Se hoje os trens que param na Estação da Luz e Júlio Prestes são apenas de subúrbio, no passado composições para diversos cantos do Brasil saiam das duas mais importantes estações ferroviárias paulistanas. E, devido a isso, havia um intenso movimento de pessoas pela região, boa parte delas em trânsito e que necessitavam de hospedagem enquanto sua viagem não prosseguia, ou mesmo durante seu período de estadia na capital paulista.
Não por acaso, em volta das sua estações surgiram um grande número de hotéis para atender a este público. Um deles, era o Hotel Fernandes.
Localizado na avenida Tiradentes, este foi um importante hotel da região que existiu até algumas décadas atrás. Instalado em uma construção do início do século 20, o estabelecimento fica bem diante da Pinacoteca do Estado.
Trata-se de um local relativamente privilegiado, naquela época, pelo fato de estar muito próximo não só da ferrovia, mas também, em seu auge, de diversas facilidades do centro da cidade, entre elas o Batalhão da Força Pública (atual ROTA),e a antiga Casa de Detenção (que foi demolida e hoje resta apenas o pórtico de entrada).
Por estar em uma via de bastante movimento o hotel oferecia além da tradicional hospedagem, serviços de estacionamento. Em uma região onde haviam muitos edifícios sem garagem e muitos escritórios, este tipo de serviço trazia uma clientela bastante fiel, possivelmente até em um número que rivalizava com os hóspedes do hotel.
A construção do imóvel do Hotel Fernandes é muito bonita. Trata-se de um pequeno prédio de dois andares em formato de ferradura (ou de “U”) com a entrada principal do imóvel feita pela parte central, à direita da garagem (atualmente esta entrada está lacrada). Era pelo lado direito do imóvel que se tinha acesso a todas as dependências do hotel.
Já na porção térrea do imóvel, tinha-se acesso as garagens. Também pelo térreo haviam os salões comerciais que eram alugados a terceiros para variados estabelecimentos comerciais, sendo que o mais conhecido deles, no número 192, era a loja “Ao Bazar Militar”, especializada na venda de fardamentos, quepes e demais itens da indumentária da então Força Pública (nota: até hoje este trecho da avenida Tiradentes é notadamente conhecido pela venda de uniformes para a polícia).
O hotel teve seu auge entre as décadas de 50 e 70, quando a partir daí passou a enfrentar um período de decadência, que se estendeu a toda a região.
Com o tempo, o eixo de turistas foi se mudando para as rodoviárias e o fluxo de hóspedes foi diminuindo consideravelmente, levando muitos do hotéis da região da Luz e Bom Retiro a fechar as portas ou se transformarem em hotéis de qualidade duvidosa.
O Hotel Fernandes foi apenas mais um dos vários da região que sucumbiram. Não temos a data de que o hotel encerrou suas atividades, mas é certo que são pelo menos 15 anos que ele já se encontra fechado. Até pouco tempo atrás as instalações da antiga garagem do hotel ainda funcionavam como um estacionamento, mas já tem alguns anos que também foi fechado.
Apesar de todo este grande imóvel do antigo hotel estar sem uso, o prédio encontra-se em bom estado de conservação. É um dos mais imponentes imóveis antigos da movimentada avenida Tiradentes.
Todos os detalhes da fachada estão razoavelmente preservados, bem como gradil das sacadas, janelas e esquadrias de madeira e os detalhes do frontão. Seria muito interessante ver o antigo Hotel Fernandes restaurado e de volta à vida. O local dá uma excelente escola ou instituição cultural e o fato de ter uma garagem é um diferencial a mais.
Veja mais fotos do antigo Hotel Fernandes (clique na miniatura para ampliar):
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Respostas de 9
É uma pena. Isso bem que poderia estar conservado e sendo aproveitado comercialmente, pois o ponto tem comércio específico intenso.
E uma bela edificação, infelizmente ainda não está ocupada por algum comércio regular; saberia dizer-me se os donos do ímovel ainda é a família original????
Obrigado por mais está estupenda reportagem.
Não é mais da família, uma grande construtora comprou e abandonou tudo, eles querem comprar o quarteirão todo…hoje está um depósito de usuários de drogas, triste, pois trabalhei em um comércio que havia dentro de estacionamento dele… maravilhosos tempos
bom dia, eu trabalho na pinacoteca ,e para mim é sempre uma novidade olhar para essas belas construções antigas…que guardam muitas recordações…..sou um entusiasta da ferrovia, e porque não dizer dos tempos áureos das estradas de ferro….belíssimas reportagens neste precioso site.Parabéns
Toda aquela região da Luz, Santa Efigênia, Duque de Caxias, João Teodoro, Largo da Concórdia no Brás. Havia muito movimento devido os trens que chegavam de vários Estados do Brasil.
Com a extinção desses trens, esse locais ficaram no abandono. As casas com arquitetura antiga e tão belas, também foram desprezadas e deixadas no abandono.
Sugiro, que seja utilizado como centro comercial, utilizando os quartos para consultorios e escritorios.
Douglas, este hotel tornou-se Hotel Tiradentes LTDA ME em 1988. A empresa continua Ativa se for consultar na Receita Federal o CNPJ, mas está sem funcionamento.
Tive o privilégio de entrar nele ,Tem uma escada de madeira muito bonita caindo aos pedaços que da acesso para o segundo andar ,entrei em todos os quartos ,ainda tem várias TVs antigas jogadas por lá, encontrei no chão umas 15 notas de dinheiro antigas tenho até hoje ,trabalhei do lado no estacionamento, sempre entrava por trás dele pra fumar um baseado na hora do almoço , tem acesso ,e emocionante o ,achava que era uma casa de prostituição, agora sei a história dele,ficava imaginando aquele local com as pessoas, Como deveria ser .
Trabalhei em uma estamparia que tinha dentro do estacionamento…vi e vivi muitas coisas ali…conheci pessoas muito queridas que até hoje nos falamos. Em 2009 mais ou menos que fecharam tudo, uma grande construtora comprou para fazer empreendimentos e hoje está tudo abandonado, nenhum cuidado com a construção que está tomada por usuários de drogas…ainda trabalho na avenida, a minha estamparia fica mais para o outro quarteirão próximo da Rota…eu sou apaixonada por aquele lugar, fico só pensativa nas histórias que por ali já aconteceu