O centro de São Paulo sempre foi muito bem servido de hotéis, com uma leque que de opções para todos os bolsos e para todos os gostos. Isso vemos como um padrão desde a virada para o século 20.
Alguns hotéis dos idos de 1900 resistiram por décadas e até cruzaram a marca dos anos 1950. Já outros foram sucumbindo com o passar dos anos, seja pela forte concorrência ou pela desapropriação ou demolição de seus prédios.
Hoje abordaremos o Hotel Rebecchino:
Inaugurado nos primeiros anos do século 20, o Hotel Rebecchino ficava no Largo São Bento bem diante do mosteiro. Naquela época haviam inúmeros hotéis nas ruas Boa Vista, São Bento e Líbero Badaró e o Rebecchino era apenas mais um deles.
Com o passar dos anos por alguma razão que não foi possível averiguar, Domenico Mei, proprietário do hotel em questão, resolveu mudá-lo para a região da Luz em um novo edifício. Isso ocorreu três anos depois da fotografia acima, em 1911. A mudança de endereço foi amplamente divulgada em jornais da época.
A rua da Estação que o anúncio se refere é a rua Mauá. Uma mudança do Largo São Bento para a Luz poderia significar muitas coisas. A primeira seria a possibilidade de um prédio mais amplo ou moderno. E, se de fato o novo endereço era uma construção mais nova, em questão de tamanho eram equivalentes.
Por outro lado estar na rua Mauá significava estar em uma posição mais privilegiada para abocanhar os viajantes que chegavam a São Paulo através do sistema ferroviário. Afinal, o prédio fica diante da Estação da Luz e não mais que 700 metros da Estação Júlio Prestes.
A região já tinha outros hotéis, como o Hotel Roma e o Aviz Hotel e com certeza a chegada do agora Rebequino (a grafia também mudou) acirrou a concorrência da região. Sem dúvida o prédio era mais moderno que o Roma,e até hoje ambos imóveis ainda existem.
O edifício do hotel, construído em 1903 e projetado pelo arquiteto Ramos de Azevedo, é até hoje o mais suntuoso prédio nos arredores da Estação da Luz. É uma vistosa construção em um estreito terreno retangular que se prolonga pela antiga rua da Conceição, atual Avenida Casper Líbero.
Parte do imóvel tem dois pisos superiores e uma parte apenas um. O térreo sempre teve destinação comercial, enquanto o hotel ocupava-se dos pisos elevados. Por anos, até meados dos anos 1960, o piso ao nível da rua foi ocupado pelos estabelecimentos Sztokbant, Russo & Cia e pela Casa Popular, respectivamente nos números 440 e 442.
Ao menos até 1965 o Hotel Rebequino permanecia com este nome e com o telefone de número 34-5418. Depois disso perde-se a referência ao nome “Rebequino”, porém o local até hoje funciona como um hotel, agora denominado Queluz. Se a razão social for a mesma, estamos falando de um dos mais antigos hotéis paulistanos em atividade. Isso se não for o mais antigo de fato.
Veja mais fotos deste prédio (clique para ampliar):
E você ? Já se hospedou em algum hotel antigo do centro ? Como foi sua experiência ? Deixe aqui um comentário.
Importante: Se você tiver alguma informação sobre Domenico Mei, entre em contato conosco!
Curiosidade: O prédio original do Hotel Rebequino, no Largo São Bento (veja foto que abriu este artigo) ainda sobreviveu por algumas décadas, funcionando como outro hotel, sede do jornal Correio Paulistano, e escritórios. Foi neste prédio inclusive que funcionou uma das primeiras sedes da Associação Portuguesa de Desportos (a Lusa) antes de ser construída a sede no Cambuci.
Posteriormente o edifício foi demolido e nada mais mais foi construído no lugar, sendo que até hoje é um espaço vazio e gradeado onde estacionam veículos.
Atualização – 05/12/2018: Devido eminente risco de incêndio no imóvel, a Justiça Federal determinou a interdição do imóvel em julho de 2017. LINK
Respostas de 25
Como deve ter sido bom morar em Sao Paulo nessa epoca aurea
Jorn Douglas Nascimento este seu site é maravilhoso. Sou de São José do Rio Preto,SP, eu e minha família amamos passear em SP CAPITAL. Sempre nos hospedamos no Hotel Luz Plaza, Rua Prates, 145, a quase 400 metros do antigo ‘Rebequino’, para ir na Rua Sta Efigênia, passamos por ai, com muita prudência claro, a região dá medo kkkk
Se o hotel existe até hoje e na região em que se encontra, provavelmente é mais um dos inúmeros “hotéis de viração”, aqueles em que o sujeito pega a prima na rua, faz o programa e depois segue o seu rumo.
EMERSON: Tirou o pensamento do meu cérebro.
Matéria muito boa.
Mas, a sede da Associação Portuguesa de Desportos não fica no Canindé?
Desde os anos 60 sim, antes não…
Primeiro não tinha sede e usava este prédio que abordei. Depois foi para o Cambuci, e algum tempo depois do Cambuci (que perdeu por dívidas) foi para o Canindé.
Fui diretor da Portuguesa (do Museu) entre 2008 e 2010.
Ok.
Vale a pena pagar umas horinhas de hospedagem para sacar umas fotos das escadas, dos quartos, do que for possível fotografar dentro. De preferência durante o dia…
Puxa! Como desejo que esta região consiga um dia passar por uma revitalização e se torne um bairro cheio de lojas restaurantes e cafes…
Em minha infância, entre 1.950 -1.954, minha família (meu pai, mãe e irmã) hospedava-se neste hotel. Havia cofre para as jóias, pia nos quartos. Comia-se em um amplo salão-restaurante, garçons devidamente trajados, toalhas brancas de linho. As costelas de porco eram deliciosas. Tinha-se sopa, servida em terrina, como prato de entrada. Almoço e jantar! Para mim, vindo do interior de Minas, era único o apito dos trens que constantemente soava. O trem era o transporte. Passo por ali, vejo a decadência, lembro-me de Claude Levy Strauss: as cidades brasileiras só apresentam a infância, a juventude e a decadência, não amadurecem. Não permanecem.Fica a saudade, nunca superada.
Incrível, outro tempo, outra educação outro tipo de gente, nem chega perto do que é hoje, tudo caminhou para pior!
Douglas, o seu artigo está com alguma divergência… Veja no artigo que você anexou, o Hotel Rebecchino fica “em frente ao Roma”. O Grande Hotel Roma foi da família Cocito que construiu este edifício que você colocou as fotos, em 1900. E depois, foi o Hotel Fraccaroli. Enquanto isso, o Hotel Rebecchino, se instalou do outro lado da Rua Cásper Líbero, em frente ao Hotel Roma, em 1911. O Roma ficou até 1915, quando o Fraccaroli inaugurou em seu lugar.
O arquivo é anexado é do jornal Correio Paulistano publicado em 28 de junho de 1911 e é assinada pelo próprio dono do hotel.
Oi Douglas, tem razão, eu me equivoquei com as minhas fotografias antigas. o Hotel Roma é que ficava do outro lado. A priori, ele perdeu a parte que ficava na esquina que era parecido com o Hotel Rebecchino. Eu inverti os Hotéis. Grata
Desculpe meu descuido …rs..
Olá Douglas!!! Domenico Mei é o bisavô do meu marido. Maravilhosa reportagem!!!
Olá Christina ! Peço desculpa pela intromissão. O meu tio António, quando chegou a São Paulo em 1926, foi trabalhar para o Hotel Rebequino. Não sei se era um simples funcionário ou socio de Domenico Mei. Gostaria de ter a certeza, simplesmente para completar as minhas pesquisas genealógicas.
Olá Douglas!! Somos da Família de Domenico Mei. Parabéns pela matéria! Aguardo contato!
Meu pai foi um dos donos de um hotel que ficava na rua washington luiz o nome era hotel guanabara depois trocaram o nome para hotel coimbra ficava proximo á rua casper libero morei lá quando pequeno isso anos 60 .
Olá Douglas ! Gostei muito da reportagem. Como comentei na minha mensagem à Christina Meirelles, o meu tio António trabalhou no Hotel Rebequino entre 1926 e 1929. Por motivos de pesquisa genealógica, gostaria de encontrar a prova deste período de trabalho. Será que durante as suas investigações, o Douglas se deparou com algum documento que me pudesse ajudar ? Obrigada
Olá Belmira!! Só vi hoje a mensagem! Desculpa! Você poderia me passar o sobrenome do seu tio Antônio? Vou perguntar para a minha sogra.
Jorn Douglas Nascimento este seu site é maravilhoso. Sou de São José do Rio Preto,SP, eu e minha família amamos passear em SP CAPITAL. Sempre nos hospedamos no Hotel Luz Plaza, Rua Prates, 145, a quase 400 metros do antigo ‘Rebequino’, andamos por tudo aí.
Que pena ler que o prédio não existe mais. Passeando virtualmente por SP (Google Maps), me deparei com esse prédio maravilhoso e já tinha anotado o endereço para poder visitá-lo na próxima ida a SP. Quantas matérias como esta sobre o descaso com o patrimônio ainda leremos?
muito legal o artigo, bem documentado com fotos difíceis de ver publicadas. Parabéns e obrigado !
Domenico Mei é meu bisavô. Quando bem criança estive algumas vezes a passeio no hotel