou a funcionar também um mirante no terraço do edifício, que ajudou na sua progressiva recuperação desde então.

No entanto, muito ainda falta para avançar no caso do Martinelli. O próprio mirante está em obras atualmente com o intuito de dotá-lo de maior infraestrutura para o conforto dos visitantes, com museu, café e restaurante.

Um exemplo de edifício que sobreviveu melhor aos processos de reestruturação do Centro é o icônico edifício Circolo Italiano, mais conhecido como Edifício Itália, inaugurado em 1965.

Circolo Italiano (clique na foto para ampliar)

O Edifício Itália foi um dos marcos da urbanização acelerada de São Paulo no século XX, com o intuito de demonstrar a relevância da colônia italiana na construção do patrimônio arquitetônico e urbanístico paulistano no início do século XX, e tem destaque por ser o segundo edifício mais alto da cidade e contar com um restaurante no seu terraço que proporciona uma vista privilegiada da cidade.

Um dos segredos para que o edifício tenha sobrevivido com maior sucesso ao longo das últimas décadas foi sua adaptação à transformação nas demandas de atividades e serviços.

O prédio conta com uma infraestrutura diversificada com salões nobres e anfiteatros que aproveitam o potencial da localização e da paisagem do edifício para atrair eventos das mais diversas finalidades, que vão desde cerimônias de casamento e formatura, até feiras gastronômicas como um festival de Brodos e Ragus em 2018 e eventos esportivos como um clube VIP de Pôquer em 2014.

Outro edifício que conseguiu sobreviver bem às últimas décadas é o icônico edifício Copan, grande exemplo da arquitetura modernista paulistana com projeto assinado por Oscar Niemeyer.

O Copan tem um ótimo projeto que diversifica usos que, por um lado, prevê uma grande quantidade de serviços coletivos como lavanderia e biblioteca comuns aos moradores (equipamentos que estão voltando a ser um requisito dos novos edifícios na cidade), e por outro mantém uma galeria comercial pública no andar térreo. Tais equipamentos coletivos mantém o edifício atrativo para novos moradores, que por sua vez mantém a viabilidade financeira do comércio no térreo.

Seja pela adaptação às novas demandas de eventos, ou pela atração de comércio e residência, tais edifícios são prova de que a área central de São Paulo ainda pode ser muito atrativa para a moradia e atividades econômicas.

Ou seja, nem apenas de destruição e reconstrução deve se basear a dinâmica paulistana, que deve encontrar na capacidade de adaptação uma nova forma de manter seus tecidos históricos vivos e atraentes para a cidade de hoje e do amanhã.

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6 respostas

  1. O centrão ia bem até o final dos anos 80. Jânio tinha tirado todos os camelôs das ruas, dificilmente se via algum ponto comercial disponível, grandes empresas ainda se mantinham por lá. Começou a degradação quando uma prefeita de esquerda assumiu em 1989 e liberou geral para os camelôs se fixarem nas ruas sem nenhuma regra. O centro ficou intransitável, os comerciantes sofriam com a concorrência desleal de quem não pagava impostos, a criminalidade aumentou e o resultado esta aí. Jamais veremos o centrão vivo novamente. Fato.

  2. O fenômeno do esvaziamento da região central da região central enquanto pólo empresarial é o mesmo do esvaziamento dos bairros que compunham o cinturão industrial da cidade e que projetaram a fama da cidade e do estado para o resto do país, mas ao contrário destes que souberam se reinventar, o centro não reage e por uma série de fatores, há que se repovoar o centro e trazer moradores de todas as classes para nele habitar, a meu ver a única opção para reocupá-lo, porque quem vive de passado é museu, a Manhatan bandeirante morreu e hoje vive apenas na memória de quem a conheceu, “os bons tempos” não voltarão mais e um novo ciclo virtuoso precisa começar. Quem vai dar o primeiro passo?

  3. Já comentei algo do tipo em outro artigo daqui, mas acho que vale repetir: A impressão que se tem do centro de São Paulo é que ele não tem mais recuperação. É como se fosse um paciente com uma doença incurável, que tem “surtos” de otimismo (Traduzidos em breves períodos de melhora) mas que logo volta à degradação que estava antes, ou até pior. Dá até a impressão (Pra não dizer certeza) de que essa degradação e sujeira interessa a alguém ou a algo.

    Temos centenas de imóveis vazios com aluguel inflado, incompatível para a área que estão e incoerentes com a estrutura que oferecem, temos diversos desses prédios vazios, ocupados por movimentos criminosos de moradia social que arriscam a vida de pessoas e a estrutura em que se instalam (Vide o caso do Wilton Paes de Almeida), ruas e praças infestadas de drogados e mendigos que agem como donos do espaço público e ameaçam as pessoas que ousam trabalhar ou passear pelo local, além do cheiro de urina por toda a parte.

    Regiões centrais costumam ser áreas complicadas de se lidar em qualquer cidade brasileira (Arrisco até dizer algumas cidades estrangeiras também) mas a situação do centro de São Paulo não tem paralelo em lugar algum do mundo. Em que lugar do mundo uma rua seria dominada completamente pelo comércio e uso do crack? O Centro foi roubado dos paulistanos, isso é simplesmente absurdo.

    Algo precisa ser feito urgentemente, ou até as boas coisas que sobraram nessa região logo logo irão embora, quanto mais hostil se tornar essa região.

  4. Muito interessante a matéria, gostaria de saber a respeito da construção das marginais, se puder fazer uma matéria a respeito, será de grande apreço.

  5. Parei de comentar, um tanto, porque diversas matérias me entristecem bastante. Faz tempo que não vou ao centro de São Paulo. Lembro que ia bastante na adolescência, durante os anos 1980, e já havia piorado tendo em vista o que era na década de 1970, como já mencionei aqui, o Parque Dom Pedro era limpinho, e o centro muito agradável. Nos anos 1980, lembro das ratazanas andando na sujeirada à noite. Em 2008, precisei ir ao Vale do Anhangabaú, e minha esposa quis passar na 25 de Março. O primeiro local cheirava a urina, e a segunda rua, considerando que fomos numa quarta-feira da Semana Santa, estava intransitável, tendo em vista o número de pessoas querendo comprar, disputando espaço com os camelôs. Entramos no metrô e fomos embora, depois de poucos minutos. Fato é que desde os anos 1980, o centro entrou em decadência e nunca mais voltou a ser bom de verdade.

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