O bairro da Luz é um excelente termômetro para medir o desenvolvimento da Cidade de São Paulo no final do século 19 e início do 20. Naquela época, a capital paulista passava por profundas transformações urbanas deixando o ar colonial para trás e assumindo ares de uma nova metrópole.
Toda esta mudança era impulsionada quase que totalmente pelo dinheiro dos barões do café, que viam na cidade não só um “meio do caminho” entre o porto de Santos e suas enormes fazendas, mas também uma possibilidade de morar junto ao poder estadual e pressionar (como uma boa oligarquia) quem está no poder. E assim, ao lado das estações da Luz e São Paulo (atual Júlio Prestes), a cidade dos barões desenvolveu-se.

Praça do Patriarca no início dos anos 1930 – Cidade a todo vapor!
Mas e para quem vinha a trabalho ou a negócios em São Paulo, onde se hospedaria ? Nos inúmeros hotéis que haviam principalmente na região da ferrovias. Eram construções elegantes, com acomodações que variavam do modesto ao luxo e que viviam sempre com uma taxa de ocupação bastante alta.

Anúncio publicado no Guia Levi em 1917
Localizados especialmente na região da Luz, Santa Ifigênia e Bom Retiro, praticamente todos estes hotéis fecharam com a decadência das áreas próximas as velhas estações ferroviárias. Apesar disso a grande maioria dos edifícios que abrigaram estes hotéis do passado estão ainda por ali, resistindo ao tempo e ao descaso.
Estabelecido na esquina das ruas do Triunfo e Gusmões, o Grande Hotel Bristol foi um dos importantes hotéis paulistanos que estavam próximos as duas principais estações ferroviárias centrais da cidade, Luz e Júlio Prestes.
Fundado na segunda metade da década de 1910, o Bristol foi construído em um estilo arquitetônico típico das mais belas edificações parisienses, o neoclássico. Na parte do teto diante da entrada principal do hotel, uma grande cúpula transmite um charme todo especial ao edifício e, no último andar, as mansardas adornam a fachada. No total, o hotel possuía 69 apartamentos e já tinha elevador.
Seu primeiro proprietário foi A.Sitter, que já era bastante conhecido na capital paulista por ter sido diretor da famosa Rotisserie Sportman, também na reigão central da cidade. Pouco tempo depois a propriedade passou a pertencer a Angelo Gabrilli & Cia.
Depois de anos de glória, o charmoso Bristol foi sofrendo junto com a decadência da região de Santa Ifigênia. Vendido nos anos 1940, teve seu nome mudado para Hotel Escala. Anos depois o hotel foi fechado, situação que já se estende por algumas décadas.
Atualmente, o imóvel do antigo hotel encontra-se em péssimo estado de conservação. Mesmo tombado, o prédio apresenta sérios problemas em sua fachada e estrutura, frutos de anos e anos de descaso e de ocupações irregulares nos andares superiores. No térreo, por muitos anos funcionou uma serralheria.
Uma de suas principais características arquitetônicas, sua magnífica cúpula, ruiu anos atrás. Suas mansardas estão muito deterioradas.
Mesmo sendo um prédio muito representativo para a história da cidade, não se vê nenhuma movimentação do poder público em restaurar e preservar o edifício. No entorno do hotel existem muitas outras construções históricas em estado de conservação igual ou pior que o velho hotel.
Confira mais fotos (clique na miniatura para ampliar):
CURIOSIDADES:
Um hotel tão bem localizado no centro paulistano e com uma trajetória tão longa, certamente já foi palco de acontecimentos dos mais variados. Separamos abaixo duas ocorrências que encontramos que envolve o Hotel Escala.
A primeira é uma tragédia envolvendo um funcionário de manutenção que morreu dentro do elevador do hotel, quando o cofre que estavam transportando de um andar superior para o térreo tombou, esmagando o crânio do pobre trabalhador:

Diário Nacional – 30/12/1927
O outro ocorrido é um caso de assédio de menor feito por um hóspede do hotel contra uma garota. Chama a atenção que a vítima tinha à época 18 anos, o que hoje não se caracterizaria como um atentado a uma menor de idade.

O Combate – 26/04/1919
Bibliografia consultada:
- O Estado de S. Paulo, Almanach para 1916 – pp 448
- O Combate – Edição 01179 – 26/04/1919 – pp 2
- Diário Nacional – Edição 00146 – 30/12/1927 – pp 1
- Diário Nacional – Edição 00643 – 06/08/1929 – pp 14
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