Muita gente escreve para o São Paulo Antiga querendo saber a história de algum imóvel que existe pela cidade. Sempre que recebemos uma mensagem dessa, fazemos o possível para levantar a história do lugar para esclarecer a curiosidade do leitor, que muitas vezes não é só dele, mas também de muitos outros.
E um imóvel que sempre nos perguntam a respeito é este lindo galpão que existe nos números 460 e 474 da Alameda Eduardo Prado.
Patrimônio histórico paulistano, esta grandiosa construção em tijolos é do início do século 20. Há muitas histórias a respeito do que teria sido originalmente esta, mas boa parte delas são infundadas. Uma que se fala bastante é que o imóvel foi originalmente uma garagem de bondes, o que nunca ocorreu.
Um antigo morador da região nos disse que quando ele era garotinho o local era uma garagem de calhambeques e também fazia reparos em automóveis. Apesar de não podermos afirmar totalmente que ele está correto, pesquisando em anúncios de jornais das década de 1920 e 1930, descobrimos uma publicidade que pode atestar a declaração:
A numeração do anúncio diz Alameda Eduardo Prado 37, enquanto o galpão ostenta os número 460 e 474, contudo a numeração paulistana era diferente naquela época. É possível que realmente o local tenha sido uma garagem e oficina.
No passado poucas casas e apartamentos tinham garagens e muitos proprietários de automóveis e motoristas de praça valiam-se de grandes garagens para guardar seus veículos.
Na final da primeira metado do século 20, o imóvel teve uma outra destinação a qual foi possível verificar e atestar. Em meados da década de 50, o armazém da alameda Eduardo Prado foi alugado para o conhecido magazine paulista “A Exposição Clipper”. No local funcionava não só o depósito, mas também almoxarifado, departamento de entregas, escritório de compras e, no piso superior, a diretoria da firma.
A Exposição Clipper era a junção de duas redes importantes do passado: A Exposição e Clipper. São magazines de uma época que a cidade não possuía shopping centers, mas tinham essas grandes lojas que faziam a alegria do consumo. Casa Alemã, Lojas Clipper, A Exposição, Mesbla e Mappin eram as mais conhecidas delas.
A Clipper, inclusive, é conhecida pela criação de uma das datas que adoramos comemorar, no dia 12 de junho. O “Dia dos Namorados” foi uma criação do publicitário João Dória para alavancar as vendas da rede. É bem possível que nesta época do ano este armazém ficasse bem movimentado. Sua loja mais famosa ficava no Largo Santa Cecília, sendo que o prédio ainda existe e hoje é uma grande agência bancária.
Com o fim da “A Exposição Clipper” o galpão ficou vazio, mas sua excelente localização e estrutura fazia com que ele logo fosse rapidamente ocupado. No início da década de 90 o local estava sem uso e foi palco de um evento que embora na época não tenha chamado tanto a atenção da imprensa, foi marcante. O armazém abrigou a primeira “rave” de música eletrônica de São Paulo, em 1993.
Chamada de L&M Rave (L&M é o nome do patrocinador, uma marca de cigarros) o evento reuniu nomes da música eletrônica, a época nem tão famosos, que posteriormente se tornaram um sucesso. Em maio de 1993, figuras hoje lendárias, como Moby, Mark Archer e Mau Mau tocaram no lugar, que ficou lotado. O evento, que ainda ocorreu em outras capitais brasileiras foi tão importante que posteriormente virou tema de um documentário (assista-o no final deste artigo).
Absolutamente preservado, o imóvel funciona atualmente como armazém.
Veja mais fotos do galpão (clique na foto para ampliar):
Documentário “Raving Brazil” que foi gravado, entre outros lugares, neste galpão:
CIA AUTO LUX
Por um breve período de tempo o local também serviu como sede de uma importadora de peças e assistência mecânica de veículos da marca Auto Union.
Comentarios